De Washington a Obama, mas sem Trump: as bebidas dos presidentes dos EUA
A história dos Estados Unidos adquiriu alta graduação alcoólica assim que os primeiros colonos chegaram à América. Até mesmo o Mayflower, navio que levou os peregrinos ao Novo Mundo em 1620, era usado anteriormente no transporte de vinho e conhaque feitos em Bordeaux.
Ao se estabelecerem em Jamestown, os primeiros colonos sofreram um bocado. O autor Iain Gately escreveu em "Drink: A Cultural History of Alcohol" (sem edição brasileira), que um espião espanhol reportou que eram 300 pessoas esquálidas sobrevivendo às custas de pão de milho com peixe, sem nada para beber além de água - "o que é contrário à natureza dos ingleses".
A salvação veio quando eles descobriram que podiam produzir tabaco. Graças à exportação de fumo, navios carregados de cerveja inglesa e vinho das ilhas da Madeira e das Canárias supriam as necessidades etílicas dos colonos. A partir de 1634, por lei, todo assentamento da Nova Inglaterra, como era conhecida a região que hoje corresponde ao nordeste dos EUA, deveria ter uma taverna para receber viajantes.
Durante a expansão do país ao oeste, uma anedota dizia que, para fundar uma vila, bastava pendurar uma placa escrito "saloon" em uma árvore. Era só oferecer umas garrafas e as pessoas chegariam.
Ao longo dos séculos, os americanos criaram novos tipos de uísque, desenvolveram a coquetelaria e reinventaram o mercado de cerveja (além de terem tentado proibir o álcool, com a famigerada Lei Seca). É uma longa história.
A bebida na Casa Branca
Como não podia deixar de ser, a intimidade dos presidentes do país com as bebidas reflete essa turbulenta relação. Alguns bebiam em ocasiões especiais. Outros todas as noites (e manhãs). Uns até produziam. Lincoln ficava na água, Trump gosta de dizer que não bebe, Obama gerou meme cervejeiro e Clinton curtia um drinque tosco, pelo menos na época de estudante. Confira os mandatos em que a Casa Branca parecia um bar - e aqueles em que o bar estava fechado.
George Washington (1789-1797)
O primeiro presidente americano tinha alambiques e bebia de tudo, segundo algumas fontes, mas raramente tocava no uísque feito em suas propriedades - as versões americanas do destilado, à base de milho (bourbon) ou centeio (rye), ainda davam os primeiros passos como símbolo nacional.
Ao ser eleito, em 1789, seus apoiadores ganharam rum, cerveja e vinho. A bebida preferida de Washington era cerveja, especialmente Porter, estilo criado no Reino Unido no começo daquele século e caracterizado pela cor escura e notas torradas.
Thomas Jefferson (1801-1809)
O terceiro presidente passou uma temporada na França e voltou com 20 mil garrafas de vinho para a adega presidencial. Defendia a criação de vinhos americanos com uvas nativas e acreditava que ele era um antídoto contra os excessos da população com bebidas mais pesadas. Em 1810, homens, mulheres - e crianças - entornavam, em média, duas vezes mais uísque que cerveja.
Andrew Jackson (1829-1837)
Ao ser eleito sétimo presidente, Jackson foi acompanhado por 30 mil pessoas que tentaram chegar à Casa Branca. Aqueles que conseguiram ficaram no jardim com barris de uísque e bacias de ponche de laranja.
Durante meses, a capital ficou apinhada de forasteiros, que rapidamente acabaram com o álcool da cidade, enquanto esperavam cargos no governo como prêmio por terem votado em Jackson. A corrupção bêbada do sistema eleitoral americano foi um problema que persistiu até o século 20.
Franklin Pierce (1853-1857)
Bebia de tudo e bebia muito. Considerado o maior levantador de copos dentre os presidentes dos EUA. Ao deixar o cargo, ele teria tido:
O que um ex-presidente pode fazer a não ser ficar bêbado?".
Morreu de cirrose aos 65 anos.
Abraham Lincoln(1861-1865)
Água. Se o homem que liderou a nação durante a Guerra Civil Americana bebia algo, era muito raramente.
Ulysses Grant (1869-1877)
Vitorioso general da Guerra Civil como comandante da União (os estados do norte), Grant dava seus goles em postos de fronteira e foi acusado de ter bebido durante uma batalha decisiva - o que ele negou em uma carta à esposa. Para historiadores ouvidos pelo jornal americano "The Washington Post", Grant provavelmente era um alcoólatra funcional, capaz de passar longos períodos sóbrio. Sua bebida preferida? Champanhe.
Theodore Roosevelt (1901-1909)
Pioneiro, entre políticos, na luta pela conservação ambiental, ele gostava da flora até dentro de seu copo: colhia hortelã no jardim da Casa Branca para fazer seu amado mint julep. Também usava o drinque para atrair os membros do gabinete para jogar tênis com ele.
Mint julep de Teddy Roosevelt:
- 10 a 12 folhas de hortelã frescas maceradas com um dedo de água e um cubo de açúcar
- 2 ou 3 doses de uísque de centeio (rye whiskey)
- 1/4 de dose de conhaque (brandy)
- Ramos de hortelã, ou folhas, para enfeitar
Woodrow Wilson (1913-1921)
O presidente que comandou a nação quando a Lei Seca (1920-1933) entrou em vigor era chegado a um uísque. No caso, o escocês mesmo. Seu jingle de campanha, aliás, foi inspirado em uma marca de uísque popular no começo do século passado, segundo Will-Weber.
Wilson, é bom deixar claro, foi contra a proibição, mas seu veto foi anulado pelo Congresso. Wilson não deu mole e estocou seu bar.
Franklin Roosevelt (1933-1945)
O presidente que derrubou a Lei Seca era um admirador de um ícone que aflorou na época, os coquetéis. A Lei Seca foi um fracasso, então, para continuarem funcionando, muitos bares, na clandestinidade, investiram nos drinques elaborados, cujas cores e aromas ajudavam a camuflar o álcool.
Roosevelt era chegado a martinis, manhattans e também a um rum swizzle, considerada a bebida nacional de Bermuda, território britânico no Atlântico Norte.
John F. Kennedy (1961-1963)
Com fama de boa-vida, JFK queria e tinha o bom e o melhor. Bebia de tudo, de daiquiris a Heineken, que naquela época ainda era algo mais excêntrico, por se tratar de uma cerveja importada.
Richard Nixon (1969-1974)
Até renunciar para escapar do impeachment, Nixon era um admirador de vinhos franceses caros. Enquanto bebia Château Lafite Rothschild, cujas garrafas custam muitos milhares de reais, ordenava aos funcionários que servissem rótulos bem mais baratos aos convidados.
George W. Bush (2001-2009)
Tal qual alguns políticos que disseram ter experimentado maconha apenas na faculdade, Bush filho largou a bebida antes de tomar posse. Na Casa Branca, limitava-se a tomar refrigerantes.
Barack Obama (2009-2017)
O primeiro presidente que soube usar a internet e as redes sociais a seu favor gerou dúzias de memes, alguns envolvendo cerveja, sua bebida favorita. Em 2011, pagando do próprio bolso, Obama investiu em um kit cervejeiro e a Casa Branca passou a produzir a própria cerveja, a White House Honey Ale, que usava mel coletado no jardim presidencial.
Donald Trump (2017-)
O atual presidente americano gosta de falar que se abstém totalmente de álcool. Sua fraqueza é a Diet Coke: sempre que quer uma no Salão Oval, Trump aperta um cartunesco botão vermelho na mesa, o que já deixou algumas pessoas nervosas, achando se tratar de um "botão nuclear", segundo a revista Time.
E em 2021?
O futuro da Casa Branca promete seguir sóbrio, mesmo se o país eleger Joe Biden. Com histórico de alcoolismo na família, o candidato democrata é um abstêmio total.
A coisa muda de figura quando Kamala Harris entra em cena. A senadora da Califórnia e candidata a vice na chapa de Biden é membro de um clube de vinho e é uma grande apreciadora da bebida, segundo o jornal americano "San Francisco Chronicle".
O bar da Casa Branca
As bebidas preferidas de todos os presidentes, segundo o livro "Mint Juleps with Teddy Roosevelt":
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