"Quase insuportável": brasileiros enfrentam 2º lockdown na Alemanha
Há dois meses, moradores da Alemanha estão em lockdown — o segundo desde o início da pandemia do coronavírus. Na semana passada, o confinamento foi prorrogado até 7 de março, mas a chanceler, Angela Merkel, não descarta estendê-lo até início da abril.
A medida foi anunciada após uma reunião entre a premiê e os governadores dos 16 estados do país, que contabiliza até esta quarta (17) 2.352.766 casos e 65.829 mortes. As autoridades estão preocupadas, principalmente com a propagação das novas variantes da covid-19, e avaliam que a flexibilização do bloqueio precisa ser cautelosa e gradual.
Enquanto no Brasil o número de mortes pela doença já supera o de 240 mil e não há qualquer movimento para lockdown do país, brasileiros que moram na Alemanha relatam para Nossa uma rotina restritiva.
Desde novembro do ano passado, as lojas foram fechadas e apenas é permitido o funcionamento de mercados, farmácias, postos de combustíveis e outros poucos serviços, como livrarias, consideradas essenciais pelos alemães para passar o tempo.
A programadora paulista Paola Sabatini Silveira, 32 anos, explica que há controle de acesso, com limitação do número de pessoas, no interior dos estabelecimentos. Além do uso de gel, a utilização de máscara cirúrgica — não mais a de pano — passou a ser obrigatória há duas semanas. Porém, diferente do Brasil, o controle de temperatura só ocorre em hospitais e unidades de saúde.
Passear nas ruas não é proibido, mas não é permitido fazer aglomerações ou se afastar mais de 15 quilômetros da residência. Entretanto, a programadora percebe um maior descumprimento das regras nesta segunda fase, mesmo em pleno inverno e ruas tomadas de neve.
"Eu moro em um prédio que dá de frente para um campo de futebol. Na semana passada estava cheio de gente. Acho que neste segundo lockdown as pessoas estão mais cansadas e, por isso, quebrando mais o lockdown", conta.
Desde o início da pandemia, Paola acompanha o vai e vem de medidas restritivas. De março a maio do ano passado presenciou o primeiro lockdown, que foi afrouxado próximo do verão. Desde o início do confinamento, está em home office. Em outubro, chegou a trabalhar presencialmente, quando o trabalho in loco foi autorizado pelo governo em um novo relaxamento das regras. Mas a medida durou pouco tempo e, após um mês, Paola já havia voltado a trabalhar de casa.
Com a vacinação demorada no país e sem perspectiva para o retorno das atividades, a programadora reclama da situação.
É chato, quase insuportável ficar toda hora em casa. E olha que eu gosto de ficar em casa."
Por não ter filhos, Paola reconhece que a rotina dela é mais "simples" em relação a colegas pais, que se revezam de horário com os companheiros para poder trabalhar e cuidar das crianças, já que os jardins de infância estão fechados.
Há sete meses, ela e o noivo adotaram uma cadelinha, chamada de Cloé. Desde então, as saídas de casa viraram rotineiras já que o pet não faz as necessidades no interior do apartamento. "Tem que sair umas quatro vezes ao dia e ela gosta de acordar às 6h30", diz Paola, entre risos.
Festa de aniversário reduzida pela metade
Em outubro do ano passado, o engenheiro de software gaúcho Leonardo Carlesso, 33 anos, havia planejado uma festa para dez amigos mais próximos em Berlim, onde mora há quase quatro anos. Porém, nas vésperas da confraternização novas regras entraram em vigor e ele teve que dispensar metade dos convidados.
Caso ele mantivesse o número inicial, havia o risco de ser denunciado ao governo por um vizinho e receber uma multa de 25 mil euros, o que seria equivalente a pouco mais de R$ 162 mil. A penalidade também vale para concentrações na rua. Agora, são consideradas aglomerações quando mais de duas pessoas estão reunidas.
No final de novembro, Carlesso voltou para o Brasil para tirar férias, ainda quando os voos estavam liberados. Dias antes de voltar para a Europa, foi decretado o lockdown na Alemanha. Naquele momento, não sabia se a viagem seria mantida, já que ele chegaria ao país no primeiro dia do confinamento.
"Eu fiquei bastante apreensivo, mas o voo não foi cancelado e consegui embarcar. Na Alemanha diziam que precisava ficar em isolamento ou fazer o teste para a covid logo após o desembarque, mas quando cheguei não tinha nada. Sai do aeroporto como se nada tivesse acontecido, não sabia o que tinha que fazer", conta o gaúcho.
Carlesso está em homeoffice desde março e, por isso, a rotina monótona é motivo de reclamação.
É difícil, perco motivação para fazer as coisas, a gente acaba não fazendo exercício físico e se sente socialmente distante. Como trabalho em casa, muitas vezes eu acordo, sento no computador, estudo e vou dormir. E isso se repete. É uma rotina bem chata."
Devido à situação, o engenheiro de software pensou em passar uma temporada no Brasil até o fim do lockdown. "Eu pensei em voltar, mas as empresas não apoiam trabalhar por mais de duas semanas fora da Alemanha", explica.
Como passatempo, o gaúcho decidiu estudar alemão já que desde que chegou ao país europeu só se comunicava em inglês com outras pessoas. Inicialmente, as aulas eram presenciais, mas se tornaram online. E de iniciante já passou para o nível intermediário.
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