Família que "respira" panetone ensina receita inspirada no bolo natalino
"Comida é basicamente tudo". É assim que Lu Bonometti e sua mãe, Angela, descrevem a relação da família à mesa e superam as dificuldades para passar — com sucesso — emoções e sensações (e uma deliciosa receita natalina) em uma entrevista por Zoom.
Criadora de um dos panetones artesanais mais aguardados pelos foodies paulistanos, Lu não esconde sua relação hilariamente passional com o quitute natalino. A receita de verdade — e não aquelas vapt-vupt — não é feita para iniciantes. Por isso, hoje ficaremos com fáceis biscoitinhos que remetem ao bolo mais natalino de todos e cujo passo a passo está no fim desta matéria.
Unidos da massa
A inspiração culinária de Lu, que comanda as duas unidades da Casa Bonometti em São Paulo, segue bem o estilo de quem tem sangue italiano correndo nas veias. E é justamente na "Bota" que começa a história gastronômica desta grande família.
De um lado, a lembrança de uma osteria comandada pela avó do pai de Lu, em uma casa próxima ao Lago Di Garda (ao norte do país) — que ainda existe, mas que foi vendida em 1954. É de lá que surgem receitas aprendidas "de ouvido", como lasanha, sfogliatella e cueca virada (doce frito que ganhou esse curioso nome no Brasil, mas é tradição natalina italiana).
Do outro, as receitas práticas da mãe de Angela, como uma pizza feita em casa — "só saí para comer pizza em restaurante depois de adulta", revela Lu — e o icônico nhoque caseiro, receita tão simples e apaixonante que até o filho de dois anos e meio de Lu tenta reproduzir com massinha (nasce um chef?).
Comendo junto (ainda que separados)
Seja em reuniões ou em grandes e pequenas comemorações ("como uma nota alta da faculdade"), é no prato cheio e seu preparo à moda da "nonna" que eles transmitem a história de geração em geração.
Na pandemia, porém, os Bonometti se viraram para manter a tradição.
Preparávamos os pratos aos sábados, fazíamos um roteiro de quem morava mais perto e distribuíamos para filhas, afilhados, sobrinha. Depois todos entravam no Zoom e almoçávamos juntos no domingo".
Uma paixão de família
Ao mencionar "panetone", a biografia fica ainda mais intensa — e até dramática. A relação da família com o famoso bolo natalino, na verdade, começa por seu principal ingrediente.
Antes de vir ao Brasil, Angelo, pai de Angela e avô de Lu, comandava o Moinho Bonometti. No pós-guerra, diante da crise, o italiano passou pela Argentina até, finalmente, fincar raízes primeiro em Joaçaba (interior de Santa Catarina) e depois em São Paulo — onde liderou o Moinho Progresso.
Ele nasceu com farinha na veia e sabia para que servia cada tipo dela, seja pão, macarrão ou biscoito", relembra Angela.
Esse dom garantiu que Angelo fosse o salvador de muita gente durante a ditadura militar — em que até mesmo a procedência da farinha estava sob controle do governo. Aos seus clientes, ele separava o trigo de maior qualidade e um deles contava com uma reserva bem especial, de característica mais elástica e resistente. Nascia a amizade com Carlo Bauducco.
Além da garantia de que a primeira fornada dos famosos panetones chegava em sua casa, Angela ainda teve o privilégio de trabalhar no controle de qualidade da fábrica. "Sentia aquele cheiro irresistível de panetone saindo do forno", relembra.
E aí que entra Lu na história — sim, ainda na barriga. "Certeza que a paixão veio da gestação. Ela nasceu em um 4 de janeiro, então teve muito contato com panetone ainda antes do parto", brinca a mãe.
Farinha, suor e, sim, lágrimas
Não tinha mesmo como fugir: curiosa da cozinha desde os 7 anos, Lu foi para a confeitaria, se apaixonou por processos de fermentação e partiu em 2016 para a Itália estudar panetone com a maior referência no assunto, o chef Iginio Massari.
Após o maravilhoso curso e muitos aprendizados, Lu voltou com uma receita na mão e muita vontade de produzir os diferenciados panetones artesanais.
O primeiro obstáculo foi, ironicamente, a farinha perfeita — adquirida somente após muitas ligações de moinho em moinho. O fermento especial trazido na mala. A manteiga ideal também estava a postos.
Mas nada fazia o bendito panetone dar certo — mas os "bolotones" estavam à toda.
"Chorava por não conseguir, consultava colegas", conta Lu.
A solução, quem diria, estava nos tempos modernos: mais precisamente em um vídeo no YouTube. Lá, a confeiteira percebeu que teria que reproduzir o ritmo da batedeira que utilizava lá na Itália — que simula a sova manual para massas delicadas.
Os ingredientes agora eram colocados bem lentamente, aos poucos, sem que esquentem muito. E deu certo!
"Agora chorava de ver o panetone no forno", conta ao declarar orgulhosa que desenvolveu até mesmo essência natural para suas criações de sucesso.
Não é "mestre panetoneiro"?
Sem problemas!
Tem pressa para sua receita ou acredita no tempo de receitas "rápidas" para panetone? Conselho de Lu Bonometti: esqueça.
Panetone exige tempo, impossível fazer em uma live. Somente no segundo dia de fermentação ele exala aquele cheiro característico, por exemplo".
Mas não precisa desistir de seguir dicas de quem conhece esse aroma e quitute desde o berço. Lu entrega aos leitores de Nossa uma receita fácil de biscoito de panetone.
O docinho não leva propriamente o tradicional bolo, mas tem elementos que remetem à mais natalina das iguarias: uva passa e toque de vinho branco, para lembrar a famosa fermentação.
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