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Pernambucano cruza mais de 2.000 km pelo Brasil em bicicleta comum

Eduardo e Cajuína na estrada - Arquivo pessoal
Eduardo e Cajuína na estrada Imagem: Arquivo pessoal

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

09/04/2021 04h00

Em 2017, durante uma viagem pelo Ceará, o pernambucano Eduardo Henrique Santana Gomes, de 26 anos, teve um encontro que mudaria sua vida. Ele conheceu, em um hostel, um viajante venezuelano que estava percorrendo o território sul-americano de bicicleta.

"Ele já tinha atravessado a América do Sul inteira. E tudo com uma bicicleta bem simples, sem muitos adereços. Fiquei impressionado ao ver que era possível ir a qualquer lugar pedalando", lembra.

Inspirado pelo estilo de vida do venezuelano, Eduardo resolveu, também, virar um "cicloviajante": juntou dinheiro, comprou uma magrela e, em setembro de 2020, deixou seu estado para explorar o Brasil de bike. Tudo registrado em seu Instagram @perambulandu.

"Saí de Pernambuco com ideia de chegar até o Uruguai. Mas não tracei uma rota específica. Só sabia que tinha que ir em direção ao sul", conta.

Eu simplesmente chego nos lugares e me permito descobrir as coisas legais que existem ali".

Eduardo e Cajuína na estrada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Eduardo e Cajuína na estrada
Imagem: Arquivo pessoal

Desde o começo de sua jornada, o ciclista já rodou mais de 2.000 quilômetros pelo território nacional, às vezes pedalando 60 quilômetros em um único dia: depois que partiu de sua cidade (Recife), ele cruzou Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e, neste momento, se encontra em Minas Gerais.

E engana-se quem pensa que sua bike (que foi batizada de Cajuína) é um daqueles modelos de mountain bike caríssimos, projetados especificamente para enfrentar terrenos desafiadores.

"A Cajuína é um modelo simples e retrô, que é muito leve e confortável. Dá conta do recado", diz.

Cajuína totalmente carregada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cajuína totalmente carregada
Imagem: Arquivo pessoal

E, além de ser meio de transporte, a bicicleta carrega a casa de Eduardo. Em bolsas e cestas espalhadas sobre sua estrutura, a magrela leva uma barraca de camping, saco de dormir, um fogareiro, panelas, comida, ferramentas, roupas, água e um violão. Um verdadeiro lar móvel.

Praias, cachoeiras e noite no meio do mato

Em sua viagem, Eduardo tem explorado a enorme variedade de paisagens que existe no Brasil.

No Nordeste, por exemplo, ele visitou com sua bicicleta as praias paradisíacas de Alagoas e o enorme litoral da Bahia.

Cajuína no litoral da Bahia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cajuína no litoral da Bahia
Imagem: Arquivo pessoal
Cajuína atravessando rio da Bahia com a ajuda de barco - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cajuína atravessando rio de barco
Imagem: Arquivo pessoal

"Fiquei apaixonado por Boipeba, na Bahia. Passei uma semana lá. É um lugar com praias maravilhosas e uma energia muito boa", conta o viajante.

Já ao cruzar para Minas Gerais, o ciclista pisou em lindas cidades históricas e, logicamente, curtiu as cachoeiras que existem em solo mineiro.

Em seu percurso, Eduardo tem transitado por movimentadas rodovias, atravessado estradas pacatas, colocado sua bike em barcos para cruzar rios e, na hora de dormir, se virado para encontrar um lugar onde montar sua barraca de camping.

"Quando pedalo por rodovias, busco passar a noite em postos de combustível frequentados por caminhoneiros. São locais com banheiros onde dá para tomar banho, tomadas, internet e áreas onde colocar a barraca", relata.

Mas noites também são atravessadas em lugares de beleza natural. Em Alagoas, Sergipe e Bahia, ele acampou em praias paradisíacas. "Adorei acampar na Costa do Descobrimento. Lá encontrei praias desertas, onde me vi sozinho".

Eduardo dormiu em barraca na Bahia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Eduardo dormiu em barraca na Bahia
Imagem: Arquivo pessoal

E, quando não havia outra opção na estrada, o viajante chegou a se enfurnar no meio do mato para montar sua barraca e ter uma noite de sono.

Para comer, o seu fogareiro tem sido seu maior parceiro. "Faço minha comida durante estas paradas. Um pacote de arroz e um pacote de lentilhas rendem umas dez refeições", relata o ciclista, dizendo que evita ir a lanchonetes e restaurantes por questão de economia.

Para fazer um dinheirinho na estrada, inclusive, Eduardo tem contado com a ajuda de seu violão. Em diversos momentos do trajeto, ele tocou o instrumento em ruas de cidades que visitou e conseguiu levantar uns trocados.

Perrengues e acolhimento

Eduardo afirma que, até agora, passou por poucos perrengues em sua viagem.

Um dia, enquanto cruzava uma estrada, sua bicicleta sofreu uma avaria e ele teve que empurrá-la por 13 quilômetros até a cidade mais próxima.

Mas o maior aperto ocorreu quando o pernambucano já estava no território mineiro.

Eduardo e Cajuína na estrada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Eduardo e Cajuína na estrada
Imagem: Arquivo pessoal

"Acampei por três dias perto de uma cachoeira em Minas. Na última noite, caiu uma tempestade. E percebi que o lugar onde eu estava era muito ruim para acampar. Havia uma ladeira de terra logo ali ao lado e toda a água começou a descer na minha direção. Tudo alagou. Minhas coisas ficaram boiando dentro da barraca. Não parava de chover, com relâmpagos e trovões. Passei a noite inteira molhado e tremendo de frio".

Não faltam, porém, pessoas dispostas a ajudar o viajante ao longo de seu caminho.

"Em Minas, por exemplo, é surreal. O povo daqui é muito acolhedor", afirma. "Em São Gonçalo do Rio das Pedras, por exemplo, um morador falou que eu poderia colocar a barraca em seu quintal".

Alongamento antes de enfrentar mais pedaladas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Alongamento antes de enfrentar mais pedaladas
Imagem: Arquivo pessoal

Já na cidade de Turmalina, ao ver o viajante acampando, uma moradora o convidou para almoçar na em sua casa. "Ela fez um verdadeiro banquete", lembra.

E, mesmo tentando preservar o distanciamento social ao longo de seu trajeto, ele tem aceitado estes convites.

A viagem de bicicleta de Eduardo não tem hora para acabar.

Por causa das restrições de movimentação impostas pelo atual estágio da pandemia no Brasil, ele conta que, neste momento, está passando mais tempo parado nas cidades que visita, mantendo, na medida do possível, distância de outras pessoas.

Eduardo e Cajuína na estrada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Eduardo e Cajuína na estrada
Imagem: Arquivo pessoal

Mas, assim que a possibilidade de circulação aumentar, ele pretende continuar atravessando Minas Gerais, entrar no Estado do Rio de Janeiro, descer para o litoral norte de São Paulo e, depois, rumar para o sul do país.

E, como seu amigo venezuelano, o pernambucano tem o objetivo de começar, assim que possível, a pedalar por outros países da América do Sul. "Minha intenção é visitar Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru e muito mais. Quero fazer toda a volta pela região", afirma.