Ela chegou ao Everest sozinha: "Tentava controlar minha própria mente"
A nômade digital Mariela Vasconcelos (@marielaviaja), 34 anos, viaja o mundo desde 2014. E foi durante sua estadia na Ásia que a brasileira decidiu ir além e superar todos os desafios vividos por ela: chegar até o Everest sozinha.
Depois de uma conversa com um amigo, Mariela decidiu fazer a viagem por conta própria e encarar o trajeto. No entanto, para escalar o monte Everest é necessário ir com um guia, além de desembolsar muito dinheiro. Por isso, ela decidiu chegar até o campo base da montanha (que tem mais de cinco mil metros de altitude) e percorrer todo o caminho sozinha.
"Eu comecei a estudar, ler livros e me preparar. Como sou instrutora de mergulho já tinha preparo físico", conta.
Na época, a viajante estava passando uma temporada na Tailândia e a distância facilitava o acesso ao Nepal. Eram apenas quatro horas da capital Bangcoc até o país.
Trilha difícil e com aventura
Mesmo não escalando o monte Everest, chegar até o campo base requer muitos cuidados e preparo físico e psicológico.
Tem que ter muita força, resiliência e responsabilidade. Requer um conjunto de coisas. Lembrei das minhas maratonas e tentava controlar minha própria mente , afirma.
Ao chegar na capital Katmandu, ela se hospedou em um hostel e acreditava que teria mais pessoas fazendo o trajeto e, mesmo estando sozinha, poderia ter a companhia de alpinistas. Porém, para sua surpresa, era final da temporada e não havia muitos turistas indo para a trilha e viajando pelo Nepal. "Percebi ali a aventura que estava entrando".
Quando chegou ao país, para fazer o caminho, ela estava com 10 quilos nas costas, que incluíam roupas, lanches e sacos de dormir. Ao longo do trajeto, há pontos de paradas estratégicas para dormir e descansar. E é preciso ir bem "equipado", já que muitos lugares não têm calefação e quem faz a trilha encara temperaturas negativas e pode sofrer com hipotermia.
Tontura e "mal de altitude"
Geralmente, o trajeto todo dura duas semanas, contando a ida e a volta. Mariela conseguiu fazer em nove dias e depois seguiu para uma outra montanha, totalizando 16 dias de viagem. Ela conta que andava, em média, cinco horas sem parar e o máximo foi 12 horas em um dia de travessia entre as montanhas.
Um dos seus principais medos era passar mal durante a trilha e, por isso, tentava não exigir muito de si. Poucas pessoas passavam por ela durante o trajeto e quando algumas cruzavam com a viajante, sempre se espantavam por ela estar sozinha. "Alguns falavam que era muito forte e corajosa", diz.
Como é bastante comum alguns alpinistas sofrerem com sintomas do "mal de altitude", principalmente quando estão acima dos 3 mil ou 4 mil metros, a viajante se preparou e contratou o melhor seguro caso sofresse algum problema ou acidente nas montanhas.
Depois de chegar ao campo base do Everest (com 5364 mil metros de altitude) e também na montanha Kala Patthar, ela começou a sentir muitos enjoos e tonturas. Foi aí que nômade digital percebeu que precisava ir para altitudes menores.
Após o mal-estar, ela teve que descer para um outro vilarejo e permanecer no local por dois dias. "Eu comecei a ter os sintomas do mal de altitude, o que é normal. As trilhas são de altitude muito elevada e por isso ocorre este problema. Preferi descansar e esperar", relembra. Depois da melhora, ela seguiu para o lago Gokyo e chegou no campo base da montanha novamente.
Quando o viajante atinge essa altitude, existem vários "campos base", com estrutura para quem deseja descansar e acampar. Segundo Mariela, chegar até este local é possível, mas no topo do Everest (conhecido como cume) e em outras montanhas do Himalaia, é preciso ainda mais preparo e contratar guias ou empresas especializadas.
É seguro ir sozinho?
Embora Mariela tenha feito todo o trajeto sozinha, a viajante não recomenda que pessoas façam a trilha sem um guia especializado. Mulheres também devem ter cuidado.
Não encontrei nenhuma sozinha e a única que cruzei estava com guia. Tem o perigo da montanha sim. Se você não está preparado, por que ir em um lugar que tem riscos?", afirma.
Caso o viajante decida ter esta experiência, segundo ela, é melhor ir com amigos, que conheçam a rota ou até com guias locais, para dar mais segurança. "Eu tomei todas as precauções e sou uma viajante muito responsável. Por isso fui sem ninguém".
Hoje, quando questionada se iria sozinha novamente, ela diz que preferia ir com alguém. Mas a escolha por uma companhia não tem a ver com os riscos ou dificuldades de uma viagem solo, e sim, para dividir o momento e contemplar o Everest.
Eu sempre gostei de viajar sozinha e vou continuar fazendo isso. Mas nesta viagem específica quero voltar com alguém próximo, para poder compartilhar as belezas de um dos lugares mais bonitos que já pisei na vida".
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