Marcas viajam no tempo para questionar o futuro do país no 3º dia do SPFW
A primeira exibição do terceiro dia do São Paulo Fashion Week, que comemora seus 25 anos em 2020, foi feita por Lucas Leão. Com o olhar voltado para o futuro, o estilista apresentou uma coleção de roupas totalmente digitalizada que teve como cenário um deserto, representando uma realidade do pós-mundo terreno.
"É como se tudo que a gente criasse fosse eterno", contou Lucas durante o bate-papo após a transmissão do vídeo. "A ideia é multiplicar a experiência do espectador".
O processo da moda digital, abordado pelo estilista e uma grande equipe, é o que muitos dizem ser o futuro sobre como nos vestiremos. Aqui no Brasil, Lucas dá esse passo inicial, junto a outros artistas ao redor do mundo, que estarão presentes no Brazil Immersive Fashion Week a partir de hoje.
O resgate do passado
O olhar voltado ao que experienciaremos nos próximos tempos trouxe, logo na sequência, uma atenção ao presente pela perspectiva criativa de Célio Dias, que comanda a LED.
Com 36 looks, a coleção intitulada "Brasileira", explorou as simbologias da bandeira do Brasil para questionar o atual cenário do país. Em determinados momentos do vídeo apresentado, ela aparecia inclusive sem as suas cores, como uma mensagem.
"A moda, enquanto forma de auto-expressão, deve evidenciar não apenas traços de personalidade, mas também nossa visão de mundo e posicionamentos", diz Célio.
A gente se perdeu no momento político atual. Precisamos voltar a ter orgulho de ser brasileiro"
Cèlio Dias
Misturando passarela, dança e roupas que exploram diferentes influências da cultura nacional e reforçam o design multicultural do país, o desfile celebrou ainda o "orgulho de ser brasileiro em todas as formas, cores e expressões".
Lembranças foram revisitas também pela Handred, que celebrou Copacabana, no Rio de Janeiro, com uma coleção adaptada do inverno para o verão.
"Copacabana tem um contexto histórico de moda muito importante", disse o estilista André Namitala, ao citar a homenagem nostálgica para o bairro carioca.
As confecções, boutiques, depoimentos de avós e a nostalgia do bairro, uma espécie de casa para ele, estão traduzidas nas peças da marca.
O presente imediato
Seguindo o mesmo conceito, a Misci propôs amadurecimento ao Brasil em sua estreia no SPFW: "se reconhecer para poder evoluir, pensar num futuro".
"No ano de 2020, nós ficamos frente a frente com notícias e com cenários apocalípticos que são reflexos de toda a responsabilidade resultante da confusão política e ideológica que o nosso país está passando", defende a marca.
A gravação foi realizada na região de Atafona, São João da Barra, localizado no litoral do estado do Rio de Janeiro.
Essa região é conhecida por estar sofrendo um desastre ambiental no qual o mar avança cada vez mais em direção a construções costeiras, fazendo com que a cidade perca força e vida até chegar no ponto em que é completamente destruída.
Dentro desse cenário, tivemos o intuito de abordar a destruição e o abandono do nosso país e da nossa nação".
Airon Martin, estilista responsável pela marca
O sufocamento do futuro
Encerrando o dia, surgiu João Pimenta com: "2020, o ano que em paramos de respirar".
O desfile trouxe modelos todos mascarados e com diversas sobreposições de roupas que conversam com esse conceito. A intenção foi causar claustrofobia, como o próprio estilista defendeu, e não esclarecer qual era o corpo embaixo da roupa, homem ou mulher, branco ou preto. Apenas um corpo.
Tentei transmitir nessas peças de roupa todo o sentimento que tive durante o isolamento. Essa claustrofobia que a gente está vivendo, em todos os sentidos"
João Pimenta
"Não quis mostrar a pessoa que estava usando a roupa. Quis neutralizá-lo para que todo mundo pudesse se ver naquelas produções", falou o estilista em conversa após a apresentação.
Em seu manifesto que remete a "tempos incertos", a marca questiona o papel do indivíduo no passado, presente e futuro que, de alguma forma, perdeu sua identidade embaixo de máscaras e luvas.
"Brilharam apenas os olhos, alegres ou tristes, contudo a comunicação do olhar passou a ser essencial. Este é o espírito do tempo".
SPFW: 25 anos em Nossa
Confira a cobertura completa de Nossa no São Paulo Fashion Week 25 neste link e por meio do nosso Instagram (@nossa_uol):
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