Aos 10 anos Julia Krantz desenhou a cama que queria para seu quarto, onde vivia fazendo mudanças. "Era inspirada na do John Lennon", lembra, feliz com o fato de que sua mãe mandou fazer e incentivou seu talento. Anos depois, a vida a levou à faculdade de Arquitetura, que incluía Desenho Industrial no currículo. Prato cheio para a criadora, que descobriu seu caminho ao produzir um protótipo de cadeira. Um professor viu, deu ainda mais força e ela foi em frente.
A madeira se tornou uma paixão, o ingrediente certo para entalhar sua carreira: naquele começo, fez um curso na escola Cose di Legno, em São Paulo, onde aprendeu a trabalhar a madeira laminada. "Quando contei ao professor que queria fazer uma chaise longue nessa técnica, ele ficou surpreso. Era um trabalho insano. As pessoas me achavam louca, mas fiz."
Na garagem de casa, Julia trabalhou durante seis meses na peça com uma serra tico-tico e duas lixadeiras de mão.
É enlouquecedor. Trabalhava, estudava e não tinha as ferramentas ideais, mas com vontade consegui"
O móvel era o primeiro na madeira maciça laminada, material que daria nome a ela. Móveis funcionais, confortáveis, verdadeiras esculturas estavam em suas mãos. Com os anos, já estava no mercado.
"Um dia, o dono de uma galeria de Nova York comprou minhas peças e disse que eu precisava conhecer um profissional dos anos 1950, o finlandês Tapio Wirkala, que fazia trabalhos como os meus, usando laminado de madeira. Achei bacana que não tinha aquela referência, simplesmente tínhamos pensado parecido", lembra.
Aprendiz de marceneiro
Em 2000, Julia abriu sua marcenaria e foi atrás de maquinário. Seis anos depois, conheceu o marceneiro japonês radicado no Brasil Morito Ebini. "Ele me mostrou um mundo de conceitos, um olhar sobre a madeira que abriu minha visão", conta ela, que se tornou sua aprendiz.
Foram 10 anos observando o mestre esculpir o material toda segunda-feira, em Santo Antônio do Pinhal, interior de São Paulo.
Aquela parceria se estendeu ao design: a dupla assina a cadeira Weg. Depois, o designer Fernando Mendes se uniu a eles. "Evoluí muito e insistimos para que Morito desse aulas a mais gente. Hoje ele tem uma escola estruturada", conta, agradecida ao marceneiro premiado mundialmente.
Tenho verdadeiro encanto pela variedade de espécies, texturas, cheiros, possibilidades, temperatura e o conforto que a madeira proporciona"
Julia se situa entre artesã, designer e escultora, além de empresária dedicada — e ainda uma marceneira paciente por ver o melhor resultado. Afinal, os entalhes na madeira exigem tempo e um esforço que pouca gente imagina. "Tudo demora muito na marcenaria. Primeiro idealizo a peça, depois faço o modelo, passo à madeira e começo a esculpir. Faço testes e todo o processo pode levar de três a seis meses, ou anos", diz.
A poltrona Suave, um sucesso de vendas, é a que chega mais rápido ao fim: entre duas e três semanas fica pronta. O laminado de madeira maciça também não é facilmente encontrado, visto que a demanda por ele é pequena. Tudo isso leva o trabalho de Júlia a funcionar entre os eixos da arte, do design, do trabalho manual — tudo sob efeito precioso do tempo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.