Empresa compra, reforma e vende apartamentos antigos no centro de São Paulo
O empresário Alexandre Limpo de Abreu, dono de uma produtora, e o fotógrafo Arnaldo Borensztajn não trabalham com arquitetura, mas no mercado da moda. Porém, a mente dos dois e a paixão por apartamentos antigos, cheios de história, deram origem à Brise, empresa especializada em comprar, reformar e vender apartamentos antigos do centro de São Paulo.
O conceito da Brise surgiu na mente de Alexandre quando, ao longo dos anos em que se dividiu entre Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), percebeu que seus amigos estavam procurando apartamentos em bairros como Consolação, Vila Buarque e Santa Cecília — regiões antes renegadas.
"Acho que, por ser de fora da cidade, vi muito claramente esse movimento em direção ao centro. Aí comecei a procurar apartamentos, principalmente em prédios que me interessavam pela história, vi que o metro quadrado era muito barato e percebi que tinha negócio", fala ao Nossa.
Porém, por mais que tivesse a cabeça empreendedora, ele não tinha expertise criativa. Foi quando se lembrou do apartamento de Arnaldo Borensztajn.
Há oito anos, o fotógrafo comprou um imóvel no centro expandido e foi atrás de arquitetos para reformar e remodelar o lugar. Porém, durante as conversas, percebeu que ele mesmo poderia fazer o trabalho. "E, quando entrei no apartamento dele, fiquei impressionado com aquele projeto incrível, principalmente porque ele saiu da cabeça de uma pessoa que não é formada em arquitetura", fala Alexandre.
Assim, quando teve a ideia da Brise, foi natural chamar Arnaldo para um café com croissant. "Hoje, ele é a força criativa da empresa, enquanto eu cuido do operacional."
Caçando tesouros antigos
O primeiro projeto da Brise saiu do papel há um ano e meio: um apartamento no prédio mais antigo da Vila Buarque, que tem por volta de 100 anos. O edifício tem apenas três andares e foi construído por imigrantes portugueses. O imóvel foi reformulado: foram derrubadas paredes para a cozinha ficar mais ampla e, aproveitando o pé direito alto, foi construído um mezanino.
O principal método do empresário para encontrar bons apartamentos antigos é batendo perna pelos bairros que ele acha interessante.
"Converso com corretores, com zeladores e síndicos de prédios que gosto e que tenham história", fala Alexandre. Porém, por mais que façam essa busca em estilo livre, o foco da Brise é, principalmente, apartamentos construídos antes da década de 1960.
Porque, nessa época, as coisas eram bem feitas. A qualidade do trabalho caiu depois disso, já que as empresas queriam subir prédios o mais rápido possível, economizando o quanto pudesse."
Nessa correria pelo lucro, Alexandre diz que os imóveis perderam qualidades como pés direitos altos, janelas maiores, com maior entrada de luz, e características que passam despercebidas a um olho não treinado como colunas chanfradas.
"Os halls, as entradas dos prédios, também são deslumbrantes. Os edifícios construídos nos anos 1940, 1950 são um orgasmo de granilite, por exemplo, São detalhes que nos preenchem", afirma o empresário.
E, assim como eles, os clientes da Brise "sentem tesão" por detalhes arquitetônicos. "Isso nos faz mais feliz. Entendemos que não é uma tara só nossa."
Restauração e remodelação
A assinatura dos edifícios é um diferencial, mas não é o mais importante para que a Brise resolva investir em um imóvel. "Já aconteceu de eu ver um apartamento em um prédio do Vilanova Artigas, mas, quando fui ver a portaria, vi que ela foi reformada e completamente descaracterizada. Parecia uma mistura de consultório de estética com médico", comenta Alexandre.
Mudar completamente o projeto pensado pelo arquiteto é uma das controvérsias sobre grandes reformas em apartamentos antigos. Porém, por gostarem tanto de detalhes arquitetônicos, a dupla às vezes investe tempo e dinheiro restaurando detalhes e elementos originais dos apartamentos em que trabalham.
"Poderíamos economizar muito mais se quebrássemos e colocássemos tudo novo", fala Alexandre. Um exemplo foi a janela do primeiro projeto da Brise. "Tivemos que tirar 100 anos de tinta dela. Levou dias e, no fim, poderíamos encontrar uma madeira feia por baixo. A boa surpresa é que encontramos o Pinho de Riga, um material que era usado como símbolo de status na época em que o prédio foi construído", afirma o fotógrafo.
Eles também restauraram o hall de elevador do apartamento, mas a janela da cozinha não teve a mesma sorte. "Ela era de metal, muito bonita, mas estava muito corroída, desgastada. Tivemos que colocar uma contemporânea", complementa o empresário.
Assim como a janela da cozinha, há coisas em um apartamento antigo que não dá para "restaurar". É preciso colocar tudo abaixo e substituir. "A fiação e hidráulica, por exemplo, precisam ser modernizadas", continua o empresário.
Mas não é apenas a estrutura dos imóveis: a disposição dos cômodos também precisa ser atualizada. "Há 100 anos, o modo de viver era outro", diz. Por isso, na Brise, a remodelação de um apartamento antigo costuma começar pela cozinha.
"Antes, esse era um cômodo que era segregado, porque era onde ficavam os funcionários. Não era uma área social. Hoje em dia, quem domina a cozinha é o morador da casa. Ele não pode mais ficar segregado lá enquanto os amigos conversam na sala, por exemplo", diz Alexandre. É por isso que, nos projetos da empresa, a cozinha aberta, ampla, é uma constante. "É o nosso ponto de partida, central."
Desta forma, o empresário diz que é importante ver um apartamento antigo como um projeto, um imóvel com potencial, e não o produto final. "Porque, na compra desse tipo de imóvel, você economiza no metro quadrado, mas vai ter que investir na obra. Já que terá que reformar, você pode fazer mudanças mais profundas, como trocar a disposição dos cômodos", aconselha Abreu.
Apartamento novo em prédio antigo
Imóveis dos anos 1960 são, muitas vezes, belíssimos, mas não podemos dizer o mesmo sobre a papelada. Às vezes esse tipo de apartamento não está com a documentação regularizada porque faz parte de partilhas de bens, por exemplo.
Por outro lado, eles também precisam de obras. E quem já reformou um imóvel sabe que a experiência pode ser traumatizante. Isso quando você tem sorte de encontrar um bom apartamento, por um bom preço. Assim, além de ser o fruto da paixão de duas pessoas por detalhes arquitetônicos, a Brise também ofereceria a solução para essas "dores de cabeça".
A gente faz tudo o que a pessoa teria que fazer. Entregamos um apartamento novo em um prédio antigo".
A empresa costuma colocar o apartamento à disposição já com o projeto de arquitetura e marcenaria feitas. Principalmente a da cozinha. "Mas, no pós-venda, também nos colocamos à disposição para ajudar a fazer mais armários, caso o cliente queira assim". O fato de trabalhar de perto em casa projeto e ter esse contato direto com os compradores faz com que os clientes da Brise se tornem espécie de amigos dos novos moradores.
Arnaldo diz que eles têm um objeto de desejo: restaurar um imóvel em um edifício projetado por João Artacho Jurado, autor de edifícios como o Viadutos, Planalto e Louvre. Coincidentemente, assim como a dupla da Brise, o artista não era formado em arquitetura.
"A academia torcia o nariz para ele, porque era o auge do modernismo brasileiro e ele vinha na contramão", comenta o fotógrafo. Artacho não podia nem mesmo assinar os próprios projetos, mas era apaixonado por criá-los e hoje faz parte da paisagem da cidade.
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