Passageiros relatam imprevistos e gastos a mais em embarque para Argentina
Alguns passageiros que viajaram com a Latam nas últimas semanas para a Argentina enfrentaram problemas e gastos não planejados para embarcar. Os problemas foram desde diferenças na interpretação das normas para entrar no país vizinho durante a pandemia de covid-19 até supostos erros nas informações transmitidas por atendentes da companhia aérea.
A Argentina reabriu as fronteiras para turistas de países limítrofes, entre eles o Brasil, desde o dia 30 de outubro. Mas, até a última terça-feira (8), não havia unificação entre as exigências do governo argentino e os requisitos indicados no site da Latam para a entrada no país.
Confusão sobre teste de covid
O boletim oficial do governo argentino, publicado no dia 29 de outubro, estabelece que os viajantes devem ter um PCR negativo feito "com um máximo de 72 horas de antecipação", sem especificar o momento a partir do qual este prazo deve ser calculado. Já o anexo do decreto de 2 de dezembro, diz que as 72 horas são "prévias à viagem internacional". A Associação Internacional de Transporte Aéreo informa, por sua vez, ser necessário "um certificado médico com teste de PCR negativo para coronavírus emitido até 72 horas antes do primeiro ponto de embarque".
A Latam, no entanto, informava em seu site que para a entrada na Argentina, o teste deveria ser realizado "até 72 horas antes da chegada do voo ao destino".
O mesmo foi respondido inicialmente pela companhia, na última segunda (7), a Nossa, sobre a exigência. Na quarta (9), o site da empresa passou a indicar que o exame deve ser realizado "até 72 horas antes da partida do voo ao destino", embora na sessão sobre "restrições de acesso", a companhia mantivesse o texto anterior, e no mapa com requisitos de entrada em cada país as informações fossem contraditórias.
Nesta sexta (11), no momento do fechamento desta reportagem, os requisitos do mapa tinham sido modificados para "72 horas antes da saída do voo", porém o texto inicial da página de "restrições de acesso" ainda falava em "antes da chegada na Argentina".
Apenas um pedido de desculpas
Em 21 de novembro, a dentista Maria Eduarda Lisboa viajou com o filho de 3 anos de ônibus de Jaguarão (RS) até Porto Alegre, onde embarcou para Buenos Aires.
Segundo ela, os atendentes da companhia aérea disseram no aeroporto Salgado Filho que os documentos exigidos para a entrada na Argentina só deveriam ser apresentados em Guarulhos. Mas, na conexão, ela foi informada de que a coleta do PCR que certificava que ambos não tinham covid-19 completaria 72 horas durante o voo, e que por isso, ela e o filho teriam que realizar um novo exame.
"Eu perguntei qual era a diferença, mostrei o site do governo argentino e eles disseram que eu não poderia embarcar", lembra Lisboa, que chegou a entrar em contato com o cônsul argentino de Uruguaiana (RS). "Ele mesmo falou com o atendente, disse que não está especificado, que ele não tem como exigir isso. E eles não me deixaram embarcar", relata.
Ela relata também que os atendentes "reconheceram o erro" de permitirem que ambos voassem até Guarulhos e que a empresa pagou estadia em um hotel para que eles fizessem o PCR no aeroporto paulista e embarcassem para a Argentina no dia seguinte. "Fizemos o exame e foi uma choradeira. Ele é criança, já tinha feito e é horrível", conta, descrevendo o incômodo, além das longas esperas no aeroporto para resolver a situação.
Depois entrei em contato com a Latam para reaver o valor e nada, só me mandaram um pedido de desculpa", diz ela, que pretende processar a companhia.
Problema recorrente
Em entrevista a Nossa, a Diretora Nacional de Migrações da Argentina, Florencia Carignano, afirma que a disposição do país "é muito clara", e que as 72 horas devem ser contabilizadas em relação ao horário de embarque: "É prévio à viagem, ao voo", informa sobre o teste. Segundo ela, não seria possível pedir a antecipação em relação ao desembarque porque há passageiros que enfrentam 20 horas viajando.
Renata Coelho, fotógrafa que trabalha na intermediação entre turistas brasileiros e a agência Madero Viagens para a venda de serviços, conta que a meados de novembro um casal de clientes teve o mesmo problema na escala em Guarulhos com destino a Buenos Aires, porque a Latam considerou o horário de desembarque para o cálculo.
Segundo ela, não foi preciso alterar o voo porque havia tempo para um novo teste, mas o casal teve que pagar pelo novo procedimento.
Gastos-surpresa
Já a psicóloga Erika Guimarães explica que, na mesma semana, não conseguiu embarcar com o noivo de Goiânia para São Paulo por um erro de informação da companhia aérea.
Com trecho inicial do trajeto operado pela Latam e final com a Turkish comprados pelo site Decolar — empresa que, segundo ela, nem chegou a indicar os requisitos para a entrada na Argentina —, ela conta que, devido aos prazos, não foi possível fazer o exame na cidade de Rio Verde (GO), onde o casal mora. Por isso, na véspera da viagem ela entrou em contato com a Latam por telefone e — relata — um atendente informou que o teste poderia ser feito em Guarulhos. Mas em Goiânia, sem o PCR, o casal não conseguiu embarcar e teve que comprar passagens para Brasília, onde fez o exame.
Chegados a Guarulhos, na hora do check-in para o voo para Buenos Aires, nova surpresa: como eles não embarcaram no voo inicialmente previsto, já não apareciam como passageiros da Turkish para o trecho internacional.
"Embarcamos no último segundo, foi a maior correria", conta sobre a odisseia, que resultou em "desgaste" e um prejuízo de R$ 2 mil, entre as compras de novas passagens e o exame realizado em um laboratório de Brasília. "Foi completamente desproporcional, qualquer pessoa que não tivesse como desembolsar esse dinheiro de última hora não teria viajado", diz Guimarães.
Nesta segunda (14), Guimarães contou que a Decolar entrou em contato com seu noivo no último domingo (13) para perguntar se, devido ao voo cancelado, ele gostaria de deixar a passagem em aberto para escolher uma data futuramente ou se a melhor opção seria o reembolso.
Em posicionamento enviado a Nossa, a empresa informou que tem uma seção especial em sua plataforma de vendas com todas as informações relativas à pandemia, que são constantemente atualizadas, com as exigências adotadas pelos destinos (leia o comunicado na íntegra ao fim da reportagem).
Leandro Freitas, de Juazeiro do Norte, que chegou em Buenos Aires no dia 5 de dezembro com a namorada, relata que teve problema com o seguro. "A menina olhou para mim e disse que com meu seguro não dava para eu embarcar para a Argentina porque o limite era de 25 mil dólares e que o mínimo era 30 mil", conta, sobre o momento do check-in para a conexão em Guarulhos pela Latam.
Segundo ele, a atendente reteve o cartão de embarque e indicou onde ele deveria comprar um novo seguro, em uma seguradora perto do balcão do check-in. "Tentei questionar, mas não deu muito tempo porque o voo já estava perto de sair", afirma, dizendo ter se sentido "obrigado" a fazer a compra.
A cobertura de 25 mil, no entanto, foi suficiente para que outro casal embarcar no mesmo voo. "Tenho clientes indo e vindo todos os dias com esse seguro e o site da Latam não especifica quantia mínima para a Argentina, só para o Chile", diz Coelho, que intermediou a venda dos seguros para Freitas e o casal que conseguiu embarcar com um seguro igual ao dele, e descreve a situação de divergências da empresa como "caótica".
Governos versus empresas
"Há uma falta de unificação de critérios com o que privados pedem com o que ministério do Turismo e Migrações da Argentina exigem", diz Sebastián Caram, dono da Madero Seguro, que vendeu as apólices e diz só ter tido problema com a Latam. "As exigências do governo e das empresas têm que estar alinhadas, as mesmas coisas que uma pede, a outra tem que pedir e tem que ser muito claro para todo mundo. É o governo que coloca as regras do que é preciso para entrar", reclama Coelho.
Os decretos argentinos mencionam a necessidade de "um seguro de assistência médica que compreenda prestações de internação e isolamento por covid-19" e que os estrangeiros não residentes devem contar com um seguro para a viagem que conte com "cobertura para a atenção da covid-19 na Argentina, que inclua a internação e se for o caso isolamento e não tenha exclusões ou limitações durante toda a estadia".
A Associação Internacional de Transporte Aéreo informa ser necessário um "seguro de saúde com cobertura para qualquer despesa de coronavírus" e a própria Latam, entre os requisitos de seguro indicados em seu site, não menciona montante mínimo de cobertura para a Argentina.
"Não diz isso em nenhum lado. Se não diz, não podem exigir", afirma a Diretora Nacional de Migrações da Argentina sobre a exigência relatada por Feitas. Ela confirma que o país não estabeleceu um valor mínimo de cobertura e disse que, até a entrevista a Nossa, realizada no dia 6 de dezembro, não sabia de brasileiros com problemas no embarque para o país. "Tem um monte chegando", conclui.
Procurada por Nossa, a Latam afirmou que "está aberta a atender todos os clientes que possam ter vivenciado alguma dificuldade de interpretação ou divergências entre uma atualização ou outra de regras sancionadas pelos governos nacionais".
Veja o comunicado da Latam na íntegra:
"A LATAM esclarece que todas as regras para ingresso de passageiros em países no exterior são exigências de seus respectivos governos nacionais. À LATAM cabe apenas aplicar essas regras, na medida em que elas são sancionadas, divulgadas e/ou atualizadas pelas autoridades.
As regras válidas neste momento para ingresso na Argentina têm como origem o decreto administrativo 1949/2020 publicado pela Dirección Nacional de Migraciones da Argentina em 28 de outubro. Nesse sentido, é necessário que o passageiro brasileiro com destino a Argentina apresente teste PCR negativo para Covid-19 realizado até 72h antes do embarque do voo, além de um seguro internacional de assistência médica, com cobertura para internação (hospitalização) e isolamento devido a Covid-19.
A LATAM reforça ainda que está aberta a atender todos os clientes que possam ter vivenciado alguma dificuldade de interpretação ou divergências entre uma atualização ou outra de regras sancionadas pelos governos nacionais.
Por fim, a companhia reitera que os passageiros consultem antes de seu voo as constantes atualizações das exigências do país de destino da sua viagem, observando as regras e restrições para o seu embarque. Para auxiliar nessa consulta, a LATAM está atualizando regularmente as informações em https://www.latam.com/pt_br/experiencia/coronavirus/restricoes-de-acesso/."
Leia o comunicado da Decolar:
"A Decolar informa que tem uma seção especial em suas plataformas de vendas (site e aplicativo) com todas as informações relativas à pandemia do novo coronavírus, que são constantemente atualizadas. Nesse espaço, há detalhes sobre os protocolos de saúde adotados por seus parceiros (companhias aéreas, hotéis, locadoras de carros etc.), perguntas frequentes relacionadas ao assunto, exigências adotadas pelos destinos, além de um mapa-múndi interativo com as restrições de entrada de turistas em cada país, com ferramenta de busca por origem e destino".
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