Ir para não voltar... tão cedo: pandemia aumenta a duração de estadias
Ao longo de 2020, a pandemia do novo coronavírus trouxe uma mudança inesperada para hotéis, pousadas e imóveis de temporada: um aumento considerável em estadias prolongadas, no Brasil e no mundo.
Conhecidas no mercado turístico como extended stays ou long stays elas podem se estender por até mesmo meses e, hoje, há hóspedes com os mais diferentes perfis e orçamentos — muitos deles como forma de seguir isolado em outro endereço, mudando um pouco de ares durante a pandemia.
De Minas a Maldivas
De julho para cá, a paulista Vanessa Elias já fez duas viagens diferentes, cada uma com pelo menos duas semanas no mesmo local. Durante as estadias, ela e o marido seguiram trabalhando à distância, mas aproveitaram também para descansar e curtir, sem abrir mão do distanciamento social, as facilidades de lazer dos hotéis nos quais estavam hospedados.
Já a mineira Renata Campos vem dividindo há vários meses com uma amiga o aluguel de uma casa na Serra do Cipó, região de cachoeiras nos arredores de Belo Horizonte, para a qual "foge" de vez em quando para mudar de cenário. Renata trabalha online de lá mesmo, usufruindo também um pouquinho das belezas naturais da região.
O crescimento destas estadias prolongadas tem sido uma ferramenta importante na recuperação do setor nesta retomada de atividades turísticas em muitos destinos. Algumas propriedades à beira-mar ou cercadas por montanhas chegaram a notificar um crescimento de até 300% na procura por estadias prolongadas desde o começo da pandemia - com destaque para acomodações em estilo vila ou chalés.
A coisa pode ir tão longe que hotel Anantara Veli, nas Maldivas, criou neste final de ano um pacote de hospedagem que dá direito a até 365 dias seguidos de hospedagem no resort.
Refúgio para a cabeça
Muitas plataformas de aluguel de imóveis de temporada também têm testemunhado muita gente optando por quarentenas voluntárias em um destino diferente do seu. E mesmo quem ainda não viajou, espera retomar suas viagens no próximo ano.
O Relatório de Tendências 2021 da Vrbo, empresa do Expedia Group e nova marca do AlugueTemporada no Brasil, ouviu mais de oito mil viajantes em famílias de distintos gêneros, gerações e rendas em oito países, incluindo o Brasil, entre 12 e 26 de outubro deste ano.
Cerca de 26% dos entrevistados disseram também que as escapadas melhoram sua saúde mental e também servem como autocuidado. Além disso, 79% dos entrevistados afirmaram que não pretendem viajar com mais pessoas além de seus próprios familiares, como medida de prevenção à Covid-19.
Fenômeno internacional
O aumento das estadias prolongadas está acontecendo nos mais distintos tipos de propriedades e em diferentes países.
Em alguns lugares este movimento tem sido tão forte que os próprios destinos estão estimulando e facilitando o acesso deste tipo de hóspede, como algumas ilhas no Caribe e diferentes destinos nos EUA e na Espanha, oferecendo pacotes especiais para estadias com pelo menos um mês de duração, e inclusive facilitando vistos de trabalho remoto nos quais o mesmo é exigido.
O rápido aumento na procura por estadias mais longas está mudando a própria estrutura de alguns hotéis, para se adaptarem às necessidades e exigências deste tipo de hóspede.
Algumas acomodações passaram a oferecer serviços que antes não possuíam, como atividades para as crianças, estrutura física de escritório e até acesso à cozinha, por exemplo. Não à toa, investidores do setor hoteleiro também já consideram acomodações com pequenas cozinhas excelentes alternativas de investimento nestes tempos.
Muitos hotéis que antes não aceitavam crianças passaram também a receber hóspedes de qualquer idade para garantir que famílias inteiras possam ficar hospedadas juntas durante a pandemia, como o Unique Garden, no interior de São Paulo.
Os hotéis Hyatt Ziva e Hyatt Zilara, em Cancun, criaram programas de extended-stay para hóspedes trabalhando remotamente por pelo menos duas semanas. Os pacotes incluem estações de trabalho exclusivas, serviços educacionais para as crianças, personal trainer três vezes por semana e até lavanderia gratuita.
O Eden Roc Cap Cana, na República Dominicana, agora inclui na reserva das suítes de dois quartos todas as refeições, uso de escritório para trabalho e atividades ilimitadas para crianças.
Muitas propriedades econômicas, antes acostumadas a receber apenas hóspedes "de passagem" por uma ou duas noites, também se viram obrigadas a se adaptar a esta nova demanda.
O OYO i-Hotel, um hotel econômico em Piracicaba, São Paulo, tem atualmente diferentes hóspedes em estadia prolongada, incluindo um casal de americanos que já completou três meses hospedados no local. Além disso, pequenos hotéis e pousadas no Brasil passaram a oferecer a possibilidade de serem reservados por inteiro por uma mesma família.
Conceito antigo e que continuará
O conceito de extended stays foi criado há cerca de 35 anos por Jack DeBoer e Robert L. Brock, sócios-fundadores da rede Residence Inn, que é hoje parte do grupo Marriott International. O próprio DeBoer criou também posteriormente uma nova rede similar, ainda mais econômica, batizada de WoodSpring Suites para ser vendida para a Choice Hotels International há dois anos.
Os hotéis HomeTowne Studios (antigos Red Roof) também investiram pesado no modelo das estadias prolongadas neste ano e sua performance durante os meses da pandemia já se equipara aos números de 2019, com mais de 80% de ocupação média.
Diversos hotéis que investiram mais nas estadias prolongadas estão comemorando não apenas os melhores índices de ocupação como também viram queda significativa nos custos operacionais, ao eliminar os bufês de café da manhã e diminuir serviços de camareira como parte das medidas de segurança durante a pandemia.
As mudanças têm sido tão significativas que alguns especialistas do setor acreditam que as estadias prolongadas em um mesmo hotel e destino devem seguir em tendência para muitos viajantes mesmo após a pandemia.
A diretora de relações públicas da associação Virtuoso, Misty Belles, acredita que o comportamento do viajante de luxo realmente mudou neste ano e que a tendência atual, com tanta gente trabalhando remotamente e tantas empresas anunciando que não devem voltar ao trabalho presencial pelo menos até 2022, são mesmo as viagens com semanas de duração.
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