40 países antes dos 40 anos: após relação abusiva, ela foi conhecer o mundo
"As viagens foram uma terapia". É assim que a brasileira Silvinha Mantovani (@40antesdos40) define a relação com suas viagens internacionais.
Vítima de um relacionamento abusivo de anos, a advogada teve que encontrar uma saída para manter a saúde mental e fugir das agressões psicológicas que sofria do seu ex-marido.
O casal se conheceu em um café na cidade de Barcelona, na Espanha, e depois de algum tempo foram morar juntos. Logo nos primeiros seis meses de convivência, Silvinha percebeu atitudes estranhas do companheiro, como a vigilância de sua rotina com um detetive e de acesso a mensagens e redes sociais.
Os anos foram passando, até que o casal resolveu se separar. "Resolvemos que eu iria passar um fim de semana com um casal de amigos em Barcelona e que depois voltaria para acertar e finalizar as coisas", relembra. Porém, ao tentar voltar para casa, ele a proibiu de voltar para sua residência.
"Eu fiquei só com a roupa do corpo, uma mala de fim de semana e 800 euros. Tínhamos uma conta conjunta e até isso ele bloqueou. Foi um pesadelo", diz. Só depois de um mês e recorrendo diariamente à polícia espanhola, ela conseguiu voltar para casa e recuperar cerca de 40% dos seus bens materiais.
Novo começo na Itália
Após ser expulsa pelo marido, Silvinha estava sem emprego, casa e ajuda na Espanha. Enquanto tentava se recuperar dos abusos sofridos, ela viu na internet uma promoção de viagem para Roma, na Itália, resolveu embarcar e passar sete dias na cidade.
Durante uma missa no Vaticano, ela começou a refletir e pensar que precisava de um propósito. Foi aí que ela colocou como meta de vida: conhecer 40 países antes de completar 40 anos.
Na época, ela pensou que seria puxado, já que estava com 36 anos de idade e só conhecia 12 países.
Mas, ao retornar para Espanha, os abusos do ex-marido não paravam e ela recebia ligações frequentes com ofensas e ameaças de morte. Foi aí que uma amiga recomendou que ela fosse para Dublin, na Irlanda, trabalhar e ficar longe do ex-companheiro.
Após alguns dias, ela arrumou as coisas e se mudou para as terras irlandesas. Chegando ao país, a meta era ganhar muito dinheiro para poder viajar nos dias de folga.
Eu cheguei a fazer turno de 18 horas por dia, só para conhecer muitos lugares. Comecei e não parei mais", relembra.
Até aquela data, faltavam mais 28 países para atingir seu sonho.
40º país foi a Índia
Depois de conhecer muitos países da Europa e até da Ásia, Silvinha escolheu a Índia para celebrar sua conquista.
Ao embarcar no avião, chorei de felicidade e não parava. A comissária até me perguntou se estava tudo bem, porque eu estava muito emocionada", afirma.
Ao chegar no país, ela se deparou com um imprevisto. O transfer pegou o caminho errado, o GPS não funcionou e os dois foram parar em uma comunidade indiana e ele não sabia como voltar.
"Lembro de ficar umas duas horas aí e achando que algo ruim poderia acontecer. Pensei em estupro coletivo, assédio, golpes. Graças a Deus, fomos ajudados e descobrimos que meu hotel estava a uns 20 quilômetros dali", diz.
Mais perrengues
E não foi só em Deli, na Índia, que ela passou apuros. Durante uma visita a Malta, a advogada quase ficou sem ter como pagar o hostel que estava.
Ela havia passado por quatros países diferentes nos últimos dias e o banco bloqueou o cartão durante a viagem. "Eles acharam suspeita a movimentação e tive um problemão. Estava com quase nada de dinheiro e demorei uns dois dias para resolver todos esses problemas. Ia ao mercado e comprava um tomate, um macarrão, tudo barato", relembra.
Outra vez, durante uma viagem à Turquia, ela foi assediada por um vendedor, que a agarrou, a levou para dentro de sua loja e tentou beijá-la à força.
Eu fiquei desesperada e vi que lá ocorria muito tráfico de mulheres. Foi então que pensei em agir com calma e enganá-lo. Disse que poderíamos sair à noite e quando ele foi pegar um papel para pegar meu telefone, saí correndo", relembra.
Livro inspiracional
Hoje, com 42 anos, Silvinha se diz forte e conta que foi o passaporte que a ajudou a sair de um momento bem turbulento de sua vida. Ela ressalta ainda que se não fossem as viagens, dificilmente sairia bem daquela situação.
Eu demorei para procurar ajuda psicológica. Estava realmente no fundo do poço e viajar foi umas das terapias."
Em março deste ano, para estimular outras mulheres a saírem de relações abusivas e poder contar sua história, ela lançou o livro "40 antes dos 40", no qual conta sua trajetória e todos os aprendizados ao longo desses anos.
"Muitas pessoas queriam saber da minha história e fiz para ajudar outras mulheres a saírem desse tipo de situação. No livro, retratei um pouco das minhas privações, cura, vivências morando no exterior e viagens", finaliza.
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