Viajantes brasileiros contam por que não voltaram para o país na pandemia
Quando a Organização Mundial da Saúde declarou pandemia, em março de 2020, muitos brasileiros se encontravam no meio de grandes viagens pelo globo.
Com os lockdowns e fechamentos de fronteiras causados pelo coronavírus, grande parte destas pessoas resolveu voltar para a terra natal. Há brasileiros, entretanto, que preferiram permanecer no exterior, esperar a normalização das coisas e o ressurgimento das possibilidades de circular livremente pelo planeta.
A seguir, conheça histórias de cinco destes viajantes:
Sophia Costa, 26 anos
Onde está: Ilha de Ko Pha-Ngan, Tailândia
Como chegou lá: Após terminar um mestrado na Argentina, deu início a uma viagem pelo Sudeste Asiático, sem data para retornar ao Brasil. Ela chegou à Tailândia no dia 1º de março de 2020.
Minha ideia era ficar na Tailândia por um mês e, depois, ir para o Vietnã. E também queria fazer o resto do Sudeste Asiático, visitando lugares como Indonésia e Filipinas".
Sophia conta que, algumas semanas após sua chegada, a Tailândia entrou em lockdown por causa da pandemia — "e aqui acabei ficando para sempre", brinca.
Por que decidiu ficar: quando o país começou a se fechar, a brasileira se encontrava na ilha Ko Phi Phi Don, onde resolveu permanecer durante o lockdown. "É um lugar com hospital e onde eu já conhecia muita gente, em quem confio".
Sophia relata que, em determinado momento, houve uma oferta de voo de repatriação feita pelo governo brasileiro, mas ela não quis embarcar. "Eu havia acabado de chegar e tenho um trabalho online. Estava bem e me sentindo segura ali. Não fazia sentido retornar. E, em Ko Phi Phi Don, consegui alugar um bangalô de frente para a praia. Se era para ficar presa em algum lugar, eu queria ficar presa no paraíso".
Como é sua rotina: a Tailândia tem um custo de vida baixo, o que permite que a brasileira viva confortavelmente com o dinheiro de seu trabalho online (o bangalô de frente para o mar que ela alugou em Ko Phi Phi Don, por exemplo, custava cerca de R$ 1.500 por mês).
Aproveitando o isolamento, ela curte uma rotina ao ar livre durante o dia, frequentando a praia, mergulhando e interagindo com amigos que fez no local. À noite, ela pega no batente, trabalhando de acordo com o fuso horário do Brasil.
Planos para o futuro: Prevendo dificuldades para viajar pelo Sudeste Asiático nos próximos meses, Sophia pretende renovar seu visto na Tailândia e ficar no país por mais algum tempo. Ela diz que planeja vir ao Brasil em agosto deste ano, para reencontrar seus familiares e amigos.
"É muito bom estar aqui na Tailândia, mas a distância das pessoas queridas assusta um pouco. Tenho saudade da minha família".
Isabella Venancio, 30 anos, e Caio Torres, 33 anos
Onde estão: Ilha de Koh Rong Sanloem, Camboja
Como chegaram lá: Em julho de 2019, começaram uma viagem que seria um giro pelo mundo, visitando diferentes continentes. No começo da pandemia, o casal se encontrava no Sudeste Asiático, já tendo passado por destinos como Indonésia, Malásia e Tailândia.
"No início de março do ano passado, entramos no Camboja, com planos de ficar entre 15 e 30 dias aqui. Foi neste período que estourou a pandemia e houve lockdown", conta Caio. "Estávamos na capital [Phnom Penh] e tudo começou a ser fechado".
Isabella relata que, naquele momento, a ideia foi "correr para alguma das ilhas do Camboja. Era melhor ficar quarentenado em uma ilha, onde, depois do fechamento, ninguém mais entraria", avalia ela.
Por que decidiram ficar: "A gente se sentiu muito seguro aqui na ilha, pois, após o lockdown, ninguém mais podia entrar", diz Caio.
Em determinado momento, houve oferta de voo de repatriação realizada pelo governo brasileiro, mas, para eles, não valia a pena aceitar.
Conforme as semanas foram avançando, víamos o número de casos de covid subindo no mundo inteiro. E, aqui onde estamos, há uma situação mais controlada. O alto número de casos no Brasil pesou muito em nossa decisão. Não fazia sentido sairmos daqui", observa Isabella.
Como é sua rotina: Com permissão governamental para ficar no Camboja, o casal tem economias, investimentos e dá mentorias de finanças na internet, conseguindo se manter com tranquilidade no país — e o baixo custo de vida no Camboja contribui para que a grana dure.
Eles alugaram um bangalô e, atualmente, levam uma rotina pacífica.
Parece que estamos em uma cápsula. O mundo inteiro de pernas para o ar e, aqui, conseguimos ter uma vida normal", avalia Isabella.
Os dois, porém, não estão alienados da realidade brasileira: "também convivemos com o medo de alguma pessoa querida pegar covid no Brasil. Imagina se alguém é hospitalizado e a gente não pode estar aí? Há um medo grande por este lado", afirma Caio.
Planos para o futuro: "Nossa ideia inicial era voltar ao Brasil em julho de 2021. Mas hoje isso mudou. Foi muita sorte ter encontrado um local com condições tão boas para passar esta época de pandemia, mas, por outro lado, foi também frustrante, pois não conseguimos seguir viajando", avalia Caio.
Isabella afirma que, "assim que possível, queremos ir ao Brasil para visitar nossas famílias e amigos". O objetivo, depois, é continuar com a vida na estrada.
Leonardo Tomasi, 34 anos, e Alessandra Kugnharski, 30 anos
Onde estão: México
Como chegaram lá: Em junho de 2019, começaram a fazer uma viagem de carro cujo objetivo é dar a volta ao mundo, com um plano de dirigir 170.000 quilômetros. Eles atravessaram a América do Sul, entraram na América Central e, no início da pandemia, estavam na Costa Rica.
Com as interdições às viagens causadas pelo coronavírus, o casal passou oito meses no território costarriquenho, dormindo na estrutura do carro em praias do país e, depois, alugando casas. Com a reabertura da região, os dois dirigiram até o México.
Por que decidiram ficar: "A Costa Rica nos deixou tranquilos, pois é um país onde há muita transparência nas informações. E aproveitamos esta oportunidade para saber como é a vida de verdade neste país do qual a gente gosta tanto", conta Alessandra, dizendo que eles receberam autorização do governo para passar tanto tempo lá.
E, quando estava no território costarriquenho, o casal poderia ter embarcado em um voo de repatriação organizado pelo governo brasileiro — mas esta possibilidade nem foi cogitada. "Hoje, esta é a nossa vida. E o carro é a nossa casa. Nos planejamos por muitos anos para realizar este projeto e temos uma reserva financeira. Por isso, nos sentimos tranquilos para encarar este período de turbulência na estrada", diz a brasileira.
E sendo sincero, vendo a situação da pandemia no Brasil, dá cada vez menos vontade de voltar", complementa Leonardo.
Como é sua rotina: Na Costa Rica, o casal passou o período inicial da pandemia pernoitando na estrutura do carro em praias desertas. Depois, alugou casas em diferentes localidades do país. Nos momentos de quarentena, os dois aprenderam novas receitas gastronômicas e desenvolveram produtos digitais.
Ao chegar ao México, após cruzar Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala, eles começaram a explorar o sul da nação dos mariachis. Atualmente, os dois se encontram na região de Quintana Roo (onde está Cancún), dormindo na estrutura do veículo e o usando para chegar às praias e outras paisagens naturais.
Com a pandemia, nosso ritmo diminuiu muito. Estamos viajando mais devagar, conhecendo os lugares com mais calma e sempre evitando locais com aglomeração".
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