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Marketing e promessa "anti-covid": por que Maldivas é paraíso dos famosos?

Com divulgação poderosa entre celebridades e promessas de estar livre da covid-19, as Maldivas são o destino da vez - NurPhoto via Getty Images
Com divulgação poderosa entre celebridades e promessas de estar livre da covid-19, as Maldivas são o destino da vez
Imagem: NurPhoto via Getty Images

Mari Campos

Colaboração para Nossa

03/12/2020 04h00

O ano é 2020 e uma pandemia terrível assola o planeta, fazendo 1,5 milhão de vítimas fatais nos cinco continentes. A maioria da população mundial pratica o isolamento social e tem que usar máscaras. Muita gente não vê familiares, amigos ou mesmo um restaurante há quase nove meses.

Mas você acordou feliz da vida em uma ilha paradisíaca do outro lado do planeta. Passa o dia entre mergulhos em águas cristalinas de cor turquesa com incrível vida marinha, passeios de bicicleta e inúmeras outras atividades ao ar livre - sem nem lembrar que máscaras existem.

À noite, você sai normalmente para jantar em um restaurante e tomar uns bons drinques em um dos bares da ilha, e confraterniza em longos papos com outros viajantes que também estão no local - exatamente como estávamos acostumados a viver até o começo deste ano.

Ilhas Maldivas: um cenário bem distante da pandemia que assola o resto do planeta - NurPhoto via Getty Images - NurPhoto via Getty Images
Ilhas Maldivas: um cenário bem distante da pandemia que assola o resto do planeta
Imagem: NurPhoto via Getty Images

Isso poderia ser o roteiro de um filme de ficção, mas tem sido o dia a dia dos hóspedes da maioria dos principais resorts das Maldivas ao longo deste ano. Mesmo em um ano que a maior parte da população mundial não viajou nem sequer dentro de seu próprio país, o idílico arquipélago asiático no Oceano Índico vem se convertendo no grande destino de 2020 - principalmente para celebridades de todo tipo.

Um oásis de tranquilidade

As Maldivas são um dos poucos destinos abertos para qualquer turista internacional, sem restrições (brasileiros incluídos); e foram também um dos primeiros a reabrir.

Casal aproveita a praia no restort Velassaru, nas Maldivas - NurPhoto via Getty Images - NurPhoto via Getty Images
Casal aproveita a praia no restort Velassaru, nas Maldivas
Imagem: NurPhoto via Getty Images

O país composto por mais de 1.200 ilhas reabriu um julho passado e, na época, não exigia sequer obrigatoriedade de teste negativo de covid-19 - que passou a ser obrigatório desde setembro, feito no máximo 96 horas antes da chegada. Mas, fora isso, apenas reserva confirmada em hotel e uma declaração de saúde do viajante preenchida 24 horas antes da viagem são necessários para que qualquer um entre livremente no país.

Estatisticamente, as Maldivas têm hoje o novo coronavírus razoavelmente sob controle, com menos de 13 mil casos e um total de 46 mortes desde o começo da pandemia. O próprio World Travel and Tourism Council (WTTC) declarou o arquipélago como "destino seguro" em setembro passado.

Desfile de celebridades

Juliana Paes exibe café da manhã de hotel luxuoso nas Maldivas - Imagem: Reprodução/Instagram - Imagem: Reprodução/Instagram
Juliana Paes exibe café da manhã de hotel luxuoso nas Maldivas
Imagem: Imagem: Reprodução/Instagram

Desde 2019, o destino Maldivas virou uma espécie de "meca de celebridades" - brasileiras ou não. Juliana Paes, Xuxa, Bruna Marquezine, Cláudia Raia, Paulo Gustavo e a estilista Patricia Bonaldi são alguns dos nomes nacionais que passaram temporadas por lá nos últimos tempos, além de inúmeras influenciadoras.

A lista internacional de celebridades é imensa, incluindo nomes como Salma Hayek, Gwyneth Paltrow, Dakota Johnson e Liv Tyler, além de literalmente centenas de celebridades de Bollywood. Durante a pandemia esse cenário se intensificou ainda mais.

Mas por que, afinal, as Maldivas se converteram na grande meca turística das celebridades?

Tanto o órgão de turismo local quanto os hotéis sempre tiveram uma política de relações públicas e divulgação bastante sólida tanto para celebridades e influenciadores quanto para agentes de viagem.

Sempre fizeram questão de receber e facilitar ao máximo a ida dessas pessoas para lá, e agora seguem promovendo essa política mais do que nunca", conta Bruno Vilaça, proprietário da Superviagem.

Bruno, que acha o destino o lugar "mais instagramável do mundo", sempre vendeu bastante o destino e foi responsável também pelas viagens de diferentes celebridades brasileiras para o arquipélago.

Celebridades "invadem" as Maldivas na pandemia

Além dos hotéis levarem frequentemente agentes de viagem para lá para estimular as vendas relacionadas ao destino, muitas celebridades, das mais diferentes nacionalidades, estão conseguindo parcerias significativas com os principais resorts de luxo das Maldivas para ajudar na divulgação do destino como "ambiente livre de covid" nas redes sociais em troca de estadias gratuitas para elas e suas famílias.

A maioria delas está fugindo das regras rígidas de quarentena e lockdown em seus próprios países em longas temporadas nas ilhas do arquipélago.

Funcionário do Constance Halaveli Maldives atravessa ponte entre bangalôes sobre o mar azul-turquesa - LightRocket via Getty Images - LightRocket via Getty Images
Funcionário do Constance Halaveli Maldives atravessa ponte entre bangalôes sobre o mar azul-turquesa
Imagem: LightRocket via Getty Images

O fato da maioria dos resorts ocupar sozinho ilhas privativas associado às regras de companhias aéreas, destino e dos próprios hotéis para ingresso de viajantes têm garantido de certa forma estadias livres de preocupação (e geralmente livres de máscaras também) em plena pandemia para esses influenciadores, que mostram isso em detalhes nas redes sociais, estimulando as viagens de cada vez mais turistas.

Um destino que vive do turismo

Como todo país que vive basicamente do turismo, as Maldivas foram atingidas em cheio pelos efeitos gerados pela pandemia. O país, crescendo cerca de 15% em turismo ao ano, esperava bater dois milhões de desembarques em 2020. De acordo com o Banco Mundial, o turismo corresponde, direta e indiretamente, por cerca de dois terços do PIB nacional.

Vista da ilha onde fica o JOALI, nas Maldivas - Divulgação - Divulgação
Vista da ilha onde fica o JOALI, nas Maldivas
Imagem: Divulgação

Não à toa, o ministro do turismo local, Ali Waheed, declarou no começo da pandemia que a crise gerada pelo novo coronavírus estava sendo mais devastadora que a crise de 2008 e o tsunami de 2004.

Não foi surpresa para o mercado que o destino tenha sido um dos primeiros a reabrir para o turismo no mundo.

"Maldivas sempre foi o 'destino dos sonhos' e tem características ainda mais favorecidas durante a pandemia: isolamento natural, distanciamento social compulsório, imersão total na natureza, predominância de ambientes e atividades ao ar livre, vocação natural à sustentabilidade.

É a antítese de tudo o que os dias de angústia e desesperança da quarentena representaram para todos nós", diz Bruno.

"Some-se a isso um planejamento governamental bastante profissional e eficaz para a reabertura do país ao turismo, com regras bastante claras e austeras. Um mix quase perfeito de precaução, que imprimiu segurança nas pessoas para se deslocarem até lá, com uma certa liberdade que todos nós buscamos nos últimos meses", completa.

Mergulho e observação da fauna marinha são algumas das atrações das Maldivas - Getty Images - Getty Images
Mergulho e observação da fauna marinha são algumas das atrações das Maldivas
Imagem: Getty Images

Na verdade, diversos resorts tinham ficado operando normalmente, mesmo quando as fronteiras do país estavam fechadas, porque seus hóspedes simplesmente preferiram se isolar do novo coronavírus em vilas pé-na-areia e bangalôs sobre a água do que voltar para seus países de residência.

Hoteleiros locais contam que, logo antes das Maldivas fecharem suas fronteiras internacionais em 12 de março, turistas de diferentes origens chegaram ali em seus próprios jatinhos e iates, propositalmente, para fugir dos lockdowns em seus países de origem. E quem poderia culpá-los pela escolha de se isolar da pandemia no paraíso, não é mesmo?

Rápida resposta da hotelaria e das cias aéreas

Especialistas do setor são unânimes em afirmar que a rápida e sincronizada resposta da hotelaria local e das companhias aéreas que voam para o destino foi fundamental para esse boom de turistas e celebridades no arquipélago.

A tendência é que esse cenário se intensifique ainda mais a partir de agora, já que o período de novembro a abril é considerado o melhor para visitar as Maldivas, por garantia de muito sol e tempo estável.

"A 'ajuda' das companhias aéreas nesse boom, em um momento de muitas aeronaves paradas e destinos com fronteiras fechadas, acabaram criando uma oferta de voos impressionante para Malé, inclusive maior que aquela existente pré-covid", conta Bruno Vilaça.

Vista de dentro do avião da Trans Maldivian Airways ao chegar em uma das ilhas - NurPhoto via Getty Images - NurPhoto via Getty Images
Vista de dentro do avião da Trans Maldivian Airways ao chegar em uma das ilhas
Imagem: NurPhoto via Getty Images

Importantes companhias aéreas internacionais como Qatar e Emirates que, junto com a Turkish Airlines, são as principais responsáveis pelo acesso aéreo de brasileiros ao arquipélago, se encaixam nisso. E, com as exigências que fazem para embarque de passageiros em suas frotas, aumentam a sensação de segurança do destino.

A Qatar, por exemplo, que voa às Maldivas desde São Paulo (conexão no Catar), exige apresentação de teste PCR negativo no check-in e embarque obrigatório nos aviões com uso de máscara e face shield.

Muitos viajantes que antes combinavam a viagem às Maldivas com estadias também em destinos como Dubai ou Istambul, agora na pandemia fazem do arquipélago seu único destino da viagem, ficando ali por mais tempo.

As companhias aéreas que voam para lá estão fazendo ótimas promoções. Tem sido a chance para muita gente ir para as Maldivas por custos muito menores que no pré-pandemia", diz Clara Campos, que representa os hotéis do grupo Anantara no Brasil.

As principais redes hoteleiras do país também foram rápidas em estabelecer regras importantes de segurança sanitária para seu staff (desde o começo da pandemia) e para a chegada dos visitantes (a partir da reabertura). Some-se a isso o fator econômico: o destino, sempre bastante caro para visitantes, tem feito promoções constantes neste 2020 para atrair todo tipo de turista.

As promoções dos hotéis, oferecidas desde o começo da pandemia, foram fundamentais para esse case de sucesso do destino.

Anantara Veli Maldives Resort - Divulgação - Divulgação
Anantara Veli Maldives Resort
Imagem: Divulgação

"Os hotéis estão todos com promoções realmente atraentes, com descontos reais entre 25% e 50% em relação aos valores que costumavam praticar antes da pandemia", conta Jacque Dallal, da Be Happy, uma das agências que mais vende viagens para as Maldivas no Brasil há muitos anos. Além de ser especializada em lua-de-mel, a Be Happy também foi responsável por viagens de diferentes celebridades celebridades brasileiras para lá.

Estamos vendendo bem Maldivas desde maio passado, e vendendo o mesmo tanto de viagens que vendíamos antes da pandemia", conta.

Os hotéis Anantara, muito procurados por brasileiros em viagem ao arquipélago e que raramente faziam promoções, também aderiram às ofertas na pandemia. Hoje testam também todos os seus funcionários com frequência e fizeram com eles quarentena absoluta mandatória antes da reabertura dos hotéis para transformar os resorts em "ambientes livres de covid".

O case Soneva

Na hotelaria de luxo do arquipélago, chama a atenção o caso da rede Soneva, que conta com duas disputadas propriedades, Soneva Fushi e Soneva Jani, queridinhas das celebridades nacionais e internacionais, nas Maldivas.

Soneva Fushi - Divulgação - Divulgação
Soneva Fushi
Imagem: Divulgação
Soneva Jani - Sandro Bruecklmeier - Sandro Bruecklmeier
Soneva Jani
Imagem: Sandro Bruecklmeier

Foi crida uma estratégia impressionante para garantir que o dia a dia de seus hóspedes nos resorts não fosse alterado pela pandemia - sem abrir mão da segurança absoluta contra o novo coronavírus, é claro.

Como cada um de seus hotéis ocupa uma ilha privativa diferente, nenhum novo hóspede está livre para circular pela propriedade sem ser testado novamente contra a doença ao chegar, garantindo uma camada extra de proteção contra o vírus.

O Soneva montou um laboratório de análises particular em parceria com a Roche, em uma ilhota afastada (Maafaru), e contratou e treinou equipe médica exclusiva dos hotéis para cuidar não apenas de toda a administração dos testes como também de hóspedes que eventualmente se sintam mal ou testem positivo. Todo o staff dos hotéis é testado frequentemente e deixa os resorts com muito menos frequência que no pré-pandemia.

Hotel Soneva Jani foi a escolha de Xuxa e o namorado Junno Andrade - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Hotel Soneva Jani foi a escolha de Xuxa e o namorado Junno Andrade
Imagem: Reprodução/Instagram

Desde a reabertura dos hotéis, todo hóspede que chega a qualquer um dos dois resorts Soneva é levado imediatamente para sua própria vila, onde uma equipe médica já o espera para colher material para um novo teste, oferecido gratuitamente pelo resort.

Após o teste, os hóspedes devem ficar "confinados" nos limites da sua vila até que saiam os resultados negativos dos testes - o que não é nada ruim, considerando que as acomodações nos dois resorts são bangalôs sobre a água ou beach villas com piscinas próprias e acesso privativo à praia.

Refeição no meio do mar do Soneva Jani - Divulgação - Divulgação
Refeição no meio do mar do Soneva Jani
Imagem: Divulgação

Os resorts, é claro, oferecem alimentação e mimos para os hóspedes nas vilas até que saiam os resultados, o que acontece geralmente em até doze horas. A parte do staff que convive com os novos hóspedes não tem contato novamente com eles depois que seus testes são negativados.

Mas a rede vai ainda mais longe para garantir que seus hotéis sejam "território livre de covid-19": se o hóspede testar positivo, ele deve ficar confinado em sua vila, sem acesso a outros espaços do resort ou convívio com outros hóspedes e funcionários, até que o teste dê negativo - e a rede Soneva dá até 14 dias de cortesia nas diárias neste caso. Isso mesmo: até duas semanas de estadia gratuita nas Maldivas, até que seu exame dê negativo.

Uma das villas do Soneva Fushi - Divulgação - Divulgação
Uma das villas do Soneva Fushi
Imagem: Divulgação

Como resultado, as máscaras foram 100% abolidas nos dois resorts - e até o imenso buffet de café da manhã das propriedades foi mantido. Por todo o período da hospedagem neste paraíso no oceano Índico, o hóspede vê as coisas "voltarem ao normal" neste ano completamente fora do normal. Receita até agora aprovadíssima por celebridades e por viajantes comuns.

Dentro dos hotéis simplesmente não se fala de covid. A gente vive o dia a dia no resort como se realmente não houvesse pandemia no mundo", conta Fernanda Schmidt, que acaba de voltar de lá com a família.

Embora alguns dos hóspedes tenham certa resistência à vida sem máscara nos primeiros dias, funcionários dos hotéis dizem que não são raros os casos de pessoas que literalmente choram na hora de colocar a máscara para entrar no hidroavião e começar a longa jornada de volta para casa e para a "vida real".