Sozinha na Síria e a bordo de trem na Mauritânia: brasileira foge do óbvio
Com apenas 26 anos, Ana Flávia Vieira gosta de conhecer lugares pouco explorados, como mostra em seu perfil no Instagram. Sozinha, a brasileira já viajou pela Síria, cruzou a Mauritânia em cima de um trem carregado com minério de ferro, percorreu o Irã e atravessou a América Central por terra.
Com cerca de 80 países visitados, ela figura, como uma das mulheres brasileiras que mais viajaram pelo mundo no site Nomad Mania (que exibe rankings de pessoas que mais percorreram o planeta).
Ao Nossa, Ana conta quais foram as experiências mais fascinantes que já viveu em suas jornadas e como consegue se manter na estrada por tanto tempo.
Menos guerra, mais cultura
Em 2018, depois de já ter realizado viagens de curta e média duração fora do Brasil, Ana deu início a uma gigantesca jornada que a levaria para diversos destinos da África, Oriente Médio e Europa. Em um total de 508 dias, ela esteve em 47 países, 129 cidades e percorreu quase 39 mil quilômetros por terra.
Entre os destinos visitados está um território que é, hoje, um dos lugares mais temidos do mundo: a Síria.
"Consegui o visto sírio no Egito e entrei lá através da fronteira com a Jordânia", conta.
Mas eu não queria fazer turismo de guerra e ver destruição. Minha intenção era explorar a cultura e a culinária do país, que tem muitas maravilhas".
A brasileira visitou Damasco, a cidade litorânea de Tartus (banhada pelo mar Mediterrâneo) e a vila de Marmarita, perto da qual fica o famoso castelo Krak des Chevaliers, da época das Cruzadas.
Ana conta que, em suas andanças, não se sentiu ameaçada: "a Síria é muito grande e, na época, os fronts de guerra estavam longe de onde eu me encontrava. E eu só ia a lugares que eram considerados seguros".
Segundo a viajante, os nativos a receberam muito bem: ela se hospedou gratuitamente em casas de nativos e vivenciou com os locais o Ramadã - período do ano em que os muçulmanos jejuam entre o nascer e o pôr do sol - ao preparar a refeição do começo da noite.
O conflito armado, entretanto, não esteve completamente ausente.
"Praticamente toda pessoa na Síria tem uma história envolvendo a guerra. E, viajando pelo interior do país, cheguei a ver edifícios destruídos", lembra Ana.
Sobre um trem na Mauritânia
Nesta mesma viagem, Ana teve a oportunidade de conhecer o país no noroeste africano. "Lá, existe uma mina gigantesca, de onde sai um trem que atravessa todo o país para levar toneladas de minério de ferro até um porto no oceano Atlântico", conta.
A brasileira relata que, recentemente, muitos mochileiros começaram a subir neste trem para poder cruzar a Mauritânia de uma maneira completamente única, encarapitados em seus vagões e com visão panorâmica para o deserto do Saara. E Ana fez o mesmo, acompanhada de um amigo mochileiro.
Ffoi uma viagem de 14 horas no topo de um vagão do trem, carregado com minério de ferro. Atravessamos o Saara e, à noite, ficamos sob o céu mais estrelado que já vi na vida".
Fora do óbvio
Ela também ficou fascinada com o Irã, onde era convidada constantemente para jantar na casa das pessoas e foi chamada até para ir em um casamento. Além disso, lembra do país com uma variedade de paisagens que só quem visitou sabe.
"É um lugar com belezas deslumbrantes, com uma arquitetura extremamente bonita e paisagens variadas. No norte, você encontra montanhas e neve. No sul, há as praias do Golfo Pérsico. E tem também desertos, cachoeiras, cidades grandes e muitos lugares históricos".
Ao lembrar-se das viagens que realizou na vida, Ana tem dificuldade para enumerar todas as experiências inusitadas que já viveu.
Nadei em um lago que existe na cratera de um vulcão dormente na Costa Rica, assei marshmallows no calor da cratera de um vulcão na Guatemala, caminhei sobre o mar Báltico congelado, mergulhei com tubarões, dormi em cavernas e muito mais.
Para ela, é difícil escolher um lugar favorito no mundo. "Cidades e países visitados são como filhos, você não consegue escolher seu preferido", explica.
Como viajar tanto?
A partir de 2013, antes de fazer seus grandes mochilões, a brasileira começou a entrar em programas de voluntariado fora do Brasil, que permitiam que ela viajasse e trabalhasse ao mesmo tempo. Com isso, trabalhou em diversos países, como Hungria, Polônia e Peru.
Com um dinheiro que havia juntado, foi a vez de realizar uma enorme jornada estradeira, sem compromissos de emprego.
"Resolvi ir da Colômbia até o México por terra, passando por todos os países da América Central. Este é o que eu considero meu primeiro mochilão. Foram três meses de viagem", relembra. Depois desta experiência, ainda foi para a Bolívia e viveu um ano na Europa trabalhando como babá, período durante o qual poupou euros para empreender a viagem que iria passar pela Síria, Mauritânia e outras dezenas de países.
E a brasileira virou perita em fazer seu dinheiro durar durante as viagens.
Com espírito mochileiro, ela usa constantemente o couchsurfing para encontrar estadia nos locais que visita, já trabalhou em troca de hospedagem e nunca se importou em abrir mão de conforto para poder ficar mais tempo rodando por aí.
Sempre que possível, Ana evita tomar aviões e tenta usar transportes terrestres - mais econômicos. "Às vezes, em viagens noturnas, dá até para dormir no ônibus e não gastar com diária de hotel", relata.
E, na hora das refeições, ela costuma preparar sua própria comida ou dar prioridade para restaurantes frequentados pela população local, geralmente mais baratos.
"Não é perigoso ser mulher e viajar"
"É perigoso ser mulher em qualquer situação, em qualquer lugar do mundo", diz ela.
Viajante experiente, Ana acredita que, na estrada, as mulheres devem tomar os mesmos cuidados que tomam no seu dia a dia.
"Também é importante se adaptar à cultura do destino visitado, para não enfrentar problemas. Por exemplo, se eu for à França, sei que posso ir a uma praia e fazer topless. Já no Brasil, não dá para fazer isso na praia. Em alguns países muçulmanos, vou tentar me vestir como as mulheres locais, para demonstrar respeito à cultura do lugar e não chamar a atenção. É importante ter bom senso", recomenda.
O pós-pandemia da aventureira
A brasileira quer realizar novas jornadas para destinos remotos em breve. Passando uma temporada em Londres neste momento de pandemia, ela já possui um plano traçado: "pretendo ir para países como Paquistão, Afeganistão e Uzbequistão e, de lá, seguir rumo ao Sudeste Asiático".
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