Peregrino percorre quase 900 quilômetros em novo Caminho da Fé de São Paulo
Superar desafios físicos e reavivar a própria fé. É com esses objetivos que o peregrino Vivaldo Aparecido Ribeiro, de 57 anos, percorreu a pé 897 quilômetros, durante 37 dias, entre a cidade de São José do Rio Preto e Aparecida, ambas no estado de São Paulo.
O percurso integra o "Ramal São José" nova rota do Caminho da Fé — e também o trajeto mais longo.
Devoto de Nossa Senhora Aparecido o policial militar reformado há seis anos renova a fé na padroeira do Brasil e faz a rota do Caminho da Fé, até então, pelo percurso do Ramal Centro Paulista, que parte de Borborema e segue até a Basílica de Aparecida — totalizando 742 quilômetros. Porém, com a criação de um novo trajeto, o peregrino se superou e caminhou 155 quilômetros a mais. Ele foi o primeiro peregrino a percorrer o novo trajeto.
Já fiz o 'Caminho da Fé' 18 vezes, sendo 12 de bicicleta e seis a pé. Quando soube dessa nova rota, mais desafiadora, logo comecei a me organizar e a me programar para fazê-la", explica Vivaldo.
Natural de Taubaté, a viagem começou antes mesmo do ponto de partida. No dia 8 de janeiro o policial militar reformado foi de carro até Aparecida pedir proteção para a sua jornada e abençoar o seu cajado — seu fiel escudeiro de peregrinação.
No dia seguinte, foi a vez de embarcar de ônibus de Taubaté para a cidade de São José do Rio Preto, uma viagem de 540 quilômetros e quase sete horas de duração. Finalmente, no dia 10, Vivaldo deu início à caminhada, partindo da Basílica Menor de Nossa Senhora Aparecida, uma das mais tradicionais da cidade do interior paulista.
A nova rota, criada este ano e que foi inaugurada por Vivaldo, passa por trechos de estradas de terra, asfalto, trilhas dentro de fazendas e ao lado dos trilhos de trem. Todo o trajeto é sinalizado com setas indicando a direção a ser seguida e a quilometragem do trecho. O percurso engloba 37 cidades e todas serviram de parada para o peregrino.
"Eu acordava às 4 horas da manhã e começava a me preparar — isso inclui me trocar e colocar as proteções nos pés para não machucar — começava a caminhar por volta das 5 horas da manhã e seguia até às 13 horas. Durante essas oito horas de caminhada eu percorria, em média, 30 quilômetros. Minha meta diária sempre era caminhar até chegar na próxima cidade", explica o policial militar reformado.
Por sair durante a madrugada, o peregrino raramente conseguiu tomar café da manhã nas pousadas por onde passou. Para se alimentar nas primeiras horas do dia, ele carregava na mochila algum alimentado comprado no dia anterior como pães e frutas.
Apoio da população
Os momentos caminhando sozinho foram divididos com centenas de seguidores nas redes sociais do peregrino e também da página "Caminho da Fé", que acompanha fiéis que se aventuram pelo trajeto que leva até à Basílica de Aparecida.
E foi através das redes sociais que Vivaldo ganhou o apoio de muitos moradores das diversas cidades por onde passou.
"As pessoas viam que eu estava chegando em uma cidade e vinham me receber no trajeto. Ofereciam café, comida e até doces. Muita gente também mandava mensagem para saber quando eu chegaria em tal cidade e me convidava para ir até a casa delas almoçar ou jantar, e assim, fui recebendo muito carinho pelo caminho", conta.
Ainda segundo o peregrino, diversos moradores iam ao seu encontro pedindo para que ele levasse orações e preces até o Santuário de Aparecida.
Eram pessoas de fé que pediam para eu rezar por elas e levar as intenções até Aparecida. E isso também me deu forças para continuar", acrescenta.
Aniversário na estrada
Solteiro e sem filhos, Vivaldo não se importou em passar o aniversário na estrada. No dia 18 de janeiro, data em que completou 57 anos, o peregrino foi surpreendido e ganhou um jantar com direito a bolo e parabéns surpresa, em Ibitinga.
Conhecido por fazer o roteiro de fé em anos anteriores, amigos que o policial militar reformado fez na estrada prepararam a surpresa.
"Conheci peregrinos que moram na cidade e sabendo que eu passaria por lá naquele dia eles me chamaram para jantar na casa deles, com as famílias. Jamais imaginava que iria ganhar bolo e festinha surpresa. Mas fiquei muito feliz. Muito melhor do que se eu tivesse passado em casa, sozinho", lembra.
Momentos difíceis
Caminhar quase 900 quilômetros não foi fácil e mesmo acostumado a percorrer longas distâncias a pé, o peregrino afirma que enfrentou momentos difíceis durante o período em que ficou na estrada.
Segundo ele, o dia 16 de fevereiro foi um dos mais complicados devido à forte chuva que enfrentou.
"Foram dez quilômetros caminhando na chuva, a estrada estava com muito barro o que deixou o trajeto ainda mais pesado. Em outro dia a distância da cidade em que eu estava até o meu próximo destino de parada daquele dia era maior, 42 quilômetros e foi bem sofrido. Minha água acabou no caminho e senti muitas câimbras", relembra.
Outro fator que dificultou a caminhada segundo Vivaldo foi o sol intenso e o calor. "Eu usava chapéu, camisa de manga longa e luvas porque com o sol o cajado esquenta e eu precisava proteger as mãos para não as queimar", acrescenta.
Poucas coisas na mochila
Na mochila apenas o mínimo necessário. Duas garrafinhas de água, uma bermuda, uma camiseta, um par de sandálias para os momentos de descanso e curativos para os pés.
"O que eu mais tinha na minha mochila eram absorventes femininos e esparadrapos. Pode parecer estranho, mas os absorventes quando colocados nas palmilhas do tênis ajudam a manter os pés secos e, assim, evita a formação de bolhas. E os esparadrapos usamos para enrolar nos dedos e evitar machucados nas unhas. É uma das coisas mais importantes para que a caminhada seja concluída sem muito sofrimento", explica Nivaldo.
Ainda segundo o peregrino alimentos não faziam parte dos itens essenciais para a viagem, já que durante as trilhas sempre encontrava locais para apanhar frutas e também contava com a ajuda da população que o encontrava pelo caminho.
"O pessoal de fazenda, sítio, me via passando e oferecia café, pão e até mesmo refeição. E quando o trajeto era mais em meio ao mato e não tinha nada, nenhuma casa por perto, eu esperava chegar na cidade eu comprava marmita e assim me alimentava", conta.
Chegada depois de 37 dias
Depois de 37 dias de caminhada Vivaldo chegou à Basílica de Aparecida na tarde da última segunda-feira (15). Ajoelhado em frente à igreja ele fez a sua oração e agradeceu por mais um trajeto concluído. O momento foi marcado pela emoção e o sentimento de renovação da fé.
É um momento muito especial. Nossa Senhora Aparecida me protegeu durante todo o caminho e eu pude concluir mais esse desafio. É um sentimento inexplicável", disse.
No dia seguinte à chegada o peregrino seguiu de ônibus para sua casa em Taubaté, onde descansa da jornada. Durante os dias de caminhada, Vivaldo chegou a perder sete quilos.
"Agora é hora de descansar e cuidar do meu corpo", explica.
De acordo com o peregrino durante todo o trajeto foram gastos aproximadamente R$ 3.200 entre pagamento de pousadas e alimentação. O próximo desafio ainda não foi traçado pelo peregrino, mas ele garante que no próximo ano pretende novamente ir a pé até a Brasílica de Aparecida, mas ainda não sabe qual será o ponto de partida.
Caminho da Fé
O Caminho da Fé brasileiro foi inaugurado em 2003, no município de Águas da Prata, inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Com o passar dos anos, o trajeto foi ganhando novos ramais e hoje conta com, pelo menos, treze percursos.
A trilha turística e religiosa é considerada uma das mais importantes do Brasil. O mais novo trajeto o "Ramal de São José" parte do município de São José do Rio Preto e corta cidades do interior do estado de São Paulo como Cedral, Potirendaba, Ibirá, Urupês e Novo Horizonte — que até então não faziam parte do roteiro — e chega à Borborema, cidade que faz parte do tradicional percurso e integra Ramal Centro Paulista.
Oficialmente o "Ramal São José" será inaugurado no dia 19 de março, dia de São José e padroeiro da cidade origem do trecho São José do Rio Preto.
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