Sozinha, ela transformou Fiorino, foi a Ushuaia e planeja viagem ao Alasca
A brasileira Camila Caggiano (@sobasestrelas) é uma fotógrafa que, durante grande parte de sua vida profissional, quis percorrer o mundo para retratar paisagens ao ar livre e atividades como a prática de surfe. Quis o destino, porém, que ela trabalhasse por muitos anos dentro de estúdios e escritórios, com quase nenhuma viagem ou contato com a natureza.
Fui ficando dentro dos estúdios fotográficos e, quando vi, eu já ia fazer 40 anos de idade. Aí pensei: 'quando foi que meus sonhos morreram?'. Vi que deveria começar a rodar pelo mundo naquele momento", relata.
Camila, então, comprou uma Fiorino zero quilômetro e, no compartimento de carga do veículo, montou um espaço habitável, com cama, baú para guardar objetos pessoais, armário de cozinha, isolamento térmico, caixa d'água e uma mangueira para tomar banho, em um trabalho que ela realizou praticamente sozinha e que demorou aproximadamente cinco meses.
E o carro até ganhou nome: Safira.
"Podendo dormir dentro de um carro, eu não gastaria com hospedagem, o que geralmente é uma parte cara da viagem", relata ela. "Era só jogar um colchão na parte de trás e sair pelo mundo".
Na primeira jornada, realizada entre 2017 e 2018, Camila embarcou em São Paulo e, sozinha, dirigiu até Ushuaia, na "Rota do Fim do Mundo".
"Foi uma viagem de três meses e que percorreu 15 mil quilômetros. Depois de entrar na Argentina, desci pela Ruta 3, uma rodovia clássica que, às vezes, beira o oceano Atlântico. É uma estrada muito boa, que me permitiu fazer a viagem em 10 dias. E a volta eu fiz pela Ruta 40, que cruza a região da Cordilheira dos Andes", lembra.
Durante a jornada, a fotógrafa esteve em destinos litorâneos como Bahía Blanca e Puerto Madryn e passou o Natal sozinha na beira de um lago perto de Ushuaia: estacionou o veículo junto à água e fez uma fogueira. "Queria ficar isolada no meio do mato", diz.
Não fiquei muito tempo em Ushuaia, porque percebi que era uma cidade muito turística. E eu, geralmente, evito cidades de turismo convencional", diz.
A viagem de Camila para Ushuaia deu origem a um documentário chamado "Sob As Estrelas":
A brasileira também visitou a geleira Perito Moreno, explorou a área montanhosa de El Chaltén e, ainda, conseguiu entrar no Chile e percorrer a lendária estrada conhecida como Carretera Austral.
Além disso, ao longo do percurso, foi praticando uma das atividades que mais gosta de fazer na vida: escaladas de montanhas.
Pandemia frustra segunda viagem
Camila conta que, a bordo da Fiorino, leva dois fogareiros de camping para cozinhar ao longo de seus percursos pela estrada. Quando permitido, ela também faz fogueiras para preparar seus alimentos (mas também frequenta restaurantes e lanchonetes pelo caminho).
Na hora do sono, a brasileira prefere parar a Safira em estacionamentos de postos de combustíveis (que costumam oferecer chuveiros, lojas de conveniência e internet) e onde não há cobrança de pernoite.
Mas, sempre que possível, dorme em lugares selvagens, onde o contato com a natureza é total.
Acostumada com a vida no veículo depois da viagem a Ushuaia, Camila resolveu, em 2019, encarar uma nova jornada estradeira de longa duração.
Desta vez, entretanto, o plano foi ainda mais grandioso: o objetivo era ir novamente até a Argentina e, de lá, começar a subir rumo ao Alasca, cruzando boa parte da América do Sul, América Central, México, Estados Unidos e Canadá.
A chegada da pandemia, porém, atrapalhou tudo — e ainda fez Camila passar por um grande perrengue.
Cheguei à Argentina em dezembro de 2019 e, em março de 2020, eu estava em Bariloche. O meu namorado, o Fabio, saiu do Brasil para me visitar lá, entrando na Argentina no dia 15 de março. Logo em seguida, fizeram o lockdown", lembra.
De repente, o casal não podia mais circular com a Fiorino pelo país vizinho.
Presa na Patagônia
Vendo sua situação, um argentino que eles haviam conhecido lhes emprestou uma cabana abandonada no meio de um bosque.
"A gente se isolou lá, mas, um dia, um vizinho nos viu e chamou a polícia. O vizinho percebeu que éramos estrangeiros e achou que representávamos perigo".
Camila relata que, atendendo ao chamado do homem, militares do Exército entraram na propriedade onde ela e seu namorado se encontravam e tentaram levá-los a um hospital, para ver se os dois estavam infectados. "Eles pediram nossos passaportes e se assustaram ao ver que o Fabio havia acabado de cruzar a fronteira", conta.
Os dois, entretanto, convenceram os militares a deixá-los na cabana — mas ficaram proibidos de sair do local durante 15 dias.
Nestas duas semanas, o casal teve a ajuda da natureza para sobreviver, pescando em um rio que corre na região e colhendo frutos de árvores do terreno.
Rumo ao Brasil...
Após as duas semanas isolados na cabana, Camila e o namorado receberam autorização para embarcar na Fiorino e começar a dirigir de volta ao Brasil.
A aventura, porém, não havia acabado: no regresso ao país, que durou cinco dias, eles precisaram passar por diversas barreiras policiais na estrada e tiveram que permanecer o máximo de tempo possível dentro da Safira, por causa da limitação à circulação de pessoas que existia na Argentina naquele momento.
"Estávamos proibidos de dirigir após as 10 da noite. Então, a gente dirigia durante todo o tempo em que podíamos estar na rua, parávamos, dormíamos e, no dia seguinte, continuávamos com a viagem".
De volta a São Paulo, Camila conta que colocou a Safira em modo de descanso por causa da pandemia. Mas seus planos de viagem permanecem vivos.
Estou com 45 anos de idade e, pelas previsões, se tudo der certo, conseguirei estar vacinada em julho deste ano. Vacinando, eu volto para a estrada".
O plano da fotógrafa é, então, retomar a viagem rumo ao Alasca a bordo da Fiorino e, no caminho, escalar montanhas por todas as Américas. "E, neste período em que estou parada, tenho feito pequenas mudanças na Safira para deixá-la mais confortável".
... com a Alasca na mente
A América do Norte, contudo, não é o ponto final para os objetivos de Camila.
A brasileira afirma que tem o sonho de dar a volta ao mundo de carro — e já pensa em maneiras de ir para a Europa após o Alasca.
"Quero conhecer tudo, ficando o tempo que achar necessário em cada lugar", diz.
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