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Na estrada com o pet: tutores contam como adaptá-lo a uma vida itinerante

Seu melhor amigo, seja gato ou cão, pode também ser um companheiro de viagem - Getty Images
Seu melhor amigo, seja gato ou cão, pode também ser um companheiro de viagem
Imagem: Getty Images

Fausto Fagioli Fonseca

Colaboração com Nossa

27/03/2021 04h00

Quem opta por viver na estrada escolhe deixar uma parte da vida onde ela está: viajantes sem residência fixa abrem mão da convivência familiar, do conforto do lar, do trabalho, das facilidades da vida e de diversos outros elementos que não cabem no formato da vida na estrada.

Alguns, porém, não deixam tudo para trás: levam seus bichinhos de estimação para participarem da aventura.

Shurastey or Shuraigow?

Jesse Koz e seu cão-viajante, Shurastey - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jesse Koz e seu cão-viajante, Shurastey
Imagem: Arquivo pessoal

Imagine viver num fusca com um golden retriever de 30 quilos. Por mais de três anos essa foi a vida de Jesse Koz com Shurastey — cuja história já apareceu aqui em Nossa. Em maio de 2017, Jesse, então com 24 anos, largou seu emprego em um shopping, vendeu seus pertences, e foi viver na estrada com o básico: "meu fusca e meu cachorro". Assim nasceu o Shurastey or Shuraigow?

Saímos de Balneário Camboriú rumo ao Ushuaia. Foram 40 dias até chegarmos em pleno inverno e debaixo de muita neve ao 'Fin del Mundo'".

Num fusca 78, Jesse não tinha como adaptar o espaço interno para Shurastey. Assim, no início, viajava com uma barraca comum de camping. Depois, adquiriu uma barraca automotiva, que se arma em cima do veículo.

Jesse Koz e Shurastey - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jesse Koz e Shurastey
Imagem: Arquivo pessoal

Uma das lições que a dupla aprendeu ao longo da viagem foi sobre os documentos. "É regra consultar um veterinário do país em que você está e fazer a documentação para cruzar para o outro país. Em alguns casos é possível entrar com a mesma documentação, mas tem que ser dentro de um prazo de dias muito curto. Uma exigência, por exemplo, é que os antiparasitóides tenham sido aplicados há pelo menos 15 dias e a antirrábica há um ano. Dependendo do país, uma taxa que varia de 10 a 30 dólares é cobrada e às vezes o processo é burocrático."

Até o início da pandemia, a dupla somava 65 mil quilômetros rodados, passando por 16 países e 21 estados do Brasil. Nesse período, uma única vez Shurastey "deu perdido" e voltou quatro quilômetros para um local por onde haviam parado para tirar foto.

Jesse e seu companheiro na pandemia, em Santos - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jesse e seu companheiro na pandemia, em Santos
Imagem: Reprodução/Instagram

"Ele voltou só para cheirar? Foi um desespero de uns 20 minutos, mas foi um caso isolado", lembra Jesse.

Na estrada, preferem viver sem rotina fixa e os banhos de Shurastey são de rio e de mar. "Ele quase nunca toma banho em pet shop durante as viagens. Quando voltamos, sim, tem mais mimos".

Nesse período, houve muitos questionamentos.

As pessoas falavam: 'vai viajar com cachorro? Maior dificuldade, maior burocracia'. Eu jamais ia deixá-lo para trás. Ele não escolheu vir até mim, eu escolhi tê-lo. Então ele sempre vai estar comigo".

Os parceiros não concluíram a ida até o Alasca (principal objetivo) e estão de volta ao Brasil, onde seguem fazendo viagens menores. "Assim que as fronteiras reabrirem pegaremos o fusca que ficou no México e continuaremos até o Alasca!".

Xino Xano: três reis gatos

Os viajantes felinos de Xino Xano - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Os viajantes felinos de Xino Xano
Imagem: Reprodução/Instagram

Eva é de Barcelona, na Espanha, e Carlos de Guanajuato, no México. O casal se conheceu nos EUA, quando Eva já tinha os gatos Nino e Nuix.

Eles se casaram em Las Vegas e foram morar em Barcelona, onde adotaram Cachito, o terceiro felino da família. Então, mudaram-se novamente, dessa vez para o México, onde decidiram pegar a estrada a cinco.

"Deixamos nossas vidas no México em dezembro de 2014 e rumamos para o sul com a intenção de conhecer tantos países quanto possível. Viajamos por mais de cinco anos e passamos por 18 países da América Latina".

O inesquecível Nino - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
O inesquecível Nino
Imagem: Reprodução/Instagram
Nuix - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Nuix
Imagem: Reprodução/Instagram

Para viver com Nino, Nuix e Cachito, o casal realizou diversas adaptações na kombi e criou o projeto Xino Xano Latinoamérica.

Fizemos camas e até um banheiro 'especial' para que eles usassem sem sair. Preparamos as janelas de forma que elas ficassem sempre abertas e o carro bem ventilado, além de um sistema de proteção para que os gatos não saíssem e isolantes térmicos para manter a kombi fresca no calor ou quente durante o frio".

Nino foi o que melhor se adaptou. "Era um explorador nato e sempre saía cheirando os arredores para fazer reconhecimento. Nuix demorou mais, uns 15 dias. Já Cachito sofreu no início e só se adaptou após três meses".

Carlos e dois dos gatos - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Carlos e dois dos gatos
Imagem: Reprodução/Instagram
Eva e Cachito - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Eva e Cachito
Imagem: Reprodução/Instagram

Para Carlos, a viagem teve êxitos pelos cuidados que tomaram, como: alimentação sempre dentro da kombi, água apenas purificada, todos dormiam dentro da kombi e era proibido sair à noite. Com a pandemia, os viajantes voltaram para o México onde Nino, infelizmente, morreu. Logo, porém, devem voltar a viajar, agora a quatro.

Felicidade na bagagem

Bruno, Mari e a primeira companheira da Kombi da Felicidade, Jenny - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Bruno, Mari e a primeira companheira da Kombi da Felicidade, Jenny
Imagem: Reprodução/Instagram

Em 2019, Bruno e Mari partiram de Paraisópolis (MG) com a pequena Jenny, uma maltês de quatro anos, para uma nova vida na estrada. O lar do trio? Uma kombi 2010 adaptada para a vida itinerante com cama, fogão, compartimento de água e frigobar.

Desde que começamos com o projeto da Kombi Felicidade a Jenny já estava incluída no rolê. Sabíamos que ia ser mais difícil e com mais responsabilidades, mas nunca pensamos em não levá-la", fala Mariana.

Pelo caminho foram muitas aventuras, com um roteiro que passou por 13 estados. "Antes de rodar pelo Brasil sempre viajávamos com a Jenny para todos os lugares. Ela ia nos campings, trilhas, praias, cachoeiras? Então, quando fomos morar na kombi, ela já sabia onde era a sua casa e sua adaptação foi bem mais tranquila".

Após o falecimento de Jenny, em 2020, quando já haviam retornado para casa, o casal ficou apenas com Estrela, atual mascote da Kombi Felicidade.

A viajante Estrela - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
A viajante Estrela
Imagem: Reprodução/Instagram

"Ganhamos a Estrela em São Thomé das Letras e foi uma loucura nossa ter dois dogs morando na Kombi. Ela é maior e mais bruta, tem quase 20 kg, mas é uma princesa e se adaptou muito fácil em viajar, mas viajamos pouco devido à pandemia". O trio segue estacionado, mas até o meio do ano deve pegar a estrada novamente.

Eu, viajante com pet

Junto com Laila, minha companheira, e Betina, nossa parceira felina de 10 anos, eu, o repórter que escreve esta matéria, vivi numa kombi por três meses, de São Paulo a Itacaré, no sul da Bahia. Deixar Betina para trás nunca foi opção, por isso adaptamos nossa kombi 1994 para que ela pudesse viver com a gente e criamos o @naestradakombetina. Beth sempre foi nossa companheira e confidente e a viagem jamais teria sido a mesma sem ela.

Na estrada com Betina - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Na estrada com Betina
Imagem: Reprodução/Instagram
Na estrada com Betina - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Na estrada com Betina
Imagem: Reprodução/Instagram

Nessa experiência de estrada conhecemos diversas outras pessoas que largaram suas vidas comuns e decidiram viver uma nova vida itinerante com os bichinhos à tira colo. São essas histórias que você conhece a seguir.

5 dicas para pegar a estrada com seu pet

As veterinárias Samantha Melo, adestradora franqueada da Cão Cidadão, e Juliana Damasceno, psicobióloga especializada em comportamento felino e fundadora da Wellfelis, dão dicas para pegar a estrada com os pets.

Cada bicho viajante pede um cuidado especial - Getty Images - Getty Images
Cada bicho viajante pede um cuidado especial
Imagem: Getty Images

1. Pets podem viver na estrada com seus donos, mas para cães a adaptação pode ser mais fácil do que para gatos, mais territorialistas e ligados ao seu lar, composto por características olfativas, espaciais e pela presença de seus tutores.

"O bem-estar do gato está diretamente relacionado ao controle desse ambiente", fala Juliana. Viagens curtas podem ajudar. Para os gatos, é importante criar um ambiente estável para a adaptação ao novo lar.

2. A consulta a clínicas veterinárias antes da viagem é essencial para ter certeza de que o bichinho está apto a viajar.

"É fundamental verificar se ele pode seguir viagem e se os parâmetros fisiológicos estão em equilíbrio", fala Juliana. Durante a viagem, tenha sempre o contato de clínicas ou profissionais de confiança e tire dúvidas sempre que necessário. Além disso, mapeie clínicas próximas por meio de aplicativos como Google Maps para casos de emergência.

3. Na estrada é preciso atenção para suprir as necessidades básicas dos pets, como destaca Samantha: alimentação adequada; atividade física; atividade mental; enriquecimento ambiental; atividade social com pessoas diferentes e outros animais; momentos de relaxamento.

4. Transportar os bichinhos com segurança é essencial! Os gatos devem ir sempre dentro da caixa transportadora, onde terão um espaço seguro para descansar.

Cachorros, principalmente os maiores, podem viajar fora da caixa transportadora se estiverem usando coleira peitoral, que se fixa ao cinto de segurança, ou cestinha de transporte (melhor para cães pequenos).

Seja cão ou gato, dá para viajar com seu bichinho - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Seja cão ou gato, dá para viajar com seu bichinho
Imagem: Getty Images/iStockphoto

5. Criar rotinas para banheiro, alimentação e hidratação é importante, mas depende do bichinho. "Os cães precisam de ao menos duas refeições diárias e é preciso tomar cuidado para que eles não bebam grandes quantidades de água de uma vez para evitar problemas gástricos", diz Samantha.

Sobre os gatos, o melhor é fazer poucas paradas. "Em um trajeto estressante, quanto mais rápido for, melhor. As paradas, quando ocorrerem, devem ser mais longas, para que o gato possa comer, se hidratar e usar a caixinha".