Efeito Bridgerton: corsets e luvas voltam e resgatam o glamour da realeza
Romântica, inovadora e inteligente, "Bridgerton" comprovou que histórias sobre amizade, família e a busca por um grande amor nunca saem de moda — e mais, que podem até influenciar nas tendências dos grandes desfiles de alta-costura.
Baseada nos livros de Julia Quinn e produzida por Shonda Rhimes, a série da Netflix bateu recordes ao ser assistida em 82 milhões de lares no mundo todo nos primeiros 28 dias após sua estreia, que aconteceu em 25 de dezembro de 2020. Só para ter uma ideia, esse número equivale à população de países como a Alemanha e Turquia. Além disso, o sucesso de "Bridgerton" fez os livros entrarem pela primeira vez na lista de best-sellers no The New York Times, 18 anos depois da publicação.
Impacto na moda
O figurino da série é assinado por Ellen Mirojnick, responsável por produções como "Malévola" e "O Rei do Show", e contou com um guarda-roupa de 7500 peças. Só a protagonista Daphne, filha mais velha da poderosa família Bridgerton interpretada por Phoebe Dynevor, teve um total de 104 trocas de roupa durante as oito horas de duração da primeira temporada, dividida em oito episódios.
O impacto da série causou um aumento na popularidade da moda da época em que ela se passa, em 1813, durante o período Regencial Britânico, no século 19, que foi marcado por anos de elegância e por um ambiente favorável às artes, como música e literatura — os romances de Jane Austen são desse período.
As cores pastel, a silhueta império, caracterizada pela cintura marcada logo após o busto, o decote quadrado, os corsets, as mangas bufantes, os bordados delicados e outros elementos dos looks da época, como as luvas até o cotovelo e os enfeites de cabelo extravagantes e muitos toques opulentos, como pérolas e brilhos, cativaram audiências ao redor do mundo e o estilo recebeu um novo nome em 2021: Regencycore.
De acordo com um report do site de pesquisas de moda Lyst, as buscas por corsets cresceram 123% enquanto o interesse por vestidos com decote império aumentou 93% nas semanas seguintes à estreia da série.
Já na categoria acessórios, a procura por tiaras de pérolas e penas teve um aumento de 49%, com peças das marcas Simone Rocha e Magnetic Midnight se destacando entre os consumidores. Luvas compridas na altura do cotovelo também estão nessa lista, com um aumento de 23% nas pesquisas.
Regencycore e a semana de alta-costura
A figurinista Ellen Mirojnick citou em entrevista ao site Popsugar que se inspirou no desfile de alta-costura primavera/verão 2017/2018 da Chanel para criar alguns dos vestidos ultra decorados da série. Outra fonte de referência foi o trabalho de Maria Grazia Chiuri com sua estética jovem e suas camadas de organza em suas criações para a Dior.
De inspiração para a criação do figurino à tendência nas passarelas, Chanel, Dior e maisons como Fendi e Valentino apostaram em características do Regencycore para suas recentes apresentações na Semana de Moda. Vestidos império em tons pastel e de pedras preciosas, adornados por bordados florais, caudas esvoaçantes e capas — tudo no maior estilo da corte de "Bridgerton".
Giovana Cornacchia e Mariáh Cidral, cool hunters e co-fundadoras da Clémentine Paris, agência de tendências baseada na capital francesa, apontam que algumas marcas de moda já investiram nessa tendência alguns meses antes do lançamento da série.
"As coleções de primavera/verão 2021 surgiram trazendo, ainda que de forma discreta, um clima romântico e fantasioso, contrapondo as roupas de tecidos confortáveis que surgiram para satisfazer nosso desejo recém-descoberto pelo loungewear".
"Marcas de moda como Simone Rocha, Erdem, Loewe e Rodarte ofereceram suas próprias versões do Regencycore, incluindo vestidos com mangas bufantes, estampas florais, pérolas e adereços gloriosos para enfeitar o look. O espartilho também já atraía os holofotes nas coleções de maisons como Alexander McQueen, Givenchy e Moschino, por exemplo. A gargantilha Lush Stuff feita com cristais da marca francesa Isabel Marant, bem no estilo Daphne Bridgerton, também entra em perfeita sintonia com o look Regencycore" citam Giovana e Mariáh.
Glamour de "Bridgerton" X looks confortáveis da quarentena
As cool hunters da Clémentine Paris explicam porque esses looks glamourosos e o cenário de sonho da série florescem neste momento de pandemia.
"O antagonismo que presenciamos entre o estilo 'pomposo' de Regencycore e estilos mais 'práticos' como Athflow, muito procurado durante a pandemia por trazer conforto, pode ser explicado quando analisamos o curso e o surgimento das tendências. É certo que um extremo nos conduz sempre ao outro e diante deste contínuo pêndulo das tendências".
Além disso, a indústria do entretenimento também é uma grande influência em diversos aspectos de nossas vidas, e com a moda, não é diferente.
"Esse fenômeno se tornou ainda mais visível nos últimos meses depois que os looks de Emily Cooper em "Emily in Paris" fizeram os fashionistas buscarem por peças e acessórios "parisienses", o estilo anos 80 de Lady Di em "The Crown" voltou a inspirar gerações que eram muito jovens para a época, Beth Harmon se tornou uma influencer de moda graças à minissérie "O Gambito da Rainha". Agora é a vez de "Bridgerton", que nos introduz à alta sociedade londrina do século 19, para atualizar um estilo que estava 'adormecido'", finalizam.
Tendências glamourosas e de tom escapista prometem continuar em alta, assim como a dominação de "Bridgerton", já que a série foi renovada para uma segunda temporada e a Netflix revelou que sua produção começa ainda no primeiro semestre de 2021. Tudo confirmado pela própria Lady Whistledown.
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