É uma bebida de cor escura que vem do açaizeiro, mas não é açaí. Estamos falando do café de açaí. A novidade virou atração turística no interior do Pará e já tem gente de olho querendo comercializá-lo Mas será que o gosto é parecido com o original? Nossa foi conferir essa criação.
Não é possível afirmar com certeza de quem é a invenção, mas há alguns produtores do café de açaí no interior do estado. O casal Perina Rodrigues Silva, 54, e Roberto Carlos Cunha, 55, estão nessa lista. Desde 2017 eles estão em processo de patente do produto, mas a criação é antiga.
Há 30 anos, quando a maranhense e o marido goiano chegaram ao Pará em busca de uma terra para trabalhar, criaram a bebida na tentativa de vencer as dificuldades de abastecimento no assentamento Paulo Fonteles, onde moram até hoje com a família.
O lugar fica distante 60 quilômetros do município sede, Parauapebas, localizado no sudeste do Pará e o único meio de transporte não era frequente.
Naquela época, não tinha onde comprar nada na comunidade e o carro demorava de 8 a 15 dias para vir buscar a gente para fazer compras na cidade", diz Perina.
Um dia quando o pó acabou, ela teve uma ideia para não ficar sem a bebida preferida. "Acabou o café e a gente tinha batido um açaí e ficaram os caroços. Olhei pra eles e pensei: vou fazer um café", contou Perina.
A primeira tentativa não foi bem-sucedida, mas ela não desistiu. "Não ficou muito bom porque bati o caroço do açaí branco. Ficou muito amargo", lembra. Como o próprio nome já indica, o açaí branco é diferente do tradicional, tanto na cor mais clara, mas também no sabor forte.
Foi com o caroço do fruto escuro que ela conseguiu o resultado esperado, um sabor parecido com o do café. "Ele tem um gosto meio ácido e um travo no final. Se aproxima um pouco, mas tem gente que se não fosse o "travinho" não dizia que é feito de açaí, não".
Ao longo dos anos, dona Perina foi observando vários aspectos durante a fabricação para chegar ao sabor de hoje. Um deles é bem parecido com a produção cafeeira, a seleção dos "grãos". "Vi que tinha muita diferença entre o tamanho dos caroços e se torrassem todos juntos, os pequenos queimariam e os grandes ficariam crus. Tem que fazer uma seleção", indica.
Outro segredo dela é o cuidado com o tempo de torra dos grãos. "Se passar de uma hora não fica bom e tem que ir experimentando enquanto vai torrando".
Em relação ao rendimento, é menor do que o do café tradicional. "Para uma garrafa de um litro do café normal uso umas três colheres de café, sendo o de açaí preciso de quatro. Mas tem gente que prefere mais fraco ou mais forte, é de acordo com o gosto".
Gostinho de fazenda
Passadas três décadas, a fórmula criada pelo casal ainda é feita do mesmo jeito rústico, aproveitando utensílios que eles já tinham no Sítio Paraíso, como o pilão, um fogão à lenha improvisado e um moedor.
O processo é simples, com apenas quatro passos. "A gente faz a lavagem, passa os caroços no pilão para tirar os pêlos do caroço, depois torra no fogo. Aí é só moer e está pronto", explica dona Perina.
O tempo de produção é de pelo menos 24 horas, já que a secagem, que é a parte mais demorada, é feita no sol.
Depois de moído o pó é acondicionado em embalagens de 250 gramas, que são vendidas ao custo de R$ 10, cada. Para conseguir essa quantidade, a merendeira explica que é necessário um quilo de caroços da fruta.
Mas a produção não é contínua, pois depende de fatores como sazonalidade do fruto e de encomendas. "Aqui a gente produz mais para consumo próprio e para os turistas, mas já procuraram a gente para revender, mas ainda não temos firma e estamos finalizando o processo de patente para depois ver essas questões", conta seu Roberto, que se divide entre a produção do café e o trabalho de agente de saúde na região.
Descoberta turística
Na região todo mundo conhece o café de dona Perina, mas foi em 2017 que ele ganhou mais visibilidade. "Uma pessoa que trabalhava com eventos do município nos convidou para levar o café para os eventos de turismo na região. Depois a gente começou a ir para feiras dentro e fora do estado. Já fomos para São Paulo algumas vezes", revela Perina.
O produto também entrou na rota turística do município. "As pessoas ficam muito curiosas quando ouvem falar e vem por aqui para provar".
Mesmo com uma pequena produção, sempre tem uma xícara para apresentar para quem está de passagem. Recentemente criou até uma receita nova com ele. "Aqui o povo gosta muito do nosso capuccino de café de açaí. Mas por enquanto a gente só faz para degustação".
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