Em plena pandemia, casal se isola nos Andes para ver eclipse e condores
No final de 2020, a brasileira Camila Stano (@camilastano_) pegou suas mochilas e, junto com o namorado, Nelson Ortiz de Zárate (@ortizdezarate_), viajou para o Chile, para passar dois meses no país vizinho. O objetivo era visitar a família de Nelson (que nasceu na terra de Pablo Neruda) e, logicamente, realizar algumas viagens por lá.
E o casal levou a sério a necessidade de fazer turismo com isolamento durante a pandemia: eles conseguiram um carro e dirigiram, só os dois, para o meio da Cordilheira dos Andes, para explorar locais ermos e quase sem humanos à vista.
"Saímos da cidade de Talca (a aproximadamente 260 quilômetros da capital chilena, Santiago) e concentramos nossa viagem na região de Maule, que tem lindos lugares remotos de natureza. A ideia era fugir de qualquer aglomeração", conta Camila.
O trajeto foi, em boa parte, improvisado, com os viajantes entrando em vias no meio das montanhas para tentar encontrar paisagens bonitas.
Nestas incursões, eles se depararam frequentemente com cenários montanhosos fotogênicos, vales profundos, rios e extensas áreas onde não havia nenhuma outra pessoa.
Fenômenos no céu
O casal, porém, também tinha metas claras na jornada. Uma delas era ver, de perto, um dos animais mais representativos dos Andes: o condor.
Apesar de ser uma ave difícil de ser avistada ao longo da cordilheira, Camila e Nelson conseguiram chegar a um verdadeiro paraíso destes animais, em uma região chamada Valle de los Cóndores.
"É uma área cheia de ninhos destas aves. É possível vê-las voando de perto", relata Nelson.
Camila, por sua vez, diz que "quando estávamos lá, vários condores chegaram muito perto da gente. Alguns desciam e pousavam na estrada. Eles têm asas enormes. Foi uma das visões mais maravilhosas da viagem".
O casal também relata que a proximidade destes bichos alados com os humanos é, provavelmente, algo raro de ocorrer na área.
Cruzamos com pessoas que passam direto por esta região. Todas elas estavam surpresas ao ver os condores tão de perto. Parece que isso raramente acontece. Acho que demos sorte ao presenciar este espetáculo. Foi impagável", comemora a brasileira.
E o casal também achou um local propício para admirar o eclipse solar (que estava previsto para acontecer sobre o Chile no dia 14 de dezembro).
No dia do fenômeno, eles pararam em uma área cercada por lindas montanhas e, deitados sobre o solo andino, viram a lua cobrir quase totalmente o sol.
"Sentimos, nesta hora, o forte poder que o sol tem sobre a Terra", relembra Nelson. "Quando escureceu, caiu muito a temperatura. E quase tudo ficou cinza".
Os dois dizem que, no dia do eclipse, não havia quase ninguém à vista. "Estávamos em um lugar muito remoto. Conseguíamos ver outros poucos viajantes lá longe, no horizonte. Por um lado, gostaria de ter presenciado este espetáculo com mais pessoas, para ter uma experiência de emoção coletiva e ver todos aplaudindo o eclipse. Mas também foi legal curtir a visão de maneira isolada e contemplativa", relata o chileno.
Além disso, o casal teve a oportunidade de admirar a Cascada Invertida - uma cachoeira cuja água cai por um penhasco e, no meio da queda, é empurrada para o alto pelos fortes ventos que varrem a área.
"A queda d'agua desaparece no meio do caminho. É um lugar incrível", afirma Camila.
Camping nas montanhas
O casal acampou na cordilheira. E, para isso, teve que se preparar para enfrentar o agressivo clima que existe nos Andes.
Mesmo durante o verão, a temperatura da área pode atingir níveis baixos tanto durante o dia quanto à noite.
"Montávamos a barraca atrás de muros de pedras, que são construídos por praticantes de montanhismo no Chile como proteção contra o vento", explica Nelson.
Trazida no carro, a comida, por sua vez, era preparada com a ajuda de um fogão portátil ou com grelha e lenha, sobre o solo (e com os toques especiais de Camila, que estudou gastronomia e já trabalhou em cozinha de restaurante).
Cogumelos, verduras e carnes faziam parte do cardápio — tudo frequentemente acompanhado, logicamente, por vinho chileno. E os pratos tinham que ser devidamente raspados: "não podíamos deixar restos de comida ao ar livre, pois raposas são atraídas pelos alimentos", explica a brasileira.
O encontro com estes indesejados animais, por sorte, não aconteceu. E a parte noturna da viagem chegou a ser embelezada por outro espetáculo natural.
"Durante um dos jantares, ficamos admirando o céu estrelado. Esta área do Chile não deve nada ao Atacama. O céu à noite, no meio da cordilheira, é perfeito", elogia Nelson.
Como explorar as montanhas de Maule
O casal retornou ao Brasil só agora no final de janeiro — e tem dicas para quem sonha em visitar esta parte do Chile que foi explorada pelos dois.
"No verão, grande parte da neve desta área da cordilheira está derretida. É uma boa época para fazer longas caminhas e escaladas na região. E, lá, há lindas cachoeiras além da Cascada Invertida, como a Salto del Maule, um queda d'água enorme que é uma coisa maravilhosa", sugere Nelson.
É também necessário ter em mente que a área é marcada por grandes altitudes, que passam facilmente dos 2.000 metros sobre o nível do mar — e que podem gerar mal-estar em algumas pessoas.
"Quem vai para lá, tem que saber que irá enfrentar um clima austero. Tem muito vento, muito frio e, às vezes, muito sol. Não há árvores para buscar uma sombra, a água é gelada e o ar é seco", avisa Nelson.
O chileno também conta que, para o tipo de viagem que eles realizaram, foram utilizadas uma barraca com boa resistência contra chuva, sacos de dormir, colchões portáteis de camping, roupas impermeáveis e preparadas para o frio, calçados feitos para trilhas e um kit para cozinhar, com panelas, pratos, talheres, fogão portátil e compartimentos térmicos para conservar a comida.
E é preciso, logicamente, ter um carro e saber dirigir com cuidado pela Cordilheira dos Andes, que pode apresentar trechos perigosos para os viajantes.
"Passamos por áreas propensas a deslizamentos. Em um dos trechos, nos deparamos com enormes rochas que haviam acabado de cair na estrada. Deu medo", lembra Camila.
A brasileira, contudo, afirma que a viagem vale muito a pena: "é um lugar perfeito para viver uma experiência de montanha".
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