Casal "se muda" para barraca sobre carro e cruza o Brasil em plena pandemia
O casal paulista Lucas Sampaio e Maíra Reis (@adiantes) começou o ano de 2020 com planos grandiosos. Eles haviam acabado de pedir demissão de seus empregos e, com a ajuda do dinheiro de um apartamento que alugam em São Paulo e de suas economias dos últimos 10 anos, iriam dar início a uma viagem épica: cruzar o Brasil e países vizinhos da América do Sul a bordo de um carro, sem data para voltar para casa.
E o surgimento da covid-19 não abalou a vontade dos dois: "a pandemia fez com que adiássemos o começo da viagem. Era para termos saído em maio, mas acabamos pegando a estrada apenas em agosto do ano passado", conta Lucas.
"Mas jamais pensamos em desistir. Batizamos nosso projeto de Adiantes e, como o nome indica, quisemos seguir em frente".
Desde então, o casal não parou de rodar por aí. A bordo de um veículo 4x4 equipado com espaço para dormir (uma barraca que é montada sobre o teto do carro), Lucas e Maíra já visitaram, até o momento, 16 estados brasileiros no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
No final das contas, a viagem foi uma grande oportunidade para nos isolarmos durante a pandemia, pois temos visitado principalmente lugares ermos", avalia Lucas.
Depois de deixar o solo paulista, o casal já cruzou Minas Gerais, entrou no Nordeste pela Bahia e explorou paisagens banhadas pelo rio São Francisco.
De lá, eles partiram para visitar todos os estados nordestinos, entre litoral, Caatinga e áreas como o Parque Nacional da Chapada das Mesas (MA).
No Norte, desbravaram o Jalapão (TO) e, logo em seguida, ingressaram no Centro-Oeste, rumo a destinos como Goiás e Mato Grosso, e visitando a Chapada dos Veadeiros e a Chapada dos Guimarães.
História e natureza
"Ao longo da estrada, é incrível admirar as mudanças de paisagens no Nordeste. Uma hora, você se vê cercado por praias de areia fofa. Depois, está no meio de cenários áridos", relata Lucas.
Os viajantes também gostaram muito da riqueza humana que existe na região nordestina, contando que, na Serra da Capivara (PI), admiraram pinturas rupestres com milhares de anos.
Já em Sergipe, entraram em contato direto com as lendas do cangaço. "Lá, fica a Grota do Angico, na área onde Lampião e seu bando foram pegos. Há guias que contam a história em detalhes".
No Tocantins, o casal se encantou com o Jalapão, mas também pisou em locais menos conhecidos do Estado. "Estivemos em uma área chamada Serras Gerais, que é linda. Além disso, nos surpreendemos com a capital, Palmas. É uma cidade muito bem planejada, que lembra Brasília. Mas há a impressão de que faltam pessoas para morar lá".
No Centro-Oeste, mais precisamente em Goiás, Lucas e Maíra ficaram fascinados com o Parque Estadual de Terra Ronca. Eles relatam que se trata de uma área recheada de cavernas que podem ser exploradas na companhia de guias, em tours que revelam estalactites e estalagmites espalhadas por interiores com quilômetros de extensão.
E, no território goiano, um dos destaques, logicamente, ficou com a Chapada dos Veadeiros. "As paisagens daquele lugar, como o Vale da Lua, são incríveis", elogia Lucas.
Sob sol escaldante
Na hora de dormir, Lucas e Maíra têm buscado áreas de camping, que oferecem toda a infraestrutura necessária para quem está viajando com veículos equipados com barracas.
Mas, no caminho, nem sempre há locais deste tipo disponíveis. "Já tivemos que passar a noite em postos de beira de estrada e, em uma ocasião, por questão de segurança, resolvemos dormir dentro do carro, mesmo com um calor insuportável", relembra ele.
No interior do Piauí, eles resolveram entrar em um estrada pouco conservada e se deram mal.
"Estávamos seguindo uma guia local, que dirigia um carro muito velho. E nós ficávamos pensando: 'este carro dela vai quebrar a qualquer momento'. Mas o veículo que quebrou foi o nosso", conta Lucas, dando risada. "Ficamos presos no meio do nada, sob o calor do meio-dia".
Para sorte do casal, passava na estrada, naquele momento, outro carro, cujo dono ajudou a tirar o veículo dali. "Ele era de Araçatuba e estava trabalhando temporariamente na região. Qual a chance de encontrarmos alguém do interior de São Paulo logo ali?", indaga.
E há episódios ainda mais engraçados: certo dia, em um camping, Maíra estava cortando o cabelo de Lucas e, de repente, a maquininha morreu — e, para completar, os dois não conseguiram encontrar o carregador do aparelho. "Com metade do cabelo cortado, tive que sair do camping e buscar um barbeiro na cidade. Todo mundo tirou sarro de mim", diz ele.
O casal conta que se surpreendeu ao ver que, na hora dos perrengues, quase sempre aparece alguém disposto a ajudá-los.
Descobrimos que o brasileiro pode ser muito prestativo. Diversas vezes, nos auxiliaram quando mais precisávamos. E sem pedir nada em troca".
Como viajar neste estilo
Lucas sugere que, ao comprar um carro 4x4 equipado com barraca, a pessoa teste o veículo em viagens curtas, para sentir como ele se porta na estrada e identificar problemas passíveis de ocorrer nas viagens.
Antes de dar início à sua longa travessia pelo Brasil, por exemplo, o casal fez algumas jornadas com durações entre uma e duas semanas pela região Sudeste.
"Naquele momento, nosso objetivo era conhecer melhor o sistema hidráulico e elétrico do veículo que seria nossa casa, definir os itens que precisavam ir a bordo e o que deveria ficar para trás e, também, ver como era o desempenho do carro em diferentes terrenos", explica ele.
Os dois também consultaram diversos sites, redes sociais e aplicativos que reúnem donos de motorhomes, onde há uma troca eficiente de informações sobre os melhores lugares para acampar, estradas indicadas para percorrer e dicas do que levar a bordo.
Em seu veículo, por exemplo, o casal leva, além da barraca, equipamentos de cozinha, bolsas marcadas para separar as roupas de um e de outro e uma ducha externa que é alimentada por um reservatório de 30 litros localizado na lateral do veículo, além de dois bagageiros de alumínio para itens como cadeiras, mesas, fogão e peças de reposição do carro.
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