Pandemia faz escalador deixar Cirque du Soleil para criar murais no Brasil
A cada passada de pincel, uma parede apática vai ganhando vida. Das mãos do designer e escalador profissional Renan Gradaschi, 38 anos, murais de árvores tomam forma, fazendo brotar um pedaço de uma floresta dentro de casa.
E não é exagero do repórter. O desenho de uma figueira, feito em Itajaí (SC) e que ilustra esta matéria, salta aos olhos pelo realismo.
Por trás das pinturas, Renan e a esposa, a fotógrafa Melissa Loretto, 40, acumulam uma história de vida quase nômade.
Desde 2012, Gradaschi trabalhava no Cirque du Soleil como rigger, como é chamado o responsável por preparar as estruturas para colocar nas alturas os acrobatas. Em março do ano passado, a turnê estava na Espanha e se preparava para ir à França e Israel, mas a pandemia do coronavírus chegou e alterou os planos da companhia. O escalador teve que voltar ao Brasil com a esposa e o filho de 4 anos e, quatro meses depois, acabou sendo demitido.
A mudança repentina fez o casal reativar a empresa Apé, que em tupi-guarani significa caminho. A iniciativa foi criada em 2017, quando o casal ainda morava no Brasil, durante a passagem da turnê por aqui. Mas a ida para a Espanha, em 2018, acabou engavetando o projeto.
Passados três anos e já no Brasil, a família primeiro ficou cinco meses isolada em Bombinhas, no litoral de Santa Catarina, devido à pandemia.
"A gente ficou dois a três meses sem saber o que fazer", conta Melissa. No final de agosto, o casal começou a fazer os primeiros contatos para a produção dos murais. Os pedidos passaram a aparecer próximo de onde estavam, mas logo a família precisou pegar a estrada e ir a outros Estados.
"Começaram a surgir pedidos em Balneário Camboriú (SC), depois a gente desceu para Soledade (RS), Boqueirão do Leão (RS), e agora a gente vai voltar para Santa Catarina e depois ir para São Paulo e Minas Gerais", conta Renan, dois dias antes de deixar o Rio Grande do Sul.
A vida itinerante também mudou o conceito de casa para a família. "Como não temos uma casa física, moramos no carro, ou ficamos na casa de um familiar, ou reservamos um hostel ou acampamos", conta o escalador profissional.
Melissa adianta que a falta de rotina só foi possível após o filho ficar maior. "Quando o Joaquim nasceu, o trabalho era mais localizado. Nos primeiros dois anos, a gente morava em Balneário Camboriú", conta.
Na divisão das tarefas, Renan é responsável pela produção dos murais. Já Melissa faz as fotografias e os contatos com possíveis interessados.
Técnica foi mudando com o passar do tempo
O designer admite que a técnica utilizada nos murais foi se aperfeiçoando e mudando ao longo dos anos. "Os primeiros murais foram para amigos. Um dizia: "quero pintar o muro da casa". Foi muito experimental, fui tentando de uma coisa para outra", relembra. A figueira que ilustra a reportagem foi feita em uma escola de ioga de um amigo, por exemplo.
Para os murais, Renan costuma usar spray, tinta acrílica e canetas de marcação. Cada desenho é pensado e produzido de maneira individualizada. "Tento primeiro visualizar local para surgir uma ideia, mas eu também posso perguntar para quem nos chamar o que quer. Geralmente as pessoas me pedem árvores", relata o designer.
Normalmente, cada painel leva um dia para ser feito, mas pode demorar um pouco mais, como foi o caso da figueira desenhada em Itajaí, concluída em três dias. Só a parede de fundo tem 5 metros de largura e 3 de altura.
Ok, mas vamos ao que interessa: quanto custa? O valor dos painéis varia conforme o tempo de produção, tamanho do desenho que o cliente deseja e dificuldade para a execução do trabalho. Também é levado em conta para o cálculo os custos de deslocamento. Segundo Melissa, são cobrados a partir de R$ 800.
Casal se conheceu em viagem para Índia
Renan é gaúcho e Melissa paulistana e se conheceram em uma viagem para a Índia em 2015. Os dois foram fazer um curso de vedanta, uma das filosofias que compõe a ioga. Ambos foram com amigos e permaneceram cerca de 50 dias em curso. Depois, partiram para outros destinos. Ao todo, cada um ficou cinco meses na Ásia.
Ao final do curso, Melissa seguiu para a Tailândia enquanto Renan foi para o Nepal. No meio do caminho, ele acabou se deparando com um terremoto que deixou mais de 8 mil mortos. "Meu irmão olhou para mim e disse: "vamos ficar aqui". De tarde teve o terremoto. Vi mais destruição quando voltei para Katmandu (capital do Nepal)", conta Renan, que não se feriu.
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