Arábia Saudita além dos véus: brasileira conta como é viver no país
Vivendo há pouco mais de seis anos na Arábia Saudita, a brasileira Iris Cajé (@vidanasarabias) decidiu mostrar nas redes sociais como é morar no país e ressalta que nem tudo que contam sobre o país é verdade.
Casada com um saudita que ela conheceu durante seu intercâmbio para a Nova Zelândia, Iris se converteu ao islamismo e adotou práticas e vestimentas. Apesar disso, ao chegar ao país árabe e de maioria muçulmana, a religião ainda foi um choque.
Se parar para analisar, na Nova Zelândia eu via muçulmanos seguindo a religião de forma mais profunda do que aqui. Achei isso curioso", afirma.
Liberdade restrita e idioma difícil
Para Iris, uma das principais diferenças culturais e também um ponto negativo em relação ao país é a falta de liberdade de expressão. Por ser um país teocrático — onde há intervenção religiosa em decisões políticas e jurídicas —, não é possível ir contra o governo. "Protestos são proibidos e não tem liberdade de imprensa. Isso é bem estranho", conta a brasileira.
Como eles vivem uma monarquia absolutista, muitas tradições antigas ainda seguem sendo aceitas no país. Ela afirma ainda que, devido a políticas mais rígidas, há pessoas que comparam o atual governo até com a Coreia do Norte. "Você tem que ficar calado para tudo e ter cuidado com o que fala na internet", afirma.
A língua também é um dos pontos mais complicados na hora de permanecer no país, já que o árabe, segundo ela, é muito difícil de aprender e é um dos principais meios para se conectar com pessoas locais.
Eu aprendi a ler sozinha e fui me virando. Mas uma coisa é você formar palavras e outra coisa é saber o que está escrito. Tive muita dificuldade quando cheguei e não tinha pessoas que falassem 24 horas comigo em árabe. Até com meu marido só falo em inglês."
Ela brinca que os filhos sabem mais a língua do que ela mesma. "Pergunto para o meu filho que tem seis anos. Hoje em dia sei mais que antes, mas é básico", diz.
Fazer amizade com as próprias sauditas também não é fácil e, segundo Iris, as mulheres não são tão abertas para alguns tipos de relações.
Por outro lado, entre os pontos positivos, Iris destaca que a segurança não tem comparação com o Brasil.
Como viveu grande parte de sua vida morando em São Paulo, ela conta que o país é muito seguro para pessoas que querem sair à noite e andar sozinha nas ruas. Outro ponto, segundo ela, é a educação de quem vive na Arábia Saudita.
Turismo mais livre do que parece
O país abriu para estrangeiros no fim de 2019. Antes, era possível visitar o local apenas com vistos específicos ou com o turismo religioso. Mas, com o início da pandemia, o turismo perdeu força para atrair quem quisesse viajar e explorar algumas cidades.
Embora não seja muito comum, Iris conta que antes das fronteiras fecharem era possível viajar tranquilamente pelo país, inclusive mulheres desacompanhadas. "Conheci uma espanhola que estava fazendo couchsurfing na casa de sauditas. E até meu amigo ficou 'preso' aqui.", relembra.
Claro que visitar países do Oriente Médio requer alguns cuidados, principalmente no jeito de se vestir e seguindo costumes que precisam ser respeitados.
"Não é todo lugar que a mulher precisa usar o véu. Em Jeddah, por exemplo, a cidade é mais jovem e não é tão conservadora. Até as sauditas usam véus mais coloridos, diferentes. Então, a turista só vai precisar cobrir os ombros, não colocar roupas apertadas ou que mostrem muito", conta.
Já em Meca ou Medina, cidades que são mais conservadoras, é melhor que a mulher ande coberta.
Na praia - porém, coberta
Uma das maneiras de explorar o turismo no país é visitando as praias. Elas são divididas em particulares e públicas. Nesta última, nem mulheres e nem homens podem usar roupas de banho ou sungas e biquínis.
Atualmente, as mulheres podem frequentar locais públicos sem o uso da abaya, vestimenta longa, larga e de cor escura ou colorida. No passado, mesmo para entrar no mar, era obrigatório o uso da roupa. "Algumas ainda entram mesmo não sendo mais obrigatório. Acredito que, no futuro, elas possam entrar com burquínis ou roupas islâmicas de banho", afirma Iris.
Já nas praias particulares, o turista pode ficar mais à vontade para usar peças de banho e até biquínis. Ele pode contratar serviços específicos e se hospedar em resorts ou chalés. Quem deseja uma privacidade ainda maior, é possível dirigir por algumas horas e procurar praias desertas.
Vida das mulheres
Uma das dúvidas que a brasileira mais recebe em seu Instagram é sobre os direitos e a vida das mulheres no país. Embora elas tenham ganhado a permissão para dirigir apenas em junho de 2018, segundo Iris, há muitas coisas que o público feminino pode fazer e que não é falado abertamente na mídia ou por pessoas que não moram na Arábia Saudita.
Um dos pontos é o direito ao divórcio. "Se ela não aceitar um casamento poligâmico, por exemplo, pode pedir o divórcio sem problemas. Em outras situações também", afirma Iris.
A poligamia também é um dos estereótipos que, segundo Isis, é bem frequente quando as pessoas pensam no Oriente Médio. Ela conta que hoje em dia é muito raro homens terem mais de uma esposa e há uma série de requisitos para que ele possa se casar novamente.
Encontrar mulheres trabalhando também virou uma prática no país.
A Arábia Saudita mudou muito. Antes até em lojas de lingerie só homens que trabalhavam. Hoje, a mulher pode trabalhar em 'qualquer' coisa", afirma.
Segundo ela, a única proibição para elas é na área de construção como mestre de obras ou na coleta de lixo.
O acesso à educação também é algo possível no país. Muitas mulheres podem frequentar faculdades e escolherem as profissões que desejam. Em 1970, foi fundada a maior universidade feminina do mundo na capital Riad. "Digamos que a Arábia Saudita é como o Brasil na década de 30."
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