A moda já pensa no pós-pandemia. O resultado? Looks sensuais e libertários
Qual vai ser a primeira coisa que você vai fazer quando acabar a pandemia? Para muitos, a resposta pode ser "ir em uma festa". A música alta, que causa a sensação de tremor no corpo, e as centenas de pessoas ao redor se encostando enquanto dançam provavelmente é uma saudade, se não geral, majoritária.
Enquanto isso não é possível, a alternativa é criar um cenário imaginário. Com a moda não seria diferente.
Aos frequentadores de raves ou festas de techno, o visual é característico: peças libertinas, em que o corpo é mais do que só um molde para as roupas, vira destaque; cores que navegam entre os extremos, do neon ao total black; e óculos escuros, longe de serem aqueles tradicionais.
Mais recentemente, quem deu uma prova disso foi a maison francesa Coperni com a coleção outono-inverno 2021-2022: "Queríamos oferecer nossas roupas para que as mulheres pudessem sair e se divertirem quando tudo isso acabar", disse Sébastien Meyer, que comanda a marca ao lado de Arnaud Vaillant.
O resultado desse desejo foram minivestidos drapeados, casacos para serem usados isoladamente com botas de cano alto envernizadas e vestidos de renda transparentes, cobertos por lantejoulas.
Nesse mesmo passo, a MSGM criou uma rave para apresentar a coleção masculina embaixo de neve.
Já a Givenchy fez de seu desfile digital uma balada techno com a direção artística de Matthew Williams para a linha de gênero mista da marca.
Por fim, mas não menos importante, a Courrèges festejou a cultura clubber para a coleção de outono com a direção criativa de Nicolas Di Felice.
A tendência, como aponta a psicóloga comportamental Julia Galvão para Nossa, não é surpreendente, partindo do pressuposto de que essas festas são vistas como "locais de fuga para as pessoas, principalmente o público mais jovem".
"Para a maioria de nós, uma das únicas coisas que nos mantém mais sóbrios nesse momento é o que vai vir depois, o escapismo", comenta. "A roupa que vestimos diz muito sobre o nosso humor e nossa personalidade, logo, elas associadas a esses universos é como se criassem uma alternativa 'esperançosa' para os próximos tempos".
Enquanto o romântico e o fantasioso também disparam como destaques entre as coleções, a fim de buscar um olhar mais ingênuo e esperançoso ao público e para a própria moda em si, o clubbing segue o mesmo destino — embora a pegada seja outra. Em vez de flores e babados, o extravagante é a ferramenta para a libertação.
Na história, aconteceu algo semelhante a essa onda que vem tomando conta das passarelas da Europa, principalmente na França.
Depois da Revolução Francesa, um grupo de homens e mulheres, chamado "Incroyables e les Merveilleuses" ("Incríveis e Maravilhosos", em português), acolheram os novos tempos com festas em que usavam peças com transarpência, calças largas, perucas fora do padrão e chapéus gigantes.
Ou seja, fizeram a sua rave adequada à época.
As Merveilleuses escandalizaram Paris com vestidos e túnicas modelados a partir das antigas gregas e romanas, cortados de linho e gaze muito fino — ou até mesmo transparente — às vezes tão reveladores que eram chamados de "tecido de ar". Muitos vestidos exibiam decote e eram muito apertados para permitir bolsos.
As mulheres usavam perucas, muitas vezes loiras, pois a Comuna de Paris proibiu perucas dessa cor, mas também as usavam em preto, azul e verde. Chapéus enormes, cachos curtos como os dos bustos romanos e sandálias de estilo grego estavam na moda. As sandálias eram amarradas acima do tornozelo com fitas cruzadas ou fios de pérolas.
Embora separadas por séculos, essas festas e as atuais raves techno evocam sensações parecidas: pertencer a um lugar fora do comum, onde vestir-se de forma excêntrica, que pode ser só o mero e puro desejo próprio, é aceito e, sobretudo, louvado.
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