Viajar para fumar maconha: brasileiros contam experiências pelo mundo
Além da Holanda, países fora da Europa têm legalizado ou descriminalizado a venda e o consumo da maconha em seus territórios e, com isso, atraído estrangeiros ávidos por praticar o chamado turismo canábico.
O termo designa viagens nas quais o principal objetivo da pessoa é curtir a erva em um ambiente de liberdade, sem o risco de enfrentar problemas com a polícia e com fácil acesso a baseados e afins.
Para saber como são estas jornadas cheias de fumaça, Nossa conversou com quatro brasileiros que já adotaram a prática em diferentes lugares do mundo.
André Mezzomo, 31 anos, de São Paulo (SP)
Destino da viagem canábica: Punta del Diablo, no Uruguai, em 2019.
Como foi a jornada: No território uruguaio, residentes têm permissão para cultivar e comprar maconha. Turistas, por sua vez, consomem a erva com tranquilidade por lá.
O brasileiro foi ao Uruguai na companhia de seu pai e de dois amigos: "Cresci em uma casa onde era permitido fumar maconha. E, na viagem ao Uruguai, fumei junto com meu pai".
André também relata que, certo dia, seu pai foi visitar uma amiga que é dona de uma pousada no litoral uruguaio. "Ao chegar lá, ele descobriu que ela possui uma plantação de maconha dentro da pousada".
André conta que, em Punta del Diablo, a maconha que ele fumava saía de uma loja que oferece um serviço completo: "é um lugar descolado onde os clientes podem escolher diversos tipos de maconha, com os vendedores explicando os diferentes níveis de intensidade de cada opção. É um trabalho muito profissional. As pessoas sabem exatamente o que irão fumar e quais efeitos irão sentir. E tudo a um preço honesto".
Além disso, o brasileiro afirma que foi inesquecível compartilhar uma viagem canábica com seu pai e dois amigos. "Foi muito interessante dividir baseados entre nós quatro. Éramos quatro grandes amigos curtindo juntos um ambiente de liberdade. Isso me marcou muito".
O turismo canábico no Uruguai é muito interessante. Foi muito legal poder fazer o uso recreativo da maconha livremente por lá. A gente fumava diariamente e, pelo que notamos, é normal as pessoas fumarem na rua.
Vimos até um casal de velhinhos queimando um. Talvez eu teria viajado para outro lugar se não existissem estas possibilidades".
Daniela Ishikawa, 42 anos, de Pindamonhangaba (SP)
Destino da viagem canábica: Estados Unidos
Como foi a jornada: "Por 30 dias, fiz a rota da maconha, passando por diversos Estados americanos onde a erva já estava legalizada, como Oregon e Colorado", relata a brasileira.
Daniela conta que se surpreendeu com a variedade de produtos derivados do cânhamo que são comercializados legalmente nos Estados americanos que ela visitou.
Eles vendem óleos, doces, bebidas e outras coisas bem diferentes. Mas, na viagem, só fumei, foi bem ao estilo do Bob Marley".
Foi nesta viagem que a brasileira fumou os baseados mais fortes de sua vida, todos comprados legalmente em lojas locais. "Senti que alguns deles eram meio alucinógenos".
E o mercado da hospedagem turística também está se adaptando a esta realidade. Ao buscar acomodação em plataformas de aluguéis de imóveis, ela dava prioridade para anúncios que traziam, em sua descrição, o número 420 (que significa que, nestas residências, é permitido consumir maconha).
Segundo a brasileira, aliar o consumo de maconha de qualidade com passeios turísticos foi um dos aspectos mais divertidos da viagem. Ela conta que a cidade de Portland, por exemplo, é cheia de deliciosos restaurantes, food trucks e docerias, perfeitos para matar a fome (ou larica) depois de fumar. "E, no Colorado, fiz lindas caminhadas na natureza, na área de Denver".
Ela relata que se divertiu degustando os diversos tipos de maconha que hoje estão disponíveis no país. "É um tipo de liberdade individual que todos deveríamos ter", afirma.
Marcos*, de São Paulo (SP)
Destino da viagem canábica: Jamaica, em 2017.
Como foi a jornada: Já há algum tempo, o brasileiro só viaja para lugares nos quais existem grandes liberdades envolvendo o consumo da maconha, como Uruguai, Califórnia e Barcelona. Na Jamaica, segundo ele, turistas conseguem fumar à vontade, apesar de haver diversas restrições para o uso da erva no país.
"Fiquei uma semana na ilha. Visitei locais como Montego Bay, Negril e Nine Mile [local de nascimento de Bob Marley]", diz. "As pessoas viam que eu era estrangeiro e tentavam me vender a erva. Até um policial perguntou se eu queria comprar maconha", lembra o brasileiro.
A viagem foi realizada na companhia de um guia, que o levou para conhecer plantações que existem em quintais de casas de jamaicanos e, também, em terrenos mais profissionalizados. Na ilha caribenha, provou um tipo de maconha que, para ele, era inédito, chamado One Love.
"Esta maconha é o perfume da Jamaica. Ela tem um sabor frutado, é extremamente cheirosa e pode ser sentida em diversos cantos do país".
Uma das experiências mais marcantes foi visitar o mausoléu do músico Bob Marley.
Lá, os visitantes podem acender um baseado e fumar um com o Bob. Foi uma experiência única na viagem".
Para ele, a Jamaica é um lugar único. "É uma sensação mágica se ver em um lugar com paisagens tão bonitas e com tanta cultura canábica. Isso me trouxe uma sensação boa de estar em um paraíso", relata.
Henrique*, de São Paulo (SP)
Destino da viagem canábica: Los Angeles, nos Estados Unidos
Como foi a jornada: morador da cidade norte-americana desde 2017, o turismo canábico não estava entre seus objetivos iniciais, mas, de uma hora para outra, ele se viu imerso no universo da maconha.
Por intermédio de uma amiga, consegui emprego em uma empresa que fornece maconha para lojas que vendem a erva na Califórnia. De repente, estava trabalhando em uma linha de produção de baseados".
"Hoje, há ônibus que fazem tours canábicos em Los Angeles e região, levando turistas para as lojas que vendem legalmente maconha e até para lugares que cultivam as plantas. Na Califórnia, há uma variedade gigantesca de produtos derivados do cânhamo, como óleos e comestíveis, cada um oferecendo sensações diferentes. E cada pessoa pode experimentar o produto que mais lhe convém".
Henrique conta que, antes de ir para os Estados Unidos, não era muito de fumar, mas acabou virando um expert no assunto, com habilidade ímpar para fazer cigarros de maconha e conhecimento profundo sobre a cannabis.
*nomes fictícios: os entrevistados pediram para não terem seus nomes revelados
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