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Look "náufrago" e cabelão: o reflexo da pandemia nos cabelos masculinos

Na pandemia, os cabelos masculinos tiveram uma vida também diferente - Getty Images/iStockphoto
Na pandemia, os cabelos masculinos tiveram uma vida também diferente
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Luciana Borges

Colaboração com Nossa

10/04/2021 04h00

Quando o assunto são os hábitos de beleza criados por conta da pandemia de covid-19 muito já se falou sobre como as mulheres se saíram com essas mudanças, fosse com dando um tempo no uso de maquiagem, fosse deixando os fios brancos aparecerem e repensando tinturas ou alisamentos. Mas e os homens? Em se tratando desse tema, que alterações se instalaram no dia a dia de beauté deles?

Pois uma das mudanças mais perceptíveis pode ser vista na cabeça, ou melhor, nos cabelos dos rapazes. Por conta da pandemia, dois grupos se formaram em quem estava (e ainda está) praticando o isolamento social.

Há aqueles que aderiram aos cabelos raspados à máquina de um lado versus quem deixou os fios crescerem livres e sem corte. Para ambos, visitar o barbeiro virou mesmo coisa do passado.

Rodrigo Paiva antes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rodrigo Paiva antes
Imagem: Arquivo pessoal
Rodrigo Paiva depois - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rodrigo Paiva depois
Imagem: Arquivo pessoal

"Quando começou a pandemia, minha mulher passou a cortar meu cabelo. Mas mesmo assim, levava tempo, dava trabalho. Aí pensei: 'Quer saber? Vou passar a máquina!' Eu não raspei no zero, mas deixei bem batido de cima até embaixo. Gostei do visual e já decidi: vou manter assim mesmo quando voltar para o escritório", conta Rodrigo Paiva, de 45 anos, que é VP de Marketing e Operações em uma empresa das gigantes de tecnologia sediada na cidade de São Paulo.

As pessoas notam na primeira semana em que você aparece de cabelo quase raspado. Mas acho que agora já virou normal. Por mim, ficará assim para sempre", brinca.

Outro que entrou nessa onda de raspar os fios antes deles se rebelarem foi Diogo Bucci, de 37 anos e que trabalha como gerente de vendas na área de tecnologia. Acostumado a manter o corte indo ao barbeiro a cada três semanas, ele passou a máquina nos fios pela primeira vez em abril de 2020, depois de 15 anos sem voltar ao look dos fios raspados que usava quando estava na casa dos 20 e poucos.

Diogo Bucci em janeiro de 2020, antes de começar a quarentena - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Diogo Bucci antes de começar a quarentena
Imagem: Arquivo pessoal
Diogo Bucci já com a cabeça raspada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Diogo Bucci já com a cabeça raspada
Imagem: Arquivo pessoal

"Percebi que precisaria raspar o quanto antes o cabelo porque não teria mais como dar manutenção, como cuidar. Foi primeiro uma decisão por praticidade mesmo, porque assim é possível ficar tranquilamente uns dois meses sem precisar fazer nada.

Quando pude sair para fazer um corte profissional, mantive de novo a opção de deixar o cabelo raspado. Agora no calor, inclusive, é bem melhor", conta ele.

Look "náufrago"

"O cabelo mais raspado é o que eu chamo de 'look náufrago', aquele que dá uma cara de visual arrumado para os homens, mesmo sem muito recurso", explica André do Val, jornalista e consultor de estilo masculino.

Ele afirma que essa saída de usar a máquina para deixar os fios bem batidinhos é uma conhecida alternativa, uma "escapada" possível na beleza masculina. "Não precisa pentear e é possível tratar em casa de forma prática", afirma.

No entanto, aconselha ele, deve-se tomar cuidado com cortes feitos com máquina zero combinados à lâmina de barbear no couro cabeludo porque eles garantem um resultado bem mais "ousado" dentro desse contexto.

Não há propriamente uma questão de etiqueta para esse tipo de corte raspado, mas acho que a combinação máquina zero e gilette pode deixar o visual um pouco adolescente-rebelde, sabe? Talvez o corte com máquina um, dois, ainda bem curtinho sim, mas que seja mais apresentável, pode se tornar menos agressivo ou radical, dependendo da regra de cada escritório", afirma.

Assim como cuidados com a pele, os cabelos masculinos ganharam os holofotes na pandemia - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Assim como cuidados com a pele, os cabelos masculinos ganharam os holofotes na pandemia
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Para o consultor, o interesse nos cuidados com os cabelos e com a pele (o skincare é o queridinho do momento entre homens e mulheres) aumentou muito tanto no que se refere a busca para consumo próprio como também para estar por dentro destes conteúdos.

"Tendo mais tempo dentro de casa, essa parte de cuidados ficou mais prazerosa para as pessoas, virou um ritual mesmo para se sentir bem. No que se refere ao cabelo, vejo mais homens perguntando como usar cremes, por exemplo, o que é sempre muito difícil para eles e muito tabu. Mas enxergo uma vontade maior dos caras em se cuidarem. E, nesse sentido, há aqueles que tenham deixado o cabelo crescer mais. Algo do tipo 'vou ver como é que fica', sabe?", explica André.

Cabelo, cabeleira

Na contramão dos fios curtíssimos à base da máquina, estão homens como Rafael Issi, de 37 anos, gerente de contas em uma empresa do setor automotivo.

"Sempre tive o cabelo curto e ia ao barbeiro uma vez por mês. Agora, estou desde junho do ano passado sem passar perto da tesoura. Tentei seguir o isolamento 100% e só saio de casa eventualmente, quando tenho que ir ao escritório para alguma ocasião especial", diz ele.

Rafael Issi com os fios mais compridos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rafael Issi com os fios mais compridos
Imagem: Arquivo pessoal
Rafael Issi em foto com o cabelo que costumava manter  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rafael Issi em foto com o cabelo que costumava manter
Imagem: Arquivo pessoal

No começo, Rafael revela que quem mais estranhou o "new look cabeludo" foi a família. Agora, ele chama atenção entre os colegas de trabalho.

"Foi engraçado porque, a partir do momento em que eu comecei a entrar nas reuniões e as pessoas me viam de cabelo comprido, alguns achavam estranho, outros se divertiam. Também fazem brincadeiras — falam que estou parecendo um 'argentino''', conta Rafael.

Para ele, esse visual mais cabeludo causa maior estranheza, mas no sentido positivo:

Estou gostando bem dessa 'nova fase' com o meu cabelo. Nunca tive fios longos na vida e quero ficar pelo menos um ano sem mexer", afirma ele.

Para André do Val, esse cabelo longo by pandemia é marcadamente mais "wild".

"Está rolando mesmo esse cabelo comprido — só que sem corte. Porém, acho que daqui pra frente, mais do que totalmente raspado ou com esse comprido desregrado, as pessoas começarão a ter vontade de se arrumar", aposta o consultor.

O que será do seu cabelo no fim da pandemia? - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
O que será do seu cabelo no fim da pandemia?
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Cabelo dos novos tempos

"Vejo uma vibe meio anos 20, que foram os 'anos dourados' pós-guerra, após tragédia, em que as pessoas voltam a desejar um pouco de ostentação, de se arrumar e usar a imagem como elemento para reforçar a autoestima", defende.

Para o especialista, em um futuro próximo, ainda com o vírus circulando, ficar em casa será motivo para estar menos largado. E quando já rolar pequenas reuniões e festas sem risco de contaminação, talvez homens e mulheres apareçam superarrumados, como resultado desse efeito-rebote.

Talvez os rapazes queiram voltar a usar penteados de novo, colocar gel e finalizador, algo que já estava circulando entre o público masculino, mas que rolou uma pausa por conta da pandemia", diz ele.

Hora de fazer suas apostas e esperar para ver qual look se tornará mesmo o preferido dos rapazes no pós-pandemia.