Desde o primeiro encontro para compor uma canção juntos até o primeiro samba-enredo a quatro mãos, Moacyr Luz e Teresa Cristina colecionam as dores e as delícias do que é ser artista no Brasil. São mais de 20 anos de braços dados com a MPB.
"Com Moacyr eu tive a honra de fazer meu primeiro samba enredo, em 2014, para a Renascer. Ganhamos Estandarte de Ouro", conta Teresa, que recebe Moacyr no "Botequim da Teresa", para uma rodada de conversa regada a vinho tinto, clássicos do samba e bolinho de bacalhau do famoso Bar da Portuguesa, em Ramos.
Amigos e parceiros de longa data (ele fazendo música e ela a letra), os dois se encontraram pela última vez presencialmente em janeiro, para a gravação do programa, no qual eles abriram o baú de lembranças e deram boas risadas do passado.
"Moacyr me chamou para ir até a casa dele compor, estava começando minha pesquisa de Candeia, não tinha feito nada de relevante ainda. Ele, simplesmente, morava no mesmo prédio de Aldir Blanc (1946-2020), na Tijuca. Não dormi, fiquei ansiosa, separei minha camisa do Vasco que eu mais amava, de malha e sem patrocínio. Assim que abriu a porta, Moacyr falou para mim: 'Ai meu Deus do céu' e voltou para trás. Eu perguntei: 'Você não é Vasco?'. Na minha cabeça estava claro que ele era vascaíno, pois morava no mesmo prédio do Aldir. Começou errado mas deu certo", recorda Teresa.
Vida de samba
Aos 63 anos, Moa — como carinhosamente é chamado entre amigos e admiradores — é carioca, flamenguista e dono de um acervo musical que é uma verdadeira joia nacional. Uma devoção sem fim.
São dele pérolas como "Estranhou o quê", "Toda hora", "Vida da minha vida", "Cabô, meu pai" e "Saudades da Guanabara" (com Aldir Blanc), esta última uma declaração de amor ao Rio.
"Morei por 23 anos no mesmo prédio de Aldir, ele no quarto andar e eu no térreo. Quando compomos 'Saudades da Guanabara', eu senti a responsa", diz Moa, a postos com seu violão.
A parceria com Aldir começou em 1984, e ainda gera frutos. Uma música inédita dos dois, "Muito além do jardim", é uma das novidades do álbum que o cantor carioca Augusto Martins gravou este ano com o pianista Paulo Malaguti Pauleira, integrante da atual formação do grupo MPB4. O disco se chama "Como canções e epidemias".
"Você é quem deveria entregar a chave ao prefeito neste carnaval", dispara Teresa ao seu convidado.
Papo de botequim
Além de música, Flamengo e parcerias de sucesso, Moa é apaixonado por gastronomia, em especial comida de botequim.
"Quando fui ao Bar da Portuguesa pela primeira vez, sentei na esquina e me surpreendi com a estátua do Pixinguinha sentado numa cadeira. Não é possível isso. Virei para a Dondon (dona do bar) e perguntei: 'Vem cá, o Pixinguinha morava aqui perto?'. Ela me respondeu: 'Morava, e sentava nesta cadeira, que eu doei'", comenta Moacyr, entre muitas outras histórias envolvendo a trinca: boteco, petisco e amigos.
Visivelmente uma pessoa inquieta (sempre dedilhando o violão enquanto bate-papo), o compositor é um bom cozinheiro, inclusive, prepara um jiló com cachaça "inacreditável", segundo Teresa, "seu único defeito é torcer pelo Flamengo".
Entre gerações
Entre a velha guarda de Nelson Sargento e Monarca e a geração de Zeca Pagodinho, Moa é o elo que une estas duas pontas. Não à toa, há mais de 15 anos, ele comanda a roda Samba do Trabalhador, no Renascença, ao lado de talentos de diferentes idades. Inclusive Teresa Cristina, com quem compôs hinos como a potente "Natureza e fé", que exalta Xangô, o orixá de Teresa.
O Moacyr tem a alma dos bares, acho todos estes lugares do 'Botequim da Teresa' ele conhece. Ele faz parte da alma do Rio, na verdade. É um carioca no que tem de melhor: inteligente, interessante e de bom humor. Gosta de comer, beber e encontrar os amigos no boteco. Muitas das suas músicas, eu tenho a certeza, ele começou e terminou dentro do botequim. Ele tem este olhar de carinho que me fascina"
Samba, série e Teresa
O "Botequim da Teresa" vai ao ar todas as sextas-feiras, às 10 horas, no YouTube de Nossa (inscreva-se já para receber os lembretes), no site, no UOL Play e no Facebook de Nossa.
O programa é uma coprodução de Nossa, MOV, a plataforma de vídeo do UOL, e da 2291 Conteúdo. Ele foi gravado em janeiro seguindo todos os cuidados necessários recomendados pelas autoridades de saúde durante a gravação do programa, como testagem dos convidados e da equipe, uso de máscara, álcool em gel e distanciamento social. Metade dos convidados foi recebida de forma presencial e a outra metade no formato remoto.
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