Aeroporto para ETs e inscrições rupestres surpreendem na Serra do Roncador
Quando Dionísio Carlos chegou em Barra do Garças, há quase 40 anos, esse município de Mato Grosso vivia uma febre.
Não era uma busca por ouro nem oportunidades de trabalho. Era gente do mundo inteiro, a procura de mestres espirituais e portais para outras dimensões. "Dizem que é aqui onde existem essas entradas para os mundos interiores", explica Dionísio.
Sua fama mística, alimentada também pelo assobio do vento entre rochas e pelos desaparecimentos misteriosos na região, garantiu títulos ao local como Portal para Atlântida e acesso para Terra Oca.
É no Parque Estadual da Serra Azul, a mais de 500 quilômetros de Cuiabá, que fica o polêmico projeto do já falecido vereador Valdon Varjão, de 1995, que deu origem a um discoporto, um "aeródromo intergaláctico" para espaçonaves.
À época, a obra foi aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal local, em função dos diversos relatos de aparições de OVNIs na região. Trata-se de uma réplica de uma nave e de uma placa de metal, em que o visitante pode tirar fotografias, fantasiado de extraterrestre.
No entanto, o discoporto deve ser repaginado com um projeto já aprovado pelo conselho consultivo do parque, avaliado em R$ 100 mil, mas que ainda aguarda trâmites da Prefeitura de Barra do Garças.
"Atualmente, o atrativo não tem uma proposta de interação, nem um enredo. Queremos algo que seja não só lúdico mas que também agregue conhecimentos ao visitante", defende Cristiane Schnepfleitner, gerente regional do parque.
Para essa analista de meio ambiente da SEMA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente), o local deve ser um espaço provocativo e não um atrativo que cause apenas graça.
Assim como explica Dionísio Carlos, arquiteto responsável pelo novo aeroporto de extraterrestres, será um mirante dentro de uma réplica de uma nave e funcionará como um espaço interativo com painéis sobre dados sobre a Terra e o Espaço.
Segundo Dionísio, a cenografia do local com iluminação de LED solar e estrutura de aço galvanizado é inspirada nos crop circles da Inglaterra, como são conhecidos os círculos que aparecem, misteriosamente em plantações, chamados também de agroglifos.
Mais mistérios
Fechada para visitação pública, mas ainda fresca no imaginário de muitos moradores, a Gruta dos Pezinhos é outra daquelas atrações sem explicações no Parque Estadual da Serra Azul.
Com uma autorização especial da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, visitamos esse sítio arqueológico suspenso em uma encosta do parque, com inscrições rupestres de idade indefinida, como os desenhos de pés com até seis dedos cada um.
Ainda não há um estudo fechado sobre sua origem, mas acredita-se que aquelas inscrições tenham sido feitas por grupos nômades, em uma área usada para rituais, há cerca de 3 mil anos.
Uma das hipóteses é a de que os pés, que possuem de três a seis dedos cada um, eram usados para contagem de pessoas.
"É como uma aula viva", define Carlos Augusto Santos Muniz, analista de Meio Ambiente.
O local, que está em processo de tombamento pelo Iphan, tem também gravuras de patas de animais e alusão a órgãos sexuais.
"Pelos desenhos e pela estrutura, nos leva a crer que era um lugar onde se fazia algum tipo de sacrifício, algum culto", completa Muniz.
No entanto, o segredo melhor guardado na região turística da Serra do Roncador, como o destino é conhecido, é o desaparecimento de um britânico que buscava um portal de acesso à Atlântida.
Em 1925, o coronel Percy Fawcett desapareceu na região, acompanhado de outras duas pessoas, quando fazia uma expedição em busca de um local sagrado que ele chamou de Cidade Z.
Jamais encontrado, vivo ou morto, Fawcett ficou conhecido como o Verdadeiro Indiana Jones, por ter inspirado o cineasta Steven Spierlberg na criação do personagem homônimo.
Turismo pé no chão
Na região da Serra do Roncador, o turista também encontra atrativos terrestres.
Aberta em 2019, após um incêndio que consumiu 85% do parque, em 2014, o Serra Azul abriga também a Trilha das Cachoeiras, um circuito de 2,3 quilômetros que leva o visitante a diferentes quedas d'água.
Do Mirante do Cristo, com acesso por uma escadaria de 1.204 degraus, dá para ver não só o encontro dos rios Araguaia e Garças mas também a pista do pequeno aeroporto da vizinha Aragarças, palco do primeiro sequestro aéreo da história da aviação brasileira.
Em 1959, um Constellation da empresa Panair que ia do Rio para Belém foi desviado até a região, uma das ações na tentativa de um golpe para derrubar o então presidente Juscelino Kubitschek. O movimento ficou conhecido como "Revoltoso do Veloso".
Barra do Garças é conhecida também pelas praias de rio que se formam na temporada da vazão do Araguaia, entre julho e outubro, aproximadamente.
Além disso, a cidade serve de base para quem visita a região turística da Serra do Roncador, uma cadeia de montanhas com centenas de cachoeiras escondidas em áreas particulares com acesso apenas com o acompanhamento de guia, como o Complexo do Bateia, e outras em propriedades abertas para visitantes que viajam por conta, como a impactante cachoeira Água Limpa, no Assentamento Serra Verde, a 42 quilômetros de Barra do Garças.
Para quem planeja visitar os mistérios e belezas locais, o aeroporto de Barra do Garças fica a cerca de 15 quilômetros do centro dessa cidade mato-grossense, na divisa com Goiás.
Porém, uma alternativa para os poucos voos que chegam ali, operados apenas pela Azul é desembarcar em Goiânia (380 quilômetros de distância) ou Cuiabá (500 quilômetros, aproximadamente) e de lá seguir em carro alugado ou transfer contratado em Barra do Garças.
Dessas capitais, de ônibus, a viagem dura de 6h30 a 10h.
* O jornalista Eduardo Vessoni viajou com o apoio da Roncador Expedições.
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