"A casa é a nossa segunda pele": conheça Guto Requena do Queer Eye Brasil
"Sim, sou um Queer Eye. Vou me esforçar para fazer o melhor papel do design brasileiro". Essas são as poucas palavras usadas por Guto Requena para antecipar a sua participação no reality show da Netflix, que recentemente teve sua versão brasileira anunciada, com previsão de estreia ainda neste ano.
"A primeira versão do Queer Eye de 2003 foi, certamente, a primeira vez que assisti a uma série que colocava cinco homens gays numa postura de orgulho, felicidade e empoderamento na TV. Bem diferente do menino de 13 anos que vivia no interior de São Paulo e sofria dentro do armário, envergonhado por não conseguir entender seus desejos", conta.
Aquela série me impactou muito, eu queria poder ser feliz como os personagens de Queer Eye. Quinze anos depois, quando a Netflix criou a nova versão do reality show, aquele menino tentando se encontrar era uma lembrança de uma parte que ficou pra trás"
Aos 41 anos, Guto representa uma nova geração de arquitetos e designers envolvidos na discussão da interatividade e seus efeitos na arquitetura e no design.
Tudo isso começou na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, onde nasceu, e ganhou continuidade em Araçoiaba da Serra, onde o pai tinha um sítio.
Filho único, foi em meio a cavalos e cabanas que seus primeiros passos profissionais — embora ainda não tão articulados — começaram a nascer.
"Eu não tenho ninguém arquiteto na minha família", conta ele para Nossa. "No sítio, costumava brincar de cabaninha e, desde muito cedo, falava que queria fazer isso quando crescesse".
Os primeiros rascunhos, que o levaram a exposições em todo o mundo, desde a Europa até os Emirados Árabes, na verdade, eram "rabiscos", como mencionado por ele, marco de uma adolescência que aspirava por criatividade.
"Aos 15 anos, eu desenhava nas carteiras da escola", relembra ele aos risos. "Quase fui suspenso algumas vezes, mas isso acabou se mostrando um caminho pelo qual eu ia trilhar a minha vida".
Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Escola de Engenharia de São Carlos e mestre pela Universidade de São Paulo, Guto fundou, em 2008, o estúdio que leva seu nome. Desde então, tem atuado como consultor de design, escritor e professor, além de desenvolver arquitetura de interiores, instalações interativas e design de produtos.
Para ele, o trabalho de arquiteto e de designer tem como intuito "emocionar e estimular a empatia", destacando ainda o uso da tecnologia como um dos seus principais instrumentos para alcançar ambos os pontos.
"Acredito que a tecnologia venha, ao contrário do que muitos pensam, para humanizar", opina.
Bar interativo projetado pelo Estúdio Guto Requena
A tecnologia a nosso favor
Quando questionado sobre como define o seu trabalho, a palavra tecnologia é citada repetidas vezes pelo arquiteto: "É preciso repensar sobre a relação que temos com as nossas casas e como ela pode ser melhorada".
Embora seja desafiador — ou até mesmo impossível — encontrar uma vantagem sobre os tempos de pandemia do coronavírus, foi um momento no qual, para Guto, tal reflexão ganhou ainda mais pertencimento.
"Acho que esse momento fez com que as pessoas buscassem entender melhor a importância de onde vivem", opina. "Consequentemente, isso fez com que muitos buscassem espaços mais abertos e flexíveis".
Os cômodos que se transformam, como a sala de estar adaptada como escritório; a luz customizada por meio de aplicativos; e o maior uso de plantas na decoração são algumas das estratégias citadas por ele — que, inclusive, as aplica atualmente na reforma do seu próprio apartamento em São Paulo.
"Por mais que a ideia de ter plantas em casa não seja algo novo, agora na quarentena muita gente adotou pelo menos uma delas para apartamento", comenta.
É imediato o poder que as plantas têm de humanizar a casa."
Aproveitando o tema da conversa, Guto reflete ainda sobre como a pandemia despertou em muitos o espírito do DIY, ou "faça você mesmo", e como dispor objetos de decoração, mudar os móveis de lugar ou até pintar uma parede vai além da prática física.
Afeta, nos mais diversos sentidos dessa palavra, também o psicológico.
"A estrutura do lugar pode fazer uma pessoa mais feliz ou mais triste", opina. "Na minha opinião, pode tornar um casal ainda mais apaixonado ou até se separar. O ambiente precisa conversar com as pessoas que moram dentro dele".
A casa é como nossa segunda pele, nossa alma."
O padrão
Abrir o Instagram para distribuir likes inevitavelmente fará com que você esbarre, em determinado momento, em uma publicação inspiracional para a decoração da casa: pinturas geométricas, cimento queimado e samambaias — para citar alguns deles.
Mas até que ponto estamos abrindo o leque de opções ou meramente reproduzindo padrões?
Esse contraponto, na opinião de Guto, é consequência da geração atual: "Isso é um fenômeno da nossa era. Todo mundo ouve a mesma música e decora a casa da mesma maneira".
O argumento sustentado por ele, como conclusão, é de que a importância das redes sociais vai acima disso: cumpre o papel de democratizar a informação.
"Eu acho que, por meio dessa tecnologia, as pessoas ganham informação de maneira mais democrática. Não é preciso ter grana para comprar uma revista importada. Ainda mais além, não necessariamente é preciso ter grana para comprar o que te inspirou", conclui.
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