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Diante de inverno com restrições, hotéis e restaurantes têm que "hibernar"

Após verão otimista, restaurantes e hotéis do Hemisfério Norte passam inverno apreensivos - Getty Images/Bloomberg Creative
Após verão otimista, restaurantes e hotéis do Hemisfério Norte passam inverno apreensivos
Imagem: Getty Images/Bloomberg Creative

Rafael Tonon

Colaboração para Nossa, do Porto (Portugal)

01/02/2021 04h00

Depois de um verão surpreendentemente positivo na Europa, em que os restaurantes e hotéis finalmente voltaram a receber os visitantes perdidos pela pandemia no inicio de 2020, o inverno, que tinha tudo para ser uma promissora estação, veio congelar as expectativas positivas de toda a gente.

Com o aumento exponencial de casos da covid-19 — que levou a recordes nos números de infectados e de mortes em muitas partes do continente — muitos países voltaram a restringir ou até encerrar totalmente suas atividades de comércios e serviços. Assim, muitos negócios da área de hospitalidade se viram obrigados a "hibernar".

As primeiras semanas de inverno começaram bem nas Casas da Lapa, na pequena aldeia de Lapa dos Dinheiros (com 150 habitantes), na Serra da Estrela, em Portugal. A região é conhecida por ser um destino bastante procurado no inverno, quando as serras ficam invariavelmente cobertas de neve.

Turismo aquecido

Nesse ano, não foi diferente: 2021 começou com uma frente fria tão forte que fez nevar até mesmo em Madri, a capital espanhola. Na Serra portuguesa, entretanto, turistas locais correram para fazer reservas e garantir hospedagem com vista para a paisagem pintada de branco.

Casas da Lapa, em Portugal - João Armando Ribeiro/Divulgação - João Armando Ribeiro/Divulgação
Casas da Lapa, em Portugal
Imagem: João Armando Ribeiro/Divulgação

Nos últimos meses, os territórios de baixa densidade se tornaram ainda mais atrativos. "Ficamos completamente cheios todos os finais de semana e até mesmo em alguns dias da semana", conta Maria Manuel, proprietária do pequeno hotel de luxo com 15 habitações, spa e piscina aquecida. "Tinha tudo para serem ótimos meses".

Mas com as infecções e óbitos a saírem do controle (chegou ao nível de quase 300 mortos em um só dia), o governo decidiu impor, a partir do dia 15, medidas mais rígidas, que envolveram fechar restaurantes e impedir a circulação entre as cidades em alguns períodos.

De um dia para o outro, os hóspedes passaram a cancelar suas reservas; não vimos outra opção senão fechar completamente até segunda ordem", afirma Manuel, que espera poder reabrir em março.

Ainda que os hotéis não tenham sido impedidos pelas medidas locais de operar, as limitações de deslocamento e a gravidade da situação não possibilitaram outra saída, ela diz. "Estávamos completos até o final de fevereiro, e temos que lidar com esse revés em um período tão positivo".

Casas da Lapa, em Portugal - João Armando Ribeiro/Divulgação - João Armando Ribeiro/Divulgação
Casas da Lapa, em Portugal
Imagem: João Armando Ribeiro/Divulgação

A empresária garante que vai aproveitar o tempo de confinamento para fazer algumas pequenas obras e reavaliar estratégias. "Não estaremos totalmente parados, mas planejando tudo para quando pudermos voltar a receber", afirma.

Reabertura para celebrar

Desde que foi obrigado a fechar as portas de seu restaurante de alta cozinha na pequena O Grove, na Galícia, em novembro passado, o chef Javi Olleros tem seguido a mesma filosofia: preparar-se para quando os clientes voltarem a ocupar as mesas de seu Culler de Pau.

E a sua alta expectativa tem uma justificativa especial: uma semana após a imposição do fechamento pelo governo local, o restaurante de Olleros foi agraciado com duas estrelas Michelin na premiação espanhola. O primeiro a receber a condecoração na região galega, no norte da Espanha.

Javi Olleros - Divulgação - Divulgação
Javi Olleros
Imagem: Divulgação

"Ainda não servimos aos clientes nossa comida duplamente estrelada", brinca o chef. "Normalmente, novembro e dezembro são ótimos meses para estarmos abertos. Em mais de uma década abertos, temos sempre muita procura nessa época", explica ele, que costuma tirar férias em fevereiro.

Neste ano, entretanto, as próximas semanas devem ser de trabalho.

Quero aproveitar o tempo para estar melhor preparado quando isso se normalizar um pouco. A calma pode ser uma boa alavanca para desenvolvermos a criatividade", afirma Olleros, com otimismo.

"Eu tento olhar para o futuro com esperança, já que tem sido um ano muito difícil mesmo. Não poder atender os clientes e pagar as contas sem abrir deixa tudo pior, claro", diz.

Restaurante Culler de Pau - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Equipe do restaurante Culler de Pau
Imagem: Reprodução/Instagram

O cozinheiro e empresário conta que conseguiu juntar alguma economia nesses onze anos, o que vai permitir que volte a funcionar nos próximos meses. "Se abrirmos no verão já será muito interessante", espera.

Poupar energia

Em outros países do Hemisfério Norte a situação se repete. Nos EUA, onde a pandemia parece não conseguir ser controlada pelo governo, com números sempre agravantes, restaurantes também foram obrigados a fechar.

O grupo de restaurantes de comida latina Orinoco, em Boston, colocou dois de seus três restaurantes para "hibernar" desde novembro. Isso até estarem mais seguros e rentáveis para voltarem a operar, como explicaram em suas redes sociais.

Os sócios disseram que foi preciso fazer uma projeção e muita matemática para chegar à conclusão que o fechamento de duas unidades iria ajudar o grupo a "poupar energia'', como fazem os ursos nos meses mais frios.

"É uma decisão muito difícil, mas à medida que passamos para um clima mais frio, isso aumenta as complicações e incertezas", diz o texto postado no Instagram.

Orinoco, em Boston - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Orinoco, em Boston
Imagem: Reprodução/Instagram
Restaurante vai "hibernar" - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Restaurante vai "hibernar"
Imagem: Reprodução/Instagram

As baixas temperaturas e a restrição dos restaurantes em muitos estados do país de só poderem atender nas áreas externas afugentou os clientes.

Não fazia sentido mantermos tudo aberto. Para que nosso negócio consiga passar por essa prolongada pandemia, precisamos reforçar a nossa base, e isso só pode acontecer gerindo nossas despesas".

O único Orinoco que se mantém aberto fica na região de South End e é o maior deles, servindo pratos das cozinhas venezuelana, colombiana e até brasileira.

"Temos a acalentada esperança de que quando as nuvens começarem a limpar no céu, voltaremos a abrir todas as unidades", eles apostam. Até lá, os termômetros deverão marcar maiores temperaturas.