Coleção de boinas "mágicas" definiu estilo e enterrou de vez o bullying
Tadeu Francisco de Aguiar
A vida resolveu me fazer com uma cabeça grande o bastante a ponto de não ser compatível com nenhum ornamento craniano padrão, seja estético, como boné ou chapéu, ou para proteção, como um capacete. Cabeças masculinas em geral medem cerca de 61 centímetros. A minha tem 65.
Quando pequeno, sofri muito com as outras crianças por causa do tamanho da minha cabeça. Não entendia o porquê da perseguição: por mais que tivesse a cabeça maior que a das outras crianças, achava que era normal, porque podia fazer coisas normais, como usar boné.
O bullying depois de adulto parou, mas um dia me bateu a vontade de usar chapéu. Liguei na maior fábrica de chapéus do Brasil e perguntei se faziam sob medida. Me disseram que o maior molde era de 61 centímetros. Acabei desistindo.
Sofri de novo quando comecei a andar de moto. Não achei capacete que servisse na minha cabeça, então peguei um velho, arranquei o forro e andava só com a casca do capacete na cabeça, sempre devagar e torcendo para não ser atingido por ninguém.
Um dia, fui ao Paraguai com a família e lá tinha várias lojas só de capacetes. Depois de me fazer experimentar todos os maiores modelos e nenhum servir, o dono da loja chamou o de outro estabelecimento para mostrar o que achava ser impossível.
Após constatar que não era mentira, o dono da nova loja voltou com três capacetes. Um deles serviu, mas era tão apertado que eu não podia usar por mais de 30 minutos seguidos, pois começava a afetar a visão. Não lembro onde ele está, acho que foi junto com a primeira moto.
Tempos tempos, fui a uma lojinha de quinquilharias aqui em Maringá onde tinha uma sessão de chapéus. Enquanto esperava minha irmã, mesmo sem esperanças, comecei a experimentar. Vi uma boina e coloquei na cabeça. Não senti aperto e estava confortável. De todas, foi a única que serviu.
Olhei no espelho e imaginei que, com a minha péssima sorte, estaria horrorosa, mas ficou perfeita.
Coloquei-a de volta e chamei minha irmã para ver, mas, ao voltarmos, tinha um homem experimentando-a. Nunca torci tanto para algo não servir em alguém! Quando ele soltou, corri, peguei a boina e fui pagar.
Finalmente realizei o sonho de ter um chapéu, e um que ficava bem. Meu estilo visual acabou se desenvolvendo em torno da boina — de acordo com a minha noiva, me visto como velho. Eu brinco que, na verdade, meu estilo é clássico.
Aquela boina infelizmente se perdeu, mas hoje tenho uma pequena coleção de boinas.
Depois de encontrar as boinas, tudo começou a parecer até mais fácil, quase como se elas fossem mágicas. Depois de ouvir a vida inteira que não terminaria uma faculdade, hoje faço quatro ao mesmo tempo, trabalho como recepcionista em um hotel e ainda cuido da minha bodega de produtos artesanais.
Claro, hoje boa parte desse sucesso é graças ao apoio da minha namorada, que é uma mulher fenomenal. Mas sempre com uma boina.
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