Com sistema de saúde em colapso, brasileira deixa Portugal e relata tensão
Após mais de três anos, a jornalista carioca Isabella Belli, 39 anos, decidiu deixar a cidade de Braga, em Portugal, e voltar para o Brasil. Mas o retorno ocorreu justamente no pior momento da pandemia do coronavírus no país europeu e em meio a uma série de medidas restritivas para circulação de pessoas - os aeroportos suspenderam voos e ontem a fronteira com a Espanha foi fechada.
Em Portugal, foram registrados mais de 300 mortes no domingo (31), o que fez o país pedir ajuda internacional nesta terça (2).
A brasileira, que iria voltar para o país acompanhada do namorado, o angolano Aladino Borges, 29, tinha passagens compradas para o dia 31 de janeiro. Porém, três dias antes o governo português anunciou a suspensão de voos com origem ou destino para o Brasil a partir do dia 29 de janeiro. Às pressas, ela decidiu antecipar o voo para a manhã de sábado (30) e ir primeiro para Madri, para onde as viagens de avião ainda estavam autorizadas.
Mas, para conseguir pegar o voo, precisavam apresentar exames, comprovando que não estavam com covid, e que deveriam ser aceitos tanto na Espanha quanto no Brasil. O problema é que, com as mudanças repentinas, não teriam a comprovação de não estarem com a doença até a hora do embarque — em Portugal, a maioria dos testes levam 24 horas para ficar prontos.
Saga entre Portugal e Espanha
"Então achamos um laboratório em Matosinhos, região litorânea da cidade do Porto, que liberava o resultado em até cinco horas, mas cada teste sairia por 150 euros." O exame foi feito de manhã de sexta (29) e, à tarde, já tinham o resultado.
Dali, precisavam ir até Porto, a 47 quilômetros de distância, para pegar o avião até a capital da Espanha. Só que a polícia portuguesa proibiu a circulação de pessoas aos finais de semana entre os conselhos, como são chamados por lá os municípios. Isabella e o namorado decidiram arriscar e ir na madrugada de sábado (30). Mas a carona acabou desistindo, por medo.
"Uma das amigas que iria nos levar ao aeroporto ficou com medo de sermos pegos e desistiu de ir. Tivemos que, em cima da hora, correr para achar alguém que quisesse nos levar. Se a polícia nos pegasse poderia, no mínimo, multar cada um em 800 euros e o pior, não deixar chegar ao aeroporto", conta Isabella.
Trancados em aeroporto
Por sorte, não foram barrados, mas só entraram no avião às 8h do outro dia. Ao chegar na capital espanhola, o clima era de guerra, segundo a jornalista.
A cena no aeroporto era a seguinte: praticamente vazio, cheio de policiais armados com fuzil e escudos e com pessoas dormindo no chão."
Além disso, o casal não podia sair do terminal e, por isso, ficaram 36 horas trancafiados no aeroporto - das 10h de sábado (30) até 22h do dia seguinte. "Caso fizéssemos isso (saíssem do terminal), não poderíamos entrar novamente sem um novo teste covid. Já que não tínhamos dinheiro para isso, porque seriam mais 300 euros em teste, decidimos dormir no aeroporto mesmo. Montamos um canto para gente e revezávamos o sono para cuidar das malas."
Desabafo e descaso
No terminal só havia máquinas de lanches e uma cafeteria que ficava aberta só pela manhã. Da manhã de sábado, Isabella e o namorado ficaram até o dia seguinte, quando viriam para o Brasil. Em uma rede social, a jornalista desabafou:
"É por culpa dos portugueses que não tomaram os devidos cuidados contra a covid-19, que nós estamos passando a noite no aeroporto de Madri. Nós e uma galera! Todos de máscara, besuntados de álcool em gel e carregando folhas e mais folhas com resultados de exames PCR e formulários de saúde! Ainda não sei por que me surpreendo e me indigno!?", disse a jornalista, em uma postagem marcada às 2h52.
No final da noite de domingo, Isabella e Aladino finalmente pegaram o voo para o Brasil.
Meu avião veio lotado da Espanha de brasileiros fugindo. Parecia que uma guerra iria estourar a qualquer momento. Eu só chorava. Foi horrível! Eu só fiquei aliviada quando o avião decolou para o Brasil."
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