Mulher de Ferro, é você? Médica é 1ª brasileira a voar com mochila a jato
Dona de uma habilidade única de desafiar o perigo, Karina Oliani já fez de tudo. Mergulhou com jacarés imensos no México, caçou tornados nos Estados Unidos e fez até tirolesa na cratera de um vulcão, na Etiópia.
Mas dessa vez, essa médica e apresentadora de TV deu voos mais altos, literalmente.
Karina acaba de se tornar a primeira sul-americana a voar com uma mochila a jato ("jet suit", em inglês), uma engenhoca com cinco turbinas acopladas ao corpo (uma maior nas costas e duas menores em cada braço) que chega a 60 km/h, pesa 27 kg (sem o combustível) e tem autonomia de cerca de 10 minutos de voo.
"Foi sensacional, foi a realização de um sonho que entrou na minha vida desde que eu vi aquilo", descreve em entrevista para Nossa.
Mesmo sendo desestimulada pelo próprio inventor do "brinquedinho", Karina, como sempre, persistiu.
"Isso ainda é muito arriscado porque está em fase de testes e já tiveram várias panes mecânicas e quedas", relembra as conversas iniciais com o pai da criação, Richard Browning.
Mas para quem já subiu as duas faces do Everest e foi a primeira brasileira a escalar o K2, a montanha mais perigosa do mundo, nem o céu parece ser o seu limite.
Para que aquilo se tornasse mais uma das insanidades do currículo da médica aventureira, Karina teve que viajar até Chichester, no interior da Inglaterra, e fazer um treinamento intenso de três dias para ter controle total desse propulsor a jato com comandos em botões que são acionados nos dedos.
Nas semanas anteriores à experiência foram necessários exercícios específicos como flexão e suspensão em argolas. "Bom condicionamento físico e força muscular, principalmente no ombro, são fundamentais".
Como ela mesma explica, nos primeiros dias de treinamento foram usados mosquetão (anel metálico com gatilho) e cordas para sustentá-la, no caso de uma queda.
No último dia, o instrutor soltou a corda de segurança e deixou eu voar sozinha cerca de três metros de altura", faz questão de deixar registrado.
Porém um dos grandes riscos é a proximidade do corpo com as turbinas de onde saem jatos de fogo causados pela combustão do querosene de avião usado para dar propulsão ao equipamento.
Brinquedo (útil) de gente grande
Fundada há 3 anos por Richard Browning, um empresário inglês que passou a infância brincando com planadores com o pai, a Gravity Industries é a responsável pelo equipamento, que está em fase de testes e ainda não é comercializado.
Movida a diesel ou querosene de aviação, a invenção se baseia no princípio da aerodinâmica e funciona como um motor de carro.
No entanto, mais do que um protótipo para marmanjo com vontade de ser Homem de Ferro, a mochila a jato está sendo desenvolvida para três áreas de atuação: militar, segurança e médica.
E é nessa última aplicação que Karina vê uma revolução nos resgates em situações como acidentes graves em trilhas, problemas cardíacos e até uma possível entubação, no caso de uma parada respiratória em áreas de difícil acesso.
"Esse aparelho não é parecido com nada que já tenham inventado antes. Talvez o mais próximo seja pilotar um helicóptero" que, aliás, é outra habilidade de Karina, credenciada como pilota privada desde 2005.
Primeira médica brasileira especialista em atendimento em áreas remotas e fundadora da Medicina da Aventura, Karina acredita que o equipamento será um aliado importante para diminuir o tempo de resgate em casos de emergência.
Isso pode salvar a vida de uma pessoa. Mesmo com uma autonomia de voo curta, o resgate pode chegar em questão de minutos para dar o primeiro atendimento".
A médica lembra também que até o sistema de saúde do Reino Unido tem feito contatos com a empresa de Richard para implementar a tecnologia em seus serviços de resgate.
Devido aos altíssimos custos do treinamento, que Karina prefere não revelar valores, a experiência teve o apoio da Hapvida Saúde, uma empresa de plano de saúde, e da marca de roupas John John Denim.
Eu estava falando com o fundador há mais de um ano. Cheguei até a sonhar que estava voando com esse equipamento".
Daí veio um grave acidente em uma escalada na Jordânia, em fevereiro, que lhe rendeu 12 pinos na perna fraturada em 10 partes, seguido de uma pandemia de coronavírus que a colocou como médica na linha de frente.
Karina só não teve tempo de sonhar em ser dublê de cinema.
A experiência foi tão bem-sucedida que a equipe inglesa chegou a convidá-la para atuar como dublê feminina em filmes locais, pois nem todas as atrizes se animam em fazer cenas tão arriscadas com a mochila a jato.
"Eu gosto de ser desafiada, de sair da minha zona de conforto e sentir o frio na barriga", completa Karina com o mesmo tom animado de voz de uma criança que acaba de voar como a Mulher de Ferro.
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