Bancos pintados à mão trazem histórias e reviravoltas da vida de artista
Ju Amora
Essa história começa com uma menina que cresceu vendo os pais valorizarem manualidades. Acrescente um signo sonhador, uma formação em artes cênicas e sinais poéticos da vida no caminho. Pronto: Juliana Amorim se tornou Ju Amora seguindo na ponta dos pés por essa trilha.
Em 2012, atriz por formação, ela buscava sua independência financeira. Passou cinco anos trabalhando em vários lugares e um dia questionou-se sobre propósito. "Sempre soube que queria ter um negócio com algum produto feito à mão", ela diz.
Bancos lindos...mas bancos?
Diante de uma reserva financeira, ela conseguiu sair do trabalho. "Pensei no que gostaria de ter na minha casa que fosse divertido, prático, bonito... Lembrei dos banquinhos da casa da minha avó, que eram mesa de petisco, lugar para mais um neto e viravam também o tambor do meu avô. Essa questão lúdica me fez querer explorar essa superfície."
O banco tem muitas possibilidades, assim como o teatro. O banco pode ser o que você quiser."
Angústia
Ju queria saber (lá em 2012) se alguém fazia bancos no mercado. "Não achei ninguém. Ou era uma ideia genial ou uma estupidez completa", ri. Ela investiu, pintou e abriu as vendas - crente que estava abafando. "Tinha certeza de que as pessoas enxergariam essa multifuncionalidade. Mas as pessoas riam, não entendiam a proposta. Fiquei numa crise imensa."
O sonho
No mesmo ano, surgiu a oportunidade de ser assistente de arte em Paris. Em um dos passeios, Ju, frustrada, foi a um cemitério. Ali aconteceu algo que mudou sua vida para sempre. "Encontrei um papel em cima de um túmulo".
Ao chegar perto, descobriu que era a lápide de ninguém menos que Amedeo Modigliani, artista plástico italiano. No bilhete estava escrito "O seu real dever é salvar o seu sonho."
Taí o sinal que ela procurava. "Pensei: quer saber? Não vou desistir. Essa frase é o que me faz acordar feliz. Preciso salvar minha verdade."
De volta ao Brasil, Juliana brincou com seu sobrenome e criou de Amorim o Amora, uma fruta que coloriu sua infância inteira.
Abençoada por Modigliani
"Não sei quem deixou esse bilhete, mas mudou minha vida pra sempre", diz ela, que doou tudo o que tinha no apartamento na época. Ainda assim, ela ia para as feiras naquele recomeço e não vendia nada.
"Fui me adaptando e comecei a explorar as fotos, fazer palco para as banquetas. Em 2015 começou a dar certo. A primeira venda foi para Roraima", ela conta.
A virada
Um dia, um comprador de uma grande marca online encontrou o trabalho de Ju. Nessa época ela vendia 20 bancos por mês. Naquele mês, ela vendeu 200 por encomenda. "Chegou um caminhão com banco até o teto na minha casa. Chorei feito criança de tanta alegria. O entregador não entendia nada."
A encomenda foi crescendo até chegar a 600 banquetas, quando ela teve pneumonia e ficou entre a vida e a morte na UTI. Na saída, Ju viajou a Paris e fez seu caminho de volta. "Deixei um recado lá em cima do túmulo de Modigliani, com a mesma inscrição."
Na volta ao Brasil, seu novo ateliê estava em risco de desabamento. "Tive um prejuízo gigante", lembra. Em seguida, uma grande marca italiana a procurou para uma encomenda. "Fiquei 60 dias lá. Isso me fez trabalhar no improviso e repensar o que acredito, desconstruindo o processo", diz ela.
Pandemia
Depois veio a pandemia. "Meu marido me chama de 'fato novo', porque sou uma pessoa de muitas novidades", ri. Mesmo assim, em meio a tantas reviravoltas, Ju mudou a rota: só faz peças únicas. Os temas botânicos, linhas orgânicas e as histórias contadas pelos clientes estampam os bancos.
"Hoje tenho um ateliê dentro da minha casa e sou muito feliz assim. Meu negócio tem muito a ver comigo. Ele é muito parte de mim e quero que as pessoas vejam essa história. Existe proximidade e afeto, são peças únicas", diz ela, ciente de que tem muita gente querendo copiá-la na internet.
Hoje saem do ateliê até 60 banquetas por mês, entre outros projetos. "Sou hiperativa. Meu marido largou o emprego para se dedicar à Ju Amora. Meus clientes compram mais de uma vez e conhecem meu trabalho", conta, realizada.
Seu real dever, então? "Depois de tudo, hoje vejo que escolhi ter minha marca para ser feliz e livre. Meu real dever é salvar meu sonho, mas meu sonho é ser livre."
@s que me inspiram
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