É certo dar banho em gato? Atenção: prática pode afetar a saúde do bichano
Então você resolveu "presentear" o seu gatinho com um banho relaxante e quentinho. Afinal de contas, ele tem sido um grande companheiro de isolamento social e merece um tratamento especial, certo? Cuidado! O que para você pode parecer uma ótima ideia, para o bichano é um fator de estresse e pode desencadear até problemas físicos e doenças.
Com 1 ano e 4 meses, a gatinha Athena, uma legítima maine coon vermelha, adora brincar com água, beber na torneira da pia e molhar-se. Na hora do banho, porém, a coisa muda de figura. A gatinha fica extremamente estressada e chegou até a fazer xixi de tão nervosa após um dos banhos.
"Mas viemos para casa e no outro dia ela já estava seca e sem cheiro nenhum de xixi. Ela mesma se limpou ao lamber-se. Ela odeia o banho, odeia ver o rabo dela molhado, fica apavorada com o barulho do secador", lembra a estudante Isabelle Braga, 20 anos.
A veterinária especialista em felinos Vanessa Zimbres, da Clínica Gato é Gente Boa, de Itu, explica que o comportamento de Athena foi uma reação guiada pelo instinto de sobrevivência.
"Trata-se de um animal predador, um caçador solitário que, por não estar no topo da cadeia alimentar, também pode ser caçado. Além disso, qualquer presa que tenha cheiro vai atrair a atenção do predador.
Quando nós os submetemos ao banho, mesmo que apenas com produtos exclusivos para gatos, sem perfume, tiramos o cheiro natural deles e então vem o fator de estresse, já que eles sentem-se sujos. Por isso, precisam lamber-se para tirar aquele cheiro que não é deles."
"Autolimpantes"
A raça maine coon, de Athena, é caraterizada por gatos grandes, de pelo longo, que podem chegar a 1 metro de comprimento e pesar até 16 quilos. Trata-se de uma raça americana, uma das maiores do mundo. Mesmo assim, até para pelos longos a recomendação dos especialistas é que os tutores garantam, na escovação, a ajuda que os gatinhos precisam para manterem a higiene em dia.
"É difícil, às vezes com muitas camadas de pelo, o gatinho consegui manter toda a pelagem sendo cuidada por meio da lambedura. Idealmente, ele deveria conseguir. No entanto, algumas raças têm mais dificuldade, então o tutor precisa auxiliar escovando pelo menos 3 vezes na semana", ensina a psicobióloga Juliana Damasceno, consultora de felinos da Petz/Seres.
Para quem encontra resistência do gato na hora da escovação, ela diz que é preciso encontrar a escova ideal para as preferências do felino, além de fazer daquele momento algo positivo.
Só em casos especiais
O veterinário especialista em gatos, André Gatti, da Clínica Gatto de Botas, onde Athena tomava banho, resolveu não oferecer mais o serviço.
"Eu quis colocar os banhos para ajudar os clientes, mas achei que não estava ajudando, pelo contrário." Gatti refere-se às tentativas de conscientizar os tutores de que os banhos só deveriam ocorrer em casos esporádicos e pontuais.
"Por mais que o banho seja realizado em uma clínica exclusiva, ainda assim é uma situação muito incômoda para os gatinhos. Tirá-los do ambiente deles é um problema. Uma coisa é o gato brincar com a água em uma situação onde ele quis estar. Outra coisa é obrigá-lo a fazer isso. A parte de molhar nem tem tanto problema, secar é bem mais incômodo para eles", afirma o veterinário.
Vanessa também é enfática ao afirmar que os bichanos não precisam do banho e que a secagem é a pior parte do processo.
"Independentemente se o pelo é longo ou curto, o mais importante é a escovação. Só defendo o banho em gatos se ele for adjuvante de alguma terapia, problema de pele ou algo bem pontual. Além de o banho ser estressante, há ainda a secagem que acaba piorando a situação de medo dos gatos", diz.
Ela explica que o estresse agudo aliado a uma predisposição genética de alguns gatinhos pode provocar síndromes relacionadas ao estresse.
"Pode acontecer de um gato que passa pelo banho desenvolver uma cistite e até fazer xixi com sangue. Também há casos de claudicação, dores articulares e outros problemas que podem se manifestar."
Se banhar, fique de olho
Como toda regra, porém, o banho para gatos também tem sua exceção. A veterinária afirma que os felinos da raça sphynx, aqueles que não têm pelos, precisam de banho.
"Essa raça tende a uma oleosidade maior na pele e, por mais que eles se limpem com as lambidas, não conseguem retirar a sujeira que gruda por conta da oleosidade natural."
O ideal, de acordo com Vanessa, é que o banho não tenha cheiros e que a secagem seja feita apenas com uma toalha para diminuir os fatores de estresse.
Mesmo com as recomendações, se a opção for pelo banho, os especialistas aconselham cautela e medidas de segurança.
Juliana recomenda que, antes de tudo, se estabeleça uma associação positiva para que o gatinho acostume-se ao barulho da água. Também é importante preocupar-se com a temperatura do ambiente e da água já que os gatinhos sentem muito frio.
Recomendo também que a pessoa utilize produtos para gatos sem odor, evite molhar o rosto e as orelhas, seja o mais breve possível e enxugue bem com uma tolha além de preferir um dia de sol para que não haja necessidade de utilizar o secador", indica Juliana.
Vanessa acrescenta outra dica para quem submete o gatinho a banhos frequentes. "Não recomendo fazer a limpeza dos ouvidos porque vai estimular a produção de cera e ouvido de gato não pode ter sujeira."
Para os tutores que preferirem levar o bichano a algum petshop para o banho, Juliana aconselha que sejam observados a expertise dos profissionais e a forma pela qual o agendamento é realizado. "Que seja, principalmente e se possível, em um local ou horário separados dos cachorros. Também é importante saber se eles utilizam materiais hipoalergênicos, sem odor e se há algum preparo diferenciado para o atendimento dos gatos."
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