Comida orgânica, vegana e natural ganha mercado pet; veja prós e contras
Quem tem cão ou gato sabe que a hora da refeição é uma das mais esperadas do dia para a maioria dos pets. Mas ultimamente o momento sagrado deles sofreu mudanças e alguns tutores decidiram substituir as rações tradicionais por outras, como orgânicas, veganas e naturais.
Mas vale a pena dar esse tipo de comida? Nossa conversou com estudiosos da área e representantes das marcas que enumeraram os prós e contras.
O que é o que
Orgânica
Não devem levar nenhum produto químico ou agrotóxico.
"O bovino, por exemplo, deve passar por criação orgânica, desde pastagem até farelos. Já o frango não pode receber antibióticos", explica Priscila Burdulis, professora do departamento de zootecnia da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria). Até na hora da limpeza da fábrica e no controle de pragas é preciso recorrer a produtos específicos.
Porém, Flávia Maria de Oliveira Borges Saad, médica veterinária e professora da UFLA (Universidade Federal de Lavras), salienta que as agências reguladoras permitem o uso de 5% de produtos não orgânicos na composição.
Natural
O conceito ainda é amplo e, segundo os estudiosos, confuso. Porém de maneira geral, esse tipo de alimento não pode conter determinados produtos como corantes, aditivos químicos ou outros produtos sintéticos.
Além disso, não devem ser muito processadas, sendo permitido no máximo ocorrer a pasteurização e redução, segundo Saad. Também não pode ser utilizado subproduto da alimentação humana, como farinha de carne e ossos. O uso de produtos transgênicos — proibido na alimentação orgânica — varia conforme a marca.
Vegana
Não pode conter nenhum produto de origem animal.
Em termos nutricionais, os três tipos de rações atendem às necessidades dos animais, segundo os estudiosos ouvidos pela reportagem. Mas é preciso verificar na embalagem a existência do selo do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), o que indica que é monitorada pelo órgão, e se a fórmula da ração é assinada por um profissional técnico, registrado no órgão de classe.
Prós e contras
De forma geral, há indicativos que uma alimentação mais saudável pode aumentar a longevidade do animal, observa Luciano Trevizan, médico veterinário e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
"A gente está vendo um envelhecimento cada vez maior dos animais domésticos, que atingem uma idade mais avançada. Acredita-se que a dieta tem participação nisso, que tem beneficiado na longevidade.
O profissional lembra que, além das dietas tradicionais, existem aquelas que permitem mais tempo de vida aos animais com patologias crônicas, como insuficiência renal, diabetes, alterações hepáticas, cardíacas e de pele.
No caso da alimentação natural, é possível perceber mudanças no pelo e nas fezes. "A pelagem fica mais brilhante, mais "viva". E as fezes ficam compactas e bem formadas, explica a professora da UFLA.
No caso das rações orgânicas, Flávia entende que o benefício estaria na diminuição da carga de agressão ao metabolismo do animal por não serem utilizados defensivos agrícolas. Porém, a pesquisadora tem ressalvas em relação a essa alimentação, devido ao preço mais elevado e produção reduzida de alimentos.
A professora alerta, no entanto, para a alimentação vegana para gatos. Essencialmente carnívoros, os bichanos podem não se adaptar muito bem a essa dieta, principalmente pela baixa palatabilidade — quando o sabor do alimento é agradável ao animal. "Possivelmente não vai se sentir atraído e consequentemente vai comer pouco", diz.
Já os cães se adaptam melhor a essa comida pois são onívoros, ou seja, consomem vegetais e carnes.
A falta de aminoácidos na alimentação vegana é outro ponto criticado pela pesquisadora, principalmente quando o tutor decide preparar a refeição por conta própria, sem orientação de um profissional especializado. Em rações comerciais, são acrescentados aminoácidos sintéticos para suprir a demanda dessa substância.
O que não pode faltar
Os profissionais recomendam aos consumidores observar a existência de alimentos funcionais na composição — como fibras e antioxidantes naturais — do que se limitar a um dos três rótulos. Uma ração super premium, por exemplo, pode conter esses ingredientes e suprir as necessidades do cão ou gato.
Porém, o uso de determinadas substâncias por algumas marcas é criticada por tutores e nutricionistas de animais, como é o caso dos antioxidantes sintéticos BHT e BHA, extraídos do petróleo, encontrados até em rações super premium.
"Não há comprovação científica que esses produtos podem fazer mal para o ser humano e para os pets. Os corantes artificiais e transgênicos também não têm comprovação (de malefícios). Mas eu acredito que quanto mais natural, melhor", destaca Priscila.
O que prometem as marcas
No Brasil, há apenas uma marca vegana e outra orgânica certificada. Já na linha "natural" há um número maior de opções.
O médico veterinário e fundador da All Love, Rodrigo Bazolli, explica que entre os benefícios da ração orgânica está a redução de alergias e diminuição no aparecimento de câncer nos pets. Isso estaria relacionado com a ausência de produtos agrotóxicos na composição, apesar de não haver estudos comprovando.
A baixa incidência de alergias também é verificada na Bicho Green, o que é rotineiramente relatado nos 2 mil comentários de tutores no site da marca, segundo o sócio da empresa Victor Ramos. "Muitos clientes tentaram primeiro uma ração hipoalergênica, mas não surtiu efeito. E acabaram usando a nossa e aprovaram."
Ramos reconhece que, por ser vegana, a maior dificuldade da marca foi fazer o equilíbrio de nutrientes, especialmente de aminoácidos. Tanto a All Love quanto a Bicho Green utilizam extrato de alecrim para substituir os antioxidantes BHA e BHT. Além disso, os dois rótulos recorrem ao extrato de yucca para controle do odor das fezes.
Já a linha natural da PremieRpet utiliza alguns produtos orgânicos na composição, como a carne de frango da marca Korin. As aves não recebem antibióticos ou promotores de crescimento, segundo explica o diretor de marketing de produtos da marca, Fernando Suzuki. Além disso, os produtos utilizam ovos de galinhas livres de gaiolas. Questionado dos benefícios desta alimentação para o animal, o representante da empresa explicou que o produto "não visa proposta nutricional diferente, mas visa proposta filosófica", próxima do que o tutor acredita.
Entre as desvantagens dessas rações está o preço. O saco de 12 kg da marca vegana pode ser encontrado na internet por R$ 216,90 enquanto a embalagem de 7,2 kg da orgânica sai por R$ 251,10. Por outro lado, a PremieRpet possui preços mais acessíveis. O saco de 12 kg varia entre R$ 164,61 (seleção natural) a R$ 179,90 (nattu — nos sabores mandioca ou abóbora).
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.