Como vamos viajar? Os impactos da pandemia em aviões, fronteiras e turismo
Setembro marca os seis meses desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o novo coronavírus como pandemia.
De lá para cá, o mundo do turismo foi seriamente afetado pela covid-19, que causou fechamentos de fronteiras internacionais, cancelamentos massivos de voos, mudanças drásticas nos protocolos sanitários dos aeroportos e gerou muitos outros impactos que alteraram (e devem mudar por um bom tempo) a dinâmica das viagens por todo o planeta.
Turistar, em muitos aspectos, ficou diferente. A seguir, veja algumas das principais consequências que a pandemia teve sobre o turismo dentro do Brasil e ao redor do globo.
Mudanças nos aeroportos
A dinâmica dos aeroportos ao redor do planeta mudou consideravelmente por causa da pandemia: estações de álcool em gel, marcações no chão para manter a distância entre passageiros, pessoas de máscara, funcionários de limpeza trabalhando incessantemente e procedimentos de aferição de temperatura começaram a fazer parte da paisagem destes locais.
O aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, por exemplo, informa que "os passageiros passaram a ter a temperatura corporal aferida por câmeras e termômetros no controle de acesso ao embarque. Se um passageiro tiver febre a partir de 37,8ºC, ele será convidado a ir ao posto médico do aeroporto. E, se apresentar outros sintomas relativos à covid-19, os paramédicos recomendarão a ida a um hospital público ou particular de sua preferência, antes de seguir viagem".
Entre outras medidas adotadas pelo aeroporto paulista estão "a adoção de sinalização de solo para orientar o distanciamento entre as pessoas nos locais de inspeção para embarque e imigração, abastecimento constante de dispensers de álcool gel em pontos com maior movimentação de passageiros e aumento da frequência de limpeza nas áreas comuns do aeroporto".
E, no exterior, também ocorreram mudanças.
Responsável por servir Singapura (um dos principais pontos de tráfego aéreo da Ásia), o aeroporto de Changi adotou robôs para trabalhar na higienização de seus espaços internos: as máquinas limpam constantemente o chão de lugares como os terminais de embarque, tudo com o objetivo de evitar a disseminação da covid-19.
Já os espaços públicos do Hartsfield-Jackson Atlanta International Airport, que serve a cidade norte-americana de Atlanta (e que, nos últimos anos, foi o aeroporto mais movimentado do mundo, com mais de 100 milhões de passageiros anuais) também ganharam mais de 300 estações de desinfetante para as mãos e, no chão, foram colocadas sinalizações de distanciamento social para os passageiros.
Testes de covid-19 antes do embarque
E a pandemia deve continuar mudando o ambiente dos aeroportos ainda por um bom tempo. Neste dia 22 de setembro, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) informou estar trabalhando para que "testes de covid-19 rápidos, precisos e de baixo custo sejam feitos em todos os passageiros aéreos antes do embarque", com o objetivo de restabelecer a conectividade aérea global.
A entidade afirma que, atualmente, "as viagens internacionais estão 92% abaixo dos níveis de 2019".
"A saída para restaurar a liberdade da mobilidade entre as fronteiras é o teste sistemático de covid-19 de todos os viajantes antes do embarque. Assim, os governos possuirão a confiança necessária para abrir suas fronteiras sem modelos de risco complicados com mudanças constantes nas regras de viagens. O teste de todos os passageiros garante às pessoas a liberdade de viajar com confiança", explica Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da IATA.
Termômetros e máscaras nas companhias aéreas
As companhias aéreas tiveram que realizar uma série de adaptações em suas operações por causa do coronavírus, exigindo que passageiros começassem a usar máscaras a bordo, verificando constantemente a saúde de seus funcionários e criando novas normas higienização para as aeronaves.
A Azul, por exemplo, informa que, entre outras medidas, começou a medir a temperatura de seus tripulantes antes do início de cada turno de trabalho, tornou obrigatório o uso de máscara para passageiros e empregados e, seguindo recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), passou a realizar o desembarque por fileiras para não causar aglomerações.
A Emirates, por sua vez, também afirma que seus tripulantes têm trabalhado com equipamentos de proteção individual (que incluem máscaras e luvas) e que baniu, pelo menos por este momento, as revistas de bordo e outros materiais impressos de leitura de seus voos.
Já a Air France informa que, durante a pandemia, "implementou procedimentos especiais de desinfecção de cabine em larga escala, incluindo a pulverização regular feito com um produto virucida".
Soluções da fabricante de aviões
Além das companhias aéreas, a fabricante de aviões Boeing teve que se mexer para se adaptar à nova realidade imposta pela covid-19.
No último mês de agosto, a empresa anunciou ter desenvolvido um bastão de luz ultravioleta que seria capaz de eliminar 99,9% de agentes infecciosos no interior dos aviões.
De tamanho compacto e operados manualmente por equipes de higienização, estes instrumentos, quando projetados sobre a superfície, esterilizam locais como mesas de refeições e assentos a bordo.
Segundo a Boeing, o bastão pode começar a aparecer nas aeronaves comerciais já no final de 2020.
E não é só isso: em breve, é possível que os passageiros encontrem toaletes diferentes em muitos aviões. Isso porque a Boeing desenvolveu um banheiro equipado com luz ultravioleta capaz de passar por um processo de desinfecção automático após cada utilização (e que eliminaria 99,9% dos germes de suas superfícies em cerca de três segundos). Entretanto, ainda não há data definida para esta novidade ser implantada nos jatos.
Brasileiros presos no exterior
Ao causar cancelamentos de voos e fechamentos de fronteiras internacionais, a pandemia deixou dezenas de milhares de viajantes brasileiros presos em países estrangeiros.
O ministério das Relações Exteriores do Brasil informa que, "desde o início da pandemia, prestamos toda a assistência possível para realizar o retorno dos brasileiros que solicitam repatriação. Até o momento, foram repatriados com o apoio do Itamaraty mais de 38.800 brasileiros, em operações que incluíram a contratação direta de voos fretados ou o apoio institucional de nossa rede de embaixadas e consulados".
O ministério estima que "menos de 500 brasileiros ainda se encontrem retidos no exterior em razão da pandemia, aguardando repatriação".
Criação de selos de segurança
A pandemia fez com que alguns países criassem selos de segurança, que estão sendo outorgados a empreendimentos turísticos considerados protegidos contra o coronavírus. O objetivo da iniciativa é fazer com que as pessoas se sintam seguras para frequentar estes lugares e, assim, reativem o turismo local.
Portugal, país que teve atuação durante a pandemia elogiada, criou o selo "Clean & Safe", dado a negócios turísticos de seu território (como hotéis e restaurantes) que tenham implementado protocolos específicos de combate à covid-19. Já o Reino Unido deu origem, com o mesmo propósito, ao selo "We're Good to Go".
E o governo brasileiro elaborou o chamado Selo Turismo Responsável, também concedido a hotéis, parques temáticos, parques aquáticos e outros empreendimentos turísticos nacionais que estejam seguindo uma série de medidas sanitárias para combater o coronavírus.
Segundo o ministério do Turismo, mais de 22 mil negócios brasileiros já receberam o selo, que pode ser exibido em locais como seus sites de internet, fachadas e áreas de recepção.
Nesta página, é possível encontrar o nome de todos os empreendimentos do país que receberam o certificado.
Um mundo mais fechado
O coronavírus deixou o mundo mais fechado, impedindo que, pelo menos até este momento, pessoas de várias nacionalidades entrem em países estrangeiros.
Antes donos de um dos passaportes mais poderosos do mundo, turistas dos Estados Unidos, por exemplo, estão atualmente impedidos de ingressar em diversos lugares do globo, como grande parte da Europa, Canadá e Japão (tudo por causa dos altos níveis de infecção por coronavírus na terra da Estátua da Liberdade).
Algo parecido ocorre com o Brasil: por conta do alto número de infectados pela covid-19 por aqui, turistas brasileiros não podem viajar nos dias de hoje para locais como os próprios Estados Unidos e grande parte do território europeu. E há casos de estudantes brasileiros que tiveram que fazer quarentena na Sérvia e no México para conseguir entrar nos EUA.
Já ao entrar no Reino Unido, viajantes do território verde e amarelo são obrigados a fazer uma quarentena de 14 dias logo após o desembarque.
Novas tendências de turismo
Com a necessidade de evitar aglomerações durante a pandemia, ganhou força uma modalidade bem específica de passeio turístico, chamada, em inglês, de "isolationist travel" (que pode ser traduzido como "viagem de isolamento").
O termo designa jornadas feitas em lugares remotos — e geralmente com fartura de natureza e poucas pessoas no horizonte. E trata-se de uma tendência que parece estar recebendo adeptos no Brasil.
Lorena Peretti, CEO da empresa turística Minds Travel (que vende pacotes de viagem nacionais e internacionais), diz que, neste ano, "vimos pela primeira vez a tendência de procura por lugares mais isolados".
E, no território brasileiro, há muitas opções de destinos com este perfil, como os parques nacionais administrados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) — entre eles, o Parque Nacional de Aparados da Serra (RS), o Parque Nacional de Brasília (DF), o Parque Nacional da Serra Geral (RS) e o Parque Nacional da Tijuca (RJ).
São todos locais nos quais o turista pode realizar longas caminhadas ao ar livre, admirar cachoeiras e se refugiar em áreas espaçosas onde não há muita gente (mas, por conta da pandemia, verifique, antes da visita, se os parques estão abertos. Eles podem fechar ou ter horários alterados por causa da covid-19).
Acampar, por sua vez, é outra ótima opção para uma viagem de isolamento. A Associação Brasileira de Campistas (Anacamp) calcula que, no país, existam mais de 3 mil pontos de camping, em locais como praias, zonas de montanhas e áreas rurais.
E o cicloturismo é também um tipo de viagem que pode levar a pessoa a lugares lindos e isolados. No Brasil, locais como a Estrada Real (MG), o Vale Europeu (SC), a Floresta Nacional de Brasília (DF) e a cidade de Camocim (CE) abrigam belas rotas para passeios de bicicleta.
Trabalho e viagem ao mesmo tempo
Hotéis no Brasil e no exterior também começaram a adotar procedimentos de limpeza mais rígidos, a oferecer álcool em gel para os clientes e a alterar muitos de seus serviços mais tradicionais: o famoso café da manhã em esquema de bufê, por exemplo, que sempre foi um ponto de aglomeração de hóspedes, desapareceu de muitos estabelecimentos hoteleiros.
Além disso, durante a pandemia, vários hotéis brasileiros começaram a ganhar espaços de trabalho e estudos, para atrair pais e filhos que estejam fazendo home office e aulas à distância - e que queiram sair um pouco de casa para uma viagem de lazer.
Este tipo de serviço está sendo chamado de "resort office" e permite que o hóspede curta a estrutura do hotel (que pode incluir piscina, quadras esportivas e áreas verdes) ao mesmo tempo em que cumpre suas obrigações profissionais e escolares.
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