Brasileiros nos EUA revelam o que ninguém conta sobre viajar com motorhome
A pandemia do novo coronavírus foi um empurrão para que o casal Alessandra Horn, 31 anos anos, e David Reis, 33, realizasse uma das maiores aventuras de suas vidas: atravessar os Estados Unidos em um motorhome. Por 40 dias, eles cruzaram 11 estados e percorreram 12 mil quilômetros entre Los Angeles, na Califórnia, e Miami, na Flórida.
Descobrimos que o país é exatamente o que os brasileiros veem na sessão da tarde, parecia que a gente estava dentro de um filme", conta David.
Há quase dois anos morando em Los Angeles, onde ela trabalha como produtora e ele, como diretor de fotografia, a pandemia os fez encarar uma decisão difícil.
Em maio, mais ou menos dois meses depois do início da quarentena, seus trabalhos foram cancelados, visto que a maioria dos sets e produções foram temporariamente suspensos. Com o dólar batendo R$ 6 na época, as economias poupadas no Brasil para momentos de emergência seriam consumidas em pouco tempo.
"Tínhamos que decidir entre ficar em LA só perdendo dinheiro, porque não poderíamos trabalhar, nos mudar para um estado mais barato, voltar para o Brasil ou fazer algo fora do óbvio", diz David. "Voltar para o Brasil ou mudar para outro estado significaria abrir mão da carreira pela qual batalhamos em Hollywood."
Escolheram, então, apostar alto, e usar o tempo ocioso para tirar do papel um projeto antigo de documentar a cultura norte-americana através de personagens que a simbolizam. Uma cowgirl no Texas, um blueseiro em Nova Orleans, um Xerife de cidade do interior? Para encontrá-los e entrevistá-los, teriam que percorrer o país, e aí veio o segundo dilema: como fazer isso em plena pandemia?
"Chegamos à conclusão que motorhome seria perfeito, pois poderíamos ficar em isolamento ao dispensar idas a restaurantes e pernoites em hotéis", diz Alessandra.
Logo no primeiro dia na estrada, perceberam também que o próprio meio de transporte é um dos grandes símbolos da cultura americana. "O país é muito preparado para viagens terrestres, especialmente com RV [como o veículo é mais conhecido por lá], e a experiência mais contundente de conhecer os EUA só se dá por estrada, pegando chão mesmo", ressalta Alessandra.
O que ninguém conta sobre viajar de RV
Mas nem tudo são flores quando se viaja carregando uma pequena casa. "Ninguém te conta nada sobre como é viajar de RV", brinca Alessandra.
Existe toda uma estrutura de encanamento, esgoto, é preciso tempo e paciência para se dedicar a ele."
E é caro: só o aluguel do veículo, que o casal conseguiu graças a uma parceria com uma empresa de motorhomes, custaria entre US$ 12 e US$ 15 mil pelo período pelos 40 dias - lembrando que existem infinitos tipos e modelos deste tipo de veículo e o preço varia também conforme o ano, se tem ar condicionado e etc.
Foi também um desafio para o relacionamento. "Pensamos em sair um pouco de casa para não ficar mais tanto juntos, e de repente estávamos a menos de um metro de distância um do outro o tempo todo", diz Alessandra. Juntos há 16 anos, confessam que a primeira semana foi um pouco caótica.
As vantagens, porém, compensam. "É uma liberdade muito grande, e te dá o conforto e a tranquilidade de estar em casa", diz David. Para deixá-lo ainda mais com cara de lar, decoraram o veículo com colagens, plantas, cartões postais dos lugares por onde passavam e post its (afinal, era uma viagem também de trabalho).
Por causa da pandemia, muitos lugares turísticos estavam fechados. Ao mesmo tempo, isso facilitou o trajeto, visto que os estacionamentos de motorhome, que costumam ser disputados, estavam vazios. E, no fim, o casal percebeu que o legal mesmo era "se perder por aí", como repetiam constantemente durante a viagem, e explorar principalmente as cidades pequenas.
Lições para a vida
A maior surpresa foi a minúscula Circleville, em Utah, uma cidade no meio de montanhas com 483 habitantes. Em tese, seria apenas uma passagem para descanso entre parques nacionais a caminhos de Denver. No fim, ficaram quatro dias. "As pessoas mais interessantes, com histórias mais legais e melhores locações estão nas cidades pequenas", conta David. "Mas é muito raro que algum turista que venha aos EUA vá a um lugar como Circleville."
Eles também se surpreenderam com a solidariedade na estrada. O próprio trajeto, em zigue-zague, foi indicado por outra viajante, que tinha muita experiência viajando com motorhomes e conhecia as melhores rotas. "Passamos por várias pessoas nos 40 dias que nos estenderam a mão, vimos um lado mais humano dos americanos, que não tínhamos visto até agora", diz David.
E aprenderam que, na estrada, a lei mais respeitada é a do "passe adiante", resposta que recebiam quando perguntavam como podiam retribuir o favor. "Foi legal que, mais para o fim da viagem, foi nossa vez de responder 'passe adiante' quando ajudamos uma pessoa", observa Alessandra.
Eles afirmam ter se sentido profundamente transformados pela aventura. Primeiro, porque as distâncias parecem ter se encurtado. "Ir a São Francisco, que fica a seis horas de carro, virou um pulinho", brinca David. E, principalmente, porque viram um lado do país que jamais imaginariam conhecer. "Abriu nossa mente para o resto da vida", concorda o casal.
Agora, já compartilham dicas com amigos e planejam aonde levar familiares e amigos quando todos estiverem liberados para viajar — o que provavelmente só vai acontecer depois que o documentário, que motivou toda a empreitada, for lançado em dezembro.
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