Pets especiais ganham nova vida em lares adaptados e com carinho de tutores
Profissional da arte de ensinar, a professora universitária Rose Maria de Souza, 58 anos, aprende todos os dias quando chega em casa e se depara com a cachorrinha Dandara, de 8 anos.
Vítima de um "acidente" após uma brincadeira em que a cadelinha Luiza acabou caindo em cima dela, Dandara ficou tetraplégica. Hoje, após muitos cuidados e tratamentos, ela já é considerada paraplégica por ter recuperado os movimentos das patinhas da frente.
O que esses bichos me ensinam é que eles não ficam preocupados com o que não têm. Eles vivem o que é e não o que não existe, eles são sensacionais, sou fã", diz Rose.
O plural ao referir-se aos animais explica-se pelo fato de que, pasmem, a professora é tutora de outros 15 doguinhos que se dividem entre a casa onde Rose mora e um outro local que ela chama de "pet móvel", um terreno na zona Sul de São Paulo que funciona como canil para abrigar seus bichinhos.
Além das visitas diárias para os cuidados com os animais, Rose garante o big brother canino com 16 câmeras espalhadas pelo local. Lá também vivem Fiel, Guri, Neguinha, Bolt, Raposinha, Mike, Luiza, Seu Jorge, Neguinho Max, Cereja, Neymar, Puff, Toquinho. Além de Dandara, Lilico e Beata também moram na residência "oficial" de Rose.
Para adaptar a casa às necessidades de Dandara, Rose espalhou tapetes de E.V.A. pelo piso da sala onde a cachorrinha permanece a maior parte do tempo. Por lá também existem uma bola de pilates, disco de equilíbrio, outro disco para fortalecer as patinhas da frente e uma bola chamada feijão, que também é utilizada pela cachorrinha na fisioterapia.
Como cuidar de um pet deficiente
A veterinária da clínica SPet junto à Cobasi Villa Lobos, Aline Oliveira, diz que é preciso muito amor e paciência. "De forma geral, é preciso fazer tudo de forma planejada. Adaptar a casa e a rotina são formas de amor e cuidado. É preciso lembrar que as deficiências muitas vezes são adquiridas com a idade e mesmo um pet perfeitamente saudável hoje pode um dia ser um idoso deficiente."
Com a rotina totalmente adaptada à vida com os pets, Rose também cuida de outro cãozinho especial, o Neguinho Max, que é cego de um olho. A única adequação, porém, que a professora faz para o Max é um "drible" nos companheiros na hora da "chamada".
Como boa educadora, Rose nunca perde a mania de registrar a "presença" de todos. Quando chega ao pet móvel, chama um por um pelo nome e distribui petiscos. Quando chega a vez de Max, joga um pouquinho mais longe ou diretamente a ele para que Max não perca o "agrado" para os demais. Em virtude da deficiência visual, o doguinho demora um pouco mais para encontrar a guloseima do dia. Fora isso, vida normal.
"Ele é descoladíssimo. A única coisa que eu adapto é a hora da chamada, quando ele vem buscar o biscoitinho. Jogo para garantir que ele possa pegar", disse a também descoladíssima Rose.
Aline explica que a sagacidade de Max deve-se ao fato de que um pet que não enxerga adapta-se com muito mais facilidade do que a espécie humana.
"Cães ou gatos senis que desenvolvem cegueira ocasionada pela idade e já estavam habituados com a presença de outros animais podem inclusive se sentir mais seguros e confortáveis na presença de seus contactantes que reconhecerão pelo cheiro e outros fatores. Os cuidados principais incluem evitar brincadeiras muito abruptas entre os pets e observar se os espaços estão seguros para a convivência."
Para os deficientes auditivos, a dica da veterinária é que o tutor invista em atividades com brinquedos visualmente chamativos com luzes e texturas, além de muito movimento.
"Jogar bolinhas e brinquedos para brincar de recuperação da caça é ótimo tanto para cães quanto para gatos. Para cães, brincar com bolinhas, cordas e mordedores é sempre muito interessante e sadio. Para gatos, deve-se brincar de caça. Pode ser com caneta de laser, varinhas com fios e penas próprias para gato e muito enriquecimento ambiental com arranhadores, nichos de parede e locais para o gato subir e observar", diz.
Tutora de uma cachorrinha surda, a cabeleireira Nilza da Silva, 56 anos, já percebeu que a SRD Branca não escutava logo nos primeiros dias da adoção, quando ela ainda era uma filhotinha de 6 meses. "Percebi que eu chamava e ela não me escutava. Levei a vários veterinários, que me disseram não haver o que fazer. Então, mesmo algumas pessoas me aconselhando a abandoná-la, nunca faria isso. Comecei a me adaptar a ela", disse Nilza.
Ela explicou que no início jogava objetos para que a cachorrinha percebesse sua presença. Agora, prestes a completar 10 anos de idade e de muito amor da família que a adotou (Nilza, o marido Seiso e o irmão Chico, um outro cachorrinho adotado posteriormente a ela), Branca "parece até que escuta".
Conversamos com os dois da mesma maneira. Ela presta atenção em nós, sabe a rotina da casa. Ela é bonita, carinhosa e acho que acabou ensinando muito a nós. Ela sempre dá um jeito de se fazer entender e a vida segue."
Antes de ser adotado pela engenheira agrônoma paisagista Monique Briones, 39 anos, o gatinho Cotton, de 1 ano e dois meses, foi devolvido algumas vezes ao abrigo onde morava, na Espanha, país em que Monique já reside há 14 anos. "As pessoas não entendiam o que ele tinha, por isso ninguém queria ficar com ele", disse.
No início, antes de saber que Cotton era surdo, a paisagista suspeitou que ele tivesse algum problema relacionado ao equilíbrio, já que ele não gostava de ficar no colo e tinha medo de descer as escadas da casa, além de gritar muito à noite.
"Ele não sabia miar, me arranhou toda quando tentei pegá-lo no colo. Mas quando o levei à veterinária, ela disse que ele poderia ser surdo, já que a porcentagem de surdez entre gatinhos brancos de olhos azuis é altíssima. Foi então que comecei a pesquisar sobre o assunto e vi que era isso mesmo", lembra Monique.
Com o passar do tempo, Cotton "adotou" o amor de Eva, a filha de Monique, e aprendeu a ler os sinais da casa. "Temos uma máquina que libera comida no pratinho em uma determinada hora do dia com a gravação da voz da Eva. Quando o Bin (o outro gatinho) ouve, já sai correndo. Agora o Cotton presta atenção nele e vai junto ou já dorme no pratinho para esperar a comida cair", conta Monique.
Para pets especiais, tutores especiais
A veterinária diz que a série de abandonos da qual Cotton foi vítima antes de encontrar a família de Monique deve-se a adoções por impulso.
"Antes de tudo, é preciso ter ciência de que é um animal que demandará mais tempo, mais cuidados e em geral mais despesas. Muitas vezes são animais que necessitam de visitas mais frequentes ao veterinário, fisioterapia, medicações. A adoção precisa ser responsável sempre. Planejamento é sempre importante". De acordo com ela, procurar relatos de famílias que vivam com pets especiais é sempre válido.
Lição de vida
Ana Paula Moreira Alves, 28 anos, encontrou o cachorrinho Pingo quando ainda estudava na Universidade federal do Amazonas e ele havia sido atropelado. Depois de cuidar dele e descobrir que o doguinho já era paraplégico antes mesmo do acidente, Ana o levou para morar na república de estudantes que ela residia na época e os dois não se desgrudaram desde então.
Hoje aos 9 anos, Pingo é um exemplo de superação. Em virtude da paraplegia, teve de ser submetido a uma cirurgia de penectomia (retirada do pênis). "Por conta da posição, a bexiga dele inchou bastante e ele teve de ser submetido a cirurgia. Hoje ele tem um canal e usa fraldas", conta Ana.
Engana-se, porém, quem pensa que Pingo é um cachorrinho triste. Ele brinca, corre, fica duas horas por dia em uma cadeirinha de rodas e está sempre feliz. "Ele já sofreu muito, mas isso não o abate de jeito nenhum. Com ele, aprendi que não são as condições físicas que ditam nossos sentimentos. Todos os animais são especiais, mas o Pingo deixa para mim uma lição, ele me ensina a viver. Ele se doa e retribui muito."
A professora também conta que a pandemia e o tempo em casa a ajudou a cuidar melhor de Pingo e a recuperação da cirurgia foi um sucesso elogiada pelos veterinários. "Vou fazer tudo o que puder para ele ter uma vida sem dor."
Ana atende exatamente as recomendações da veterinária Aline para cuidar de um pet com necessidades especiais seja quais forem.
Zelar para manter a qualidade de vida e saúde deles e lembrar que mesmo não andando perfeitamente ou ouvindo e enxergando, o amor deles para com a família é maior do que qualquer problema físico e todos merecem um lar feliz."
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