Brasileiro larga emprego de executivo para virar mergulhador no Egito
Com apenas 37 anos de idade, o brasileiro Carlos Diezel possuía uma vida almejada por muita gente: formado em engenharia, era executivo bem-sucedido de uma multinacional e tinha uma família constituída, com sua esposa Carolina e dois filhos pequenos.
Esta estabilidade e êxito na carreira, porém, não impediram que ele realizasse uma mudança radical para viver um sonho.
Em 2018, Carlos deixou seu trabalho e se mudou para o balneário de Dahab, no Egito, para se dedicar integralmente ao freediving, ou mergulho livre (prática em que a pessoa submerge em apneia, sem utilização de cilindro de ar comprimido).
"Tive meu primeiro contato por acaso, durante uma viagem a Bali, na Indonésia", conta ele, dizendo que ficou apaixonado pela brincadeira. "Quando voltei ao Brasil, não conseguia parar de pensar em mergulho livre. Mas era complicado continuar com a prática, por causa das minhas obrigações profissionais".
O brasileiro relata que, naquele momento, "minha carreira estava indo muito bem. Recebia promoções com regularidade. Mas, depois de um tempo, comecei a ver que, se não começasse a me dedicar mais seriamente ao freediving, nunca faria aquilo de verdade. E eu já não estava tão animado com a vida no mundo corporativo".
A hora da virada
Um grave acidente de bicicleta sofrido em 2017, que partiu a clavícula de Carlos em seis partes, ajudou a tomada de decisão.
Naquele momento, começou a cair a ficha para mim. A gente não é imortal. Então, resolvi fazer as coisas que eu desejava".
Primeiramente, ele pediu uma licença de cinco meses do seu emprego e, junto com a família, voou para Dahab - que, banhado pelo mar Vermelho, é um dos melhores lugares do mundo para o mergulho livre. Lá, fez cursos de aperfeiçoamento para poder atuar como instrutor.
"O tempo passou e não quisemos mais voltar. Pedi demissão, mesmo com minha empresa me oferecendo outras posições, uma delas na Europa. Percebi que não iria retornar para o mundo corporativo. Meu coração já estava em outro lugar", explica ele.
Carlos, então, viu que finalmente começaria a realizar seu objetivo de vida: trocar de vez o escritório e o terno por um mar translúcido, máscara de mergulho e nadadeiras.
Na Meca do mergulho livre
O brasileiro virou sócio de uma escola de mergulho em Dahab chamada Dahab Freedivers e, desde então, tem passado grande parte de seu tempo por lá. "No começo, eu não tinha muitos alunos, mas, com o tempo, começaram a aparecer diversas pessoas interessadas em aprender com a gente".
Dahab e arredores constituem uma meca do mergulho livre, pois oferecem condições como água de ótima visibilidade, vida marinha riquíssima e pontos perfeitos para submersões de grande profundidade, como o famoso Blue Hole (Buraco Azul).
"Outra vantagem é que, em Dahab, ao contrário do que acontece na grande maioria dos pontos de freediving do mundo, os locais de mergulho ficam próximos da margem. Não há necessidade de barco para chegar até eles", explica.
No ensolarado balneário egípcio - e com as paisagens áridas e surreais da península do Sinai no horizonte -, ele comanda, atualmente, cursos de iniciação, aperfeiçoamento e instrução em mergulho livre, em aulas ministradas para viajantes de diversas partes do globo.
Também realiza, sem a companhia de outras pessoas, diversas incursões no mar da região.
"A ausência de cilindro de ar comprimido, que gera muitas bolhas, faz com que os animais não se sintam ameaçados pelos mergulhadores. É um contato mais genuíno com a natureza. É como se você fosse parte daquele meio", avalia o brasileiro.
Sensação de paz
Carlos, porém, afirma que admirar a vida marinha nem sempre é o objetivo principal de suas incursões no oceano.
Gosto do mergulho livre porque ele me dá uma sensação de paz, liberdade e integração com o mar. Parece que você está voando no fundo da água. É algo viciante", diz.
Atualmente, o brasileiro consegue ficar mais de dois minutos dentro do mar sem o auxílio de cilindro de ar comprimido - e, em suas incursões, já atingiu 60 metros de profundidade em uma modalidade em que também não se usa nadadeiras.
E, por incrível que pareça, sua família se adaptou facilmente à vida no Egito - um país que, à primeira vista, tem tudo para parecer exótico para os brasileiros.
"Coloquei meus filhos [hoje com dez e oito anos de idade] em uma escola internacional com aulas ministradas em inglês", conta. "E eles já estão se sentindo em casa. Os dois vão para a escola sozinhos de bicicleta, em uma liberdade que eles não teriam no Brasil. E Dahab é um lugar muito fácil para se virar, com grande fluxo de turistas e onde muita gente fala inglês".
As crianças, inclusive, estão também mergulhando com o pai na região, em uma vida de contato constante com a natureza.
E a pandemia não foi capaz de abalar seriamente o negócio de mergulho de Carlos. Ele conta que, durante boa parte deste ano, a cidade ficou praticamente sem turistas, mas que eles estão retornando pouco a pouco - e muitos viajantes estão buscando aprender mergulho.
Uma é coisa certa: o brasileiro ainda nem cogita deixar Dahab. "Penso em ficar aqui por mais alguns anos. É um lugar que oferece muitas vantagens para o mergulho livre. E só estou começando nesta carreira", diz o ex-executivo.
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