Apps transformam turista em detetive e animam roteiros urbanos na pandemia
O ponto de encontro pode ser diante da pirâmide do Louvre ou em frente à Catedral de Notre-Dame, no coração de Paris. Nada de guia com microfone ou uma plaquinha para reunir o grupo de turistas. É o GPS do celular que percebe que você chegou ao local determinado e anuncia o início do passeio.
Tudo começa com um mistério, em geral, um assassinato ou o desaparecimento de alguém. A proposta é fazer um tour pela cidade enquanto se resolvem enigmas de um jogo.
Os aplicativos de caça ao tesouro propõem passeios que misturam história, cultura e uma pitada de desafio a preços módicos. A ferramenta é um exemplo de gamificação do turismo, uma tendência de experiências urbanas que ganha espaço.
Como funciona
Em frente à Catedral de Notre-Dame, um casal conta o número de reis da França que estão enfileirados na fachada. O número é a chave para o próximo indício que vai ajudar a desvendar a morte de uma adolescente no final do século 19.
O app dá novas orientações do caminho a seguir, sempre exigindo a observação atenta do entorno. O percurso vai sendo descoberto aos poucos, em meio a informações históricas do local.
O jogo leva a lugares pouco visitados não só para quem é turista. A garçonete Irina, que trabalha há cinco anos no centro de Paris, por exemplo, nunca tinha ouvido falar da romântica praça Dauphine, uma ilha de tranquilidade diante do prédio em que a rainha Maria Antonieta ficou presa e foi condenada à morte após a Revolução Francesa.
O oásis fica a menos de 500 metros do restaurante em que trabalha, confirma a jovem, e faz parte do percurso proposto pelo app Paris Mystères.
O aplicativo, com trajetos em inglês e francês, oferece também um enigma no entorno da Basílica de Sacré Coeur, em Montmartre. Cada um dos jogos custa 5,99 euros (R$ 40), o equivalente ao preço de uma cerveja em um bar da cidade e menos de um quinto do preço de um guia turístico.
Além da vantagem do preço, o usuário escolhe o horário que quer fazer segundo sua conveniência. Sabendo a distância total a ser percorrida e o número de pistas que faltam, a todo momento o usuário pode interromper a gincana e fazer uma pausa mais demorada para tirar fotos, visitar algo ou parar e retomar o desafio em um outro dia.
Outra forma de viver a cidade
Os aplicativos enriquecem o ambiente e trazem uma nova forma de experimentar o turismo.
"Com eles, você não está apenas em uma cidade com a informação do que você vê, você pode sobrepor informações de imagens, de áudio. O mundo vira um espaço híbrido", explica Adriana de Souza e Silva, especialista em jogos móveis na Universidade do Estado da Carolina do Norte, nos EUA.
A geografia da cidade muda a forma como se jogam os jogos, e o aplicativo muda a maneira como se vive a cidade."
Esta é a aposta do governo da região de Paris, que lançou em agosto um aplicativo gratuito com 30 aventuras diferentes na capital e na região metropolitana. O foco, nesse caso, são as famílias, principalmente as que moram no entorno. O Paris Region Aventure propõe roteiros para serem feitos a pé ou de bicicleta.
A cada aventura, além de uma atividade ao ar livre, as famílias vão descobrir partes da história da França e o patrimônio cultural da região.
Em vez de Pokemons, as conquistas são reis franceses, revolucionários da Comuna de Paris, a Monalisa e até o jogador Zidane. O app já foi baixado por mais de 10 mil usuários em menos de três meses.
Uma opção em tempos de covid
A possibilidade de fazer um roteiro sem interação social multiplicou o número de iniciativas privadas e públicas de aplicativos como forma de turismo durante a pandemia da covid-19.
O aplicativo Questo, criado por uma empresa romena, oferece propostas de roteiros de enigmas em diferentes cidades do mundo. Até o início do ano, o app contava cerca de 30 roteiros diferentes, concentrados na Europa. Ao longo de 2020, a empresa lançou opções em 50 novas cidades, incluindo destinos nos Estados Unidos.
Entre os novos destinos, está Pisa, na Itália, onde a agência de turismo Discovery Pisa lançou um roteiro da cidade no app para tentar contornar as restrições de distância impostas pela covid-19.
Depois da covid, percebemos que precisávamos encontrar uma forma de alcançar o público que quer evitar city tours normais.
"São pessoas que estão com medo de fazer turismo em grupo, mas ainda querem conhecer a história e as curiosidades da cidade", explica Andrea Dominguez, fundadora da agência italiana.
O novo roteiro pode ser acompanhado simultaneamente por quatro celulares e inclui uma visita a sete "maravilhas de Pisa", durante uma caminhada de cerca de uma hora e meia por 3 quilômetros no centro de Pisa. O passeio sai por 9,99 euros (R$ 65), e está disponível em três línguas: italiano, inglês e espanhol.
Questo Demo City Exploration Game from Alex Govoreanu on Vimeo.
Na Espanha, o aplicativo My Phone Tour, que oferece roteiros com guia auditivo para quase duas dezenas de cidades espanholas, começou em agosto uma experiência com o "escape game de rua". Há mistérios em Vitória, capital do País Basco, San Sebastián ou Logronho, todos com duração de cerca de uma hora e meia e gratuitos.
A possibilidade atraiu também empresas especializadas em Escape Games. Em Oxford, na Inglaterra, a empresa Treasure Hunt Oxford lançou neste verão uma proposta de aventura turística toda feita no celular dos participantes. Em tempos de distanciamento social, a empresa usa o limite de seis pessoas por grupo como propaganda: "uma forma segura de sair".
A ideia é a mesma, a diferença é que este não é um aplicativo. Ou seja, não exige acesso a seus dados, localização ou câmera fotográfica. A compra do enigma dá acesso a uma parte do site que se parece com uma tela de WhatsApp, em que as mensagens com novas pistas vão aparecendo conforme os desafios são resolvidos. O preço é de 9,99 libras por pessoa (R$ 75).
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