Sidra tenta (de novo) fugir do estereótipo de bebida natalina
Tem coisas que a gente só lembra que existem no fim do ano: especial do Roberto Carlos, pernil com abacaxi, peru recheado com farofa e, claro, o brinde com sidra (com "s", mesmo, cidra, com "c", é o fruto da planta cidreira), seja na noite de Natal ou no Réveillon.
Apesar de ser uma bebida milenar e amplamente consumida na Europa (entre os séculos 9 e 11, ela era mais popular que o vinho), a sidra só se tornou "A" bebida de fim de ano nas taças brasileiras há pouco tempo.
O fermentado de maçãs só começou a ser produzido no país em larga escala, no fim da década de 1960, quando surgiu a hoje popular Cereser.
"Nossa sidra foi lançada em 1967, em um momento em que vários órgãos do governo estavam incentivando a produção de maçã no Brasil", conta Edgar Galbiatti, gerente de marketing da CRS Brands, empresa que produz a bebida.
A grande sacada da Cereser, no entanto, foi incluir o produto em cestas de Natal, vendidas por meio de carnês pagos ao longo do ano. A bebida também foi batizada de Champagne, o que era permitido na época e dava um verniz de produto luxuoso (sem contar que produtos importados eram exclusividade de poucos).
Tempos depois ela foi renomeada como sidra, mas aí já era tarde: a bebida tinha conquistado seu espaço nas celebrações de dezembro. E continua marcando presença: a Cereser tem mais de 60% de participação nesse mercado, sendo que 80% das vendas do fermentado de maçã acontecem entre novembro e dezembro.
Popular
Há duas explicações para a marca seguir na liderança, diz Galbiatti: preço e sabor. "Desde o começo, o produto foi criado para ser acessível", diz. Além disso, a bebida é refrescante, tem pouco álcool (cerca de 5%) e é docinha. "Não adianta brigar, a maior parte dos brasileiros gosta de coisas doces, é cultural", acrescenta.
São justamente essas características que fazem com que a sidra tenha má fama por aqui (o Ministério da Agricultura classifica a bebida como de "baixo consumo"), ao contrário do que acontece em outros países. No Reino Unido, por exemplo, estima-se que a produção anual fique em torno de 900 milhões litros. França e EUA são outros grandes produtores da bebida.
Nada de "docinha"
O fermentado de maçã, no entanto, é um tanto diferente lá fora: geralmente, tem sabor mais ácido e final seco (embora existam variações doces). Mas é um estilo que tem dificuldade para emplacar entre os consumidores brasileiros.
Há uns cinco anos, quando o dólar permitia, era possível encontrar uma quantidade razoável de rótulos importados. Produtores brasileiros tentaram surfar nessa onda e fizeram suas versões, mas a maioria desistiu do segmento ao longo do tempo.
Nova chance
O que não quer dizer que a gente esteja fadado a tomar sidras docinhas. Ainda tem lojas oferecendo uns poucos rótulos chilenos, franceses e ingleses. E algumas empresas brasileiras insistem na bebida, como a BFiver, que faz um produto mais parecido com um espumante, e a Rebel, que é envelhecida em tonéis de madeira, ambas de Santa Catarina.
Tem até quem veja potencial no segmento, como a cervejaria Dádiva, de Várzea Paulista (SP), que lançou neste fim de ano uma linha com três sidras diferentes, para aproveitar a temporada de verão.
"São bebidas secas, refrescantes e menos gaseificadas. Combinam não só com as festas de fim de ano, mas com um dia na praia ou na piscina", aposta Victor Marinho, sócio da Dádiva.
Marinho também acredita que o público, hoje, está mais aberto a esse produto.
O brasileiro está experimentando sabores e aromas e fugindo do tradicional. A sidra pode ainda pegar um público que não quer consumir cerveja", avalia.
"Acho que esse mercado vai se abrir em 2021 e ter um futuro bem bacana.
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