Pão com leite condensado e filé com ketchup: os gostos peculiares do poder
Logo no primeiro dia que se sentou à sua mesa no Salão Oval da Casa Branca, o presidente Joe Biden já a tinha toda decorada para ele: fotos de sua família, um retrato de Benjamin Franklin a substituir a pintura de Andrew Jackson que Donald Trump tinha exigido pendurar ali.
Mas chamou especial atenção dos repórteres que cobrem a rotina presidencial que o icônico botão vermelho que ficava sobre a mesa, e que seu antecessor pressionava toda vez que queria beber uma Diet Coke gelada, tenha sido retirado.
Trump acionava o botão algumas dezenas de vezes ao dia, dizem os jornalistas, e um mordomo adentrava a sala com a lata reluzente sobre uma bandeja de prata. A compulsão de Trump por refrigerantes e fast food nunca foi uma novidade.
Banquete fast food
Conta um de seus antigos organizadores de campanha, Corey Lewandowski, que no Air Force One "havia quatro grandes grupos de alimentos: o McDonald's, o Kentucky Fried Chicken, a pizza e a Diet Coke".
Sempre que terminava uma de suas apresentações de campanha, ainda antes de seu mandato, Trump comia dois Big Macs, dois Filet-O-Fish e um chocolate maltado enquanto seus assessores o atualizavam sobre números e repercussões.
Em muitos casos, todavia, algumas reuniões do ex-presidente chamavam mais atenção mais pelo que ele comia em almoços e jantares oficiais do que pelas ideias discutidas ali.
Em 2017, a sua predileção por cobrir um filé bem passado com quantidades exageradas de ketchup ficou clara em um almoço no restaurante BLT Prime by David Burke, em Washington, e ganhou as manchetes de muitos jornais, não apenas nos EUA.
Milhões em leite condensado
Nesta semana, causou comoção a lista de compras e os altos gastos milionários do governo federal para adquirir itens como chicletes, sucos instantâneos, sagu e leite condensado.
Só com o último item foram gastos R$ 15,6 milhões — custo anual para encher a despensa dos órgãos do governo com o ingrediente tão popular nas sobremesas brasileiras (que vai do brigadeiro a pavês).
Bolsonaro, antes mesmo de assumir a faixa presidencial, já tinha mostrado sua inclinação pelo leite condensado: em 2018, trajando bermuda e camiseta, recebeu a reportagem do Jornal Nacional em sua casa para um café da manhã.
Em dado momento, cobriu um pão francês aberto ao meio com o líquido que verteu direto da embalagem e confessou, em horário nobre, que aquela era uma de suas receitas preferidas para o desjejum.
Pegando carona na divulgação, algumas padarias no Rio de Janeiro passaram a comercializar a combinação invulgar. Na altura, a Flor da Tijuca, na zona norte da cidade, criou uma versão do pão com leite condensado na chapa, batizada em homenagem ao presidente.
Para todos os gostos
À direita ou à esquerda, os gostos peculiares dos líderes políticos sempre foram notícia e causaram reações diversas em seus apoiadores e opositores. Algumas vezes, até, como arma de crítica.
Durante uma viagem a Istambul, o presidente Nicolás Maduro, da Venezuela, causou controvérsia na cena gastronômica e política ao se sentar para jantar no restaurante do "acrobata do sal" Nusret Gökçe, chef também conhecido pela alcunha de Salt Bae nas redes sociais, onde ficou famoso por temperar suas carnes com sal de modo pomposo.
Em vídeos que vieram a público, Maduro se deliciou com um filé de US$ 275 enquanto os venezuelanos não conseguiam encontrar carne para vender nos açougues da cidade, por conta da escassez de alimentos.
Até hoje, há uma crise de alimentos insaturada no país, onde as compras são racionadas (e limitadas por pessoa, como no caso da carne, cujo quilo pode representar até 5 vezes o salário mínimo local) e muitos moradores sofrem de fome e desnutrição.
Personalidades no prato
Historicamente, o gosto alimentar dos presidentes e líderes políticos sempre foram escrutinados por historiadores e seus biógrafos por dizerem muito sobre a personalidade de cada um.
Desde a predileção de Thomas Jefferson por mac'n'cheese ao vegetarianismo de Adolf Hitler, dos churrascos organizados pelo ex-presidente Lula para governantes mundiais ao hábito da rainha Elizabeth II, da Inglaterra, bebericar sempre seu London Dry gin — que a incentivou até a lançar um rótulo no mercado.
Nos últimos anos, contudo, com a internet e a propagação das redes sociais, as refeições, que eram, não raro, privadas, tornaram-se públicas. E sabemos mais dos gostos dos nossos (possíveis) representantes.
Comida de campanha
Também a comida passou a ser uma ferramenta de marketing para muitos deles, numa tentativa de se mostrarem mais próximos à população. Não é difícil ver um político em campanha com os dedos lambuzados de óleo por conta do pastel que comem na barraca da feira, acompanhado de caldo de cana.
Cachorro-quente, churrasco no espeto e comidas típicas são as mais recorrentes nesses momentos para mostrar uma postura humilde, mais popular.
Mas é na mesa que a personalidade deles mais se revela, tanto em almoços palacianos ou jantares de negócios em restaurantes — ou até no café da manhã em suas residências, as oficiais ou não.
Fato é que o que os políticos escolhem colocar da boca pra dentro pode dizer tanto sobre eles quanto promessas e planos de governo, que, aliás, são mais suscetíveis do que a escolha da sobremesa.
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