Cresce busca por aluguel de temporada, mas é preciso cuidado na pandemia
Mais de seis meses após a declaração de pandemia do novo coronavírus, em março, cada vez mais brasileiros que ainda estão reclusos em casa como forma de conter os avanços da covid-19 cogitam fazer suas primeiras viagens de desconfinamento - mas sem abrir mão da segurança, é claro.
Para muitos, a escapada ideal na pandemia seria para um destino não muito distante de casa, acessível por via rodoviária, em hospedagens que lhes permitissem seguir em certo isolamento, com o máximo de distanciamento social possível.
Não à toa, o crescimento das buscas e reservas em sites e plataformas de aluguel de temporada vem sendo constante nos últimos meses. Alguns destes endereços têm recebido reservas desde o começo da pandemia, em geral de pessoas que não buscavam nenhum tipo de atividade turística, mas queriam simplesmente seguir isoladas por um tempo em um endereço que não fosse sua própria casa.
Uma pesquisa da Booking.com (que também possui uma divisão de aluguel de imóveis de temporada) feita antes da pandemia já apontava o desejo por acomodações não-tradicionais (casas, apartamentos, vilas, chalés) em 40% dos viajantes brasileiros. Os números cresceram mais ainda durante a pandemia.
O Airbnb, que observou ainda em maio um aumento de 150% na procura por imóveis em destinos a até 300 quilômetros de distância dos grandes centros urbanos, aponta a tendência de buscar casas inteiras no campo e em pequenas cidades de praia, com o desejo de ficar mais perto da natureza.
Já na VRBO (plataforma antigamente conhecida como Alugue Temporada no Brasil), a procura por imóveis de temporada em junho já foi 120% maior que em maio, incluindo busca por destinos como Bertioga, Campos do Jordão, Petrópolis, Atibaia, Ipojuca e Cabo Frio.
Mas é seguro alugar na pandemia?
Ao mesmo tempo que sites e plataformas vêem as buscas dispararem nestes meses, nem todas se convertem em reservas no final das contas.
Muitas pessoas afirmam ter receios em alugar esse tipo de imóvel durante a pandemia, pois os mesmos não estariam sujeitos aos mesmos rigores e fiscalização que hotéis, resorts e pousadas.
"Temos lido muito sobre os novos protocolos dos hotéis no Brasil, mas como saber se uma casa ou chalé está realmente levando a sério o tipo de limpeza que a pandemia exige?", questiona o economista André Ribeiro, de Salvador, que ainda não se sente seguro para alugar um imóvel para escapar.
Vamos acabar fechando nossa primeira viagem da quarentena com uma pousada que já conhecemos e confiamos".
É fato que não há nenhum tipo de fiscalização efetiva do setor e nem todas as plataformas e sites têm protocolos oficiais bem definidos. Das grandes plataformas internacionais de aluguel de temporada, o Airbnb foi o primeiro a criar um guia padronizado no segmento, ainda no começo da pandemia e, nesta quarta (7), lançou práticas de segurança contra covid para anfitriões e hóspedes.
Embora não haja fiscalização in loco, as orientações abrangem intervalos mínimos de 24 horas entre reservas e certos padrões de limpeza, e "certificam" as propriedades que afirmam seguir o protocolo.
Já a Booking.com passou a dar maior visibilidade às informações sobre higiene e limpeza nos anúncios das propriedades e incluiu o novo filtro de pesquisa "medidas de saúde e segurança", que reúne propriedades que afirmam estar seguindo as orientações da empresa para limpeza de seus espaços.
A VRBO, por sua vez, afirma que monitora atentamente as recomendações da Organização Mundial da Saúde e orienta os proprietários parceiros que sigam as mesmas, fornecendo-lhes informações constantes sobre as melhores e mais seguras práticas para higienizar e desinfetar os imóveis.
"É fundamental que haja pelo menos um dia livre entre hóspedes diferentes para arejar bem o imóvel e fazer a limpeza realmente adequada para este período", concorda Paula Bicudo, médica do Hospital Universitário da USP.
A arquiteta Tatiana Marques, de São Paulo, é proprietária de casa em Juquehy, SP, disponibilizada para aluguel de temporada através do Airbnb. Ela preferiu liberar o imóvel para alugar somente a partir de agosto último e conta que a plataforma ofereceu uma espécie de treinamento virtual para cada anfitrião aprender como limpar e manter os imóveis corretamente durante a pandemia.
Ao final do treinamento tinha até uma espécie de questionário para ver se o anfitrião tinha aprendido mesmo", conta.
Tatiana, que sempre teve por norma lavar absolutamente tudo da casa entre hóspedes diferentes, agora tomou também o cuidado de espaçar mais as reservas, deixando um período de quatro dias entre elas para maior segurança - e sua funcionária também não entra mais no imóvel enquanto o mesmo estiver com hóspedes.
"Sempre enviei aos hóspedes um guia com todas as informações e orientações da casa, e agora incluí também no material uma listagem de mercados e restaurantes que fazem delivery de produtos e refeições durante a pandemia", diz.
Medidas que tranquilizam
A professora e bióloga Renata Campos, de Belo Horizonte, teve duas experiências positivas com aluguel de temporada na pandemia. Alugou um chalé na Serra da Moeda para comemorar o aniversário de namoro em um final de semana e gostou da experiência. "Levamos álcool para desinfectar uma coisa ou outra e levamos também tudo de casa para cozinhar. Queríamos seguir isolados".
Renata também vem dividindo há vários meses com uma amiga o aluguel de uma outra casa na Serra do Cipó, região de cachoeiras também nos arredores de BH. As duas "revezam" as estadias em diferentes semanas da quarentena para que ambas possam mudar de cenário de vez em quando, com segurança.
Ela leva tudo o que vai usar, inclusive o computador, e trabalha online de lá mesmo. "Às vezes nem saio da casa. Agora que as cachoeiras reabriram, talvez as visite durante a semana. Também cozinhamos na casa sempre, não temos coragem de ir aos bares e restaurantes nesta fase", conta.
Em São Paulo, Emília Fernandes também teve boa experiência em sua primeira escapada da quarentena. Alugou recentemente um chalé em Aiuruoca, Minas Gerais, cujos proprietários garantiam alguns dias de intervalo entre um hóspede e outro.
Na confirmação da reserva, a proprietária enviou uma lista de observações e procedimentos tão extensa e completa que Emília se sentiu segura inclusive para usar as roupas de cama e banho da casa. "A exigência foi grande com os hóspedes, também, e vi isso como uma coisa positiva. Tudo isso somado ao fato do lugar do imóvel ser tão ermo me tranquilizou muito, não fiquei com medo em momento nenhum".
Prejuízo
Por outro lado, a carioca Constance Escobar não teve a mesma sorte. Alugou um chalé em Itaipava no site de uma imobiliária local para passar o final de semana seguinte na serra e os proprietários exigiram pagamento integral antecipado.
Ela fez o depósito mas, 48 horas depois, sua avó foi internada em estado grave e ela pediu para postergar a reserva e usar o crédito do valor já pago em uma outra data. O proprietário se negou e simplesmente não respondeu mais seus emails seguintes até agora.
Tenho tido a impressão de que hotéis e casas de temporada têm radicalizado nas políticas de cancelamento, que voltaram na reabertura com sangue nos olhos. E quem leva a pior é sempre o consumidor".
Atenção redobrada
Usuários frequentes das plataformas de aluguel de temporada ressaltam a importância de conferir a idoneidade dos sites e ler atentamente as avaliações e comentários de hóspedes recentes do imóvel antes de se decidir.
"É importante ler as avaliações recentes que sejam certificadas, em plataformas que só permitam opiniões de quem realmente se hospedou no local", destaca o curitibano Caio Gozzi, que já alugou dois imóveis diferentes durante a pandemia.
A dra. Paula Bicudo dá outros conselhos também para a hora da escolha:
- dar prioridade a imóveis bem arejados e com área externa;
- levar sua própria roupa de cama e banho;
- lavar todos os utensílios e louças da casa antes de usar;
- alugar o imóvel somente com pessoas que estejam de fato passando a quarentena juntas.
"Duas famílias diferentes alugarem juntas um mesmo imóvel só é seguro se as duas famílias estiverem realmente isoladas na quarentena. Mesmo assim, neste caso, é preciso garantir que pelo menos cada família utilize um banheiro diferente na casa alugada", aconselha.
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