De bike do Alasca ao Ushuaia, brasileira já enfrentou coiotes e foi presa
Durante uma viagem para Oregon, nos Estados Unidos, a bióloga e viajante Juliana Hirata, de 40 anos, foi questionada por amigos sobre o que faria se não tivesse medo. A resposta: viajar pelo mundo de bicicleta. Na época, ela rabiscou a frase em um guardanapo e guardou dentro de um livro.
Após três anos, em meio a uma crise de ansiedade, ela encontrou o papel com as anotações e viu que talvez fosse a chance de ir em busca do seu propósito. "Eu vi que não queria mais levar aquela vida que estava levando e que precisava ir atrás de algo. Me desfiz de tudo e prometi para mim mesma que não ia parar até ocorrer mudanças", conta Juliana.
Depois de muito pensar, ela começou a montar a viagem que passaria por todas as Américas, começando no Alasca (Estados Unidos) e terminando em Ushuaia (Argentina). O roteiro seria feito todo de bicicleta, sem nenhuma companhia e a meta era chegar no destino final em dois anos. Mesmo com o orçamento apertado (média de US$ 10 por dia - mais ou menos R$ 53), ela encarou o desafio.
Até chegar no Equador, país em que está hoje, ela passou pelos Estados Unidos, Canadá, México, Belize e alguns países da América Central. Mas por causa de um acidente, dinheiro e até pela pandemia, o tempo de viagem aumentou.
O trajeto que duraria dois anos, se estendeu para quatro e, agora, não tem uma data para terminar. "Estou fazendo no meu tempo, mas muita coisa mudou e, infelizmente, não tem como prever o que vai acontecer. Mas continuo pedalando."
Ataque de coiotes e prisão no México
Por estar sempre sozinha, Juliana precisa redobrar a atenção em relação ao assédio, violência e perigos na estrada. Como pedala muitos quilômetros todos os dias, não é sempre que ela consegue se hospedar em um hostel ou hotel. Muitas vezes, ela dorme em sua própria barraca.
Durante sua passagem pelo México, na cidade de Baja Califórnia, ela precisou passar uma noite no meio do deserto. Quando estava quase pegando no sono, ouviu passos na areia e pensou que poderiam ser pessoas andando por ali. Ao abrir a barraca, se deparou com coiotes tentando pegar sua comida. Ela gritou, tentou espantá-los, mas eles não foram embora tão rápido.
Eu fiquei quase uma hora brigando e colocando eles para fora. Alguns pegavam as minhas coisas e eu ficava puxando. Foi horrível", conta.
Depois de inúmeras tentativas, eles foram embora, mas era quase impossível dormir. Ela então arrumou suas coisas e, mesmo cansada, abandonou o lugar. "Eu estava exausta, chorava e não sabia o que fazer. Por sorte, no meio do caminho, um casal de idosos me acolheu na casa deles e me deixou dormir lá a noite inteira. Deitei e apaguei", relembra.
Em outra parte da viagem, ela vivenciou uma situação de violência doméstica no interior do México. Para ajudar a mulher que estava apanhando do marido, ela bateu no homem, que caiu desacordado. Todos foram para o hospital e quando a polícia chegou, ela disse que desejava denunciar o caso à polícia.
Os oficiais concordaram, mas disseram que ela também iria para a cadeia, já que o esposo da vítima foi agredido. "Eu me recusei a pagar propina e entregar meu passaporte.
Passei dois dias na cadeia, mas no final foi até que confortável. Tomei dois banhos, comi comida fresca. Encarei como um quarto de luxo", relembra rindo.
Acidente grave na Costa Rica
No meio da viagem, ela foi em busca do vulcão Irazú, próximo da capital San José, na Costa Rica. Segundo ela, era o ponto mais alto e que alguém poderia visitar no país.
A viajante se lembra que estava descendo muito rápido com a bicicleta e, por um minuto de distração, perdeu o equilíbrio e sofreu um grave acidente.
A bicicleta foi para um lado e eu fui para o outro. Bati a cabeça, o rosto e desmaiei. Fui achada por um moço de uma van que me encaminhou para o hospital", diz.
Como estava sem seguro viagem, ela foi para um hospital público do próprio país. Os sintomas só pioravam até que ela não sentia mais os dedos. Depois de receber algumas medicações e repousar por dias, ela deixou o local e foi para o Panamá tentar seguir com a viagem.
No entanto, o acidente foi grave, a deixou impossibilitada de seguir com o roteiro e ela precisou voltar ao Brasil para fazer um tratamento especializado.
"Presa" no Equador
Por causa da pandemia de coronavírus, a ciclista precisou interromper a viagem e ficar mais tempo em um lugar fixo. No meio desse processo, ela chegou a voltar para o Brasil e não viajou por meses.
Depois da abertura de algumas fronteiras, Juliana voltou para o Equador, onde tinha parado a viagem e pretende chegar até o Ushuaia no próximo ano. "Estou pedalando por trilhas, estradas de terra e sigo bem isolada. Venho para as cidades para me reabastecer e, quando posso, fico em albergues", conta.
Até o momento, ela não faz muitos planos para 2021. "
Chegar ao Ushuaia não é mais um projeto, viver na estrada já virou parte da minha rotina e hoje isso é a minha vida. Se eu chegar na Argentina, não vou parar de viajar pelo mundo."
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