"Compra de vingança": desejo de consumo cria fenômeno no pós-pandemia
A pandemia fez com que moletons e sandálias se tornassem nossas peças-chaves para o visual do dia a dia. Mas e depois? "Quando tudo isso passar"?
No Brasil, a perspectiva ainda é longa, mas em países na Europa, Ásia, Oceania e América do Norte essa realidade já se faz presente. De volta às ruas, as pessoas agora buscam recompor o tempo que perderam confinadas dentro de casa e, uma das soluções encontradas por parte delas, foi o "revenge shopping", ou "consumo de vingança", em tradução literal.
Embora as compras pela internet tenham decolado durante esse período, a sensação de sair de uma loja com sacolas cheias de roupas não foi esquecida.
Em abril de 2020, no primeiro dia de reabertura, a Hermès de Guangzhou, na China, faturou US$ 2.7 milhões. E aqui estão outras provas em números: a LVMH divulgou seu relatório do primeiro trimestre anunciando um aumento de 45% na receita. A Hermès cresceu 44%. E a Kering, conglomerado dono de marcas como Balenciaga e Gucci, teve alta de 25,8% — sendo boa parte disso do mercado asiático.
"O 'revenge shopping' ou 'consumo de vingança' é uma expressão que vem ganhando espaço na mídia", explica Mariana Santiloni, Expert do Futuro da WGSN (Empresa líder em tendências de comportamento e consumo), para Nossa. "Espera-se que o mercado se aqueça bastante depois que o surto do coronavírus estiver sob controle e as restrições de movimentação forem relaxadas".
Provavelmente, o aumento na compra desses itens de alto luxo ocorreu pelo fato de serem considerados bens difíceis de se comprar online. Itens como, por exemplo, relógios e joias, bem como fragrâncias, cuja experiência de compra física não pode ser reproduzida nas plataformas digitais.
"Esse agrado pessoal e o desejo reprimido de gastar impulsionarão a tendência no curto prazo, mas os varejistas devem estar cientes de que esse não será um comportamento amplo e não deve ser considerado como fator para impulsionar as vendas no longo prazo", complementa Mariana.
No entanto, ainda existe um sentimento de incerteza. De acordo com a S&P Dow Jones Indices, o Brasil está entrando na maior recessão em 120 anos e a taxa de desemprego entre os jovens é de 26,9%.
O termo "incerteza pandêmica" foi bastante usado para descrever como nos sentimos em 2020, desta forma o consumidor vai seguir por um tempo com mais cautela.
Sobre isso, a expert pontua: "Há um outro sentimento que estimula o consumo cauteloso em nível global parecido com aquele que dominou as pessoas após a crise financeira de 2008: a culpa. Algo como 'não pareceu certo gastar dinheiro no atual contexto social'".
De qualquer forma é a necessidade tanto física quanto mental de interação humana que estimulará o retorno à vida normal".
Marina Santiloni
O pós-conforto
Romance, techno e o fantasioso são algumas das apostas das grifes para criar uma nova era além do nosso homewear. Nas passarelas, as três principais propostas da última temporada de desfiles (Outono/Inverno 2022) são a alta do conforto, a recontextualização da moda escritório e o retorno do desejo de se arrumar.
Após um ano de lockdowns pelo mundo, o conforto tornou-se uma qualidade indispensável na moda, o que explica as malhas terem crescido +103% nas coleções dos desfiles do O/I 21/22 e a volta dos tricôs também destaca esse desejo de aconchego. Em paralelo aos caimentos confortáveis, é possível observar um clima otimista e o retorno do desejo de se arrumar e celebrar.
As marcas apostaram em hyper texturas, paetês, bordados, acabamento acetinados, plumas e modelagens justas também sinalizam otimismo para as roupas de festa. Comprimentos mais curtos e nas cores vibrantes também ganharam destaque nos looks "volta a festa".
A pegada confortável aumenta o sucesso de itens como o body, no qual recortes interessantes substituem detalhes de festa tradicionais como os enfeites.
"A recontextualização da moda escritório faz com que estilistas deixem de lado a alfaiataria requintada focando ao invés disso no styling hi-lo e nos detalhes que priorizam o conforto", opina Mariana.
O revenge shopping pode ser sustentável?
Atualmente, de acordo com a ONU, a indústria da moda é responsável por mais emissões de carbono do que o transporte aéreo e marítimo juntos. Ter ações em ESG é essencial para esse setor, as marcas precisam ir além do marketing e não cair no Greenwashing.
Agora, mais do que nunca, é necessário que as soluções sustentáveis sejam acessíveis e práticas, e tragam os mesmos benefícios que as alternativas atuais. As marcas precisam cada vez mais pensar em reduzir o desperdício, facilitar a reciclagem, reparar, reutilizar e reaproveitar.
"Para a moda, priorizar o ciclo de vida do produto é o futuro", aponta Mariana.
É cada vez mais importante criar pensando na longevidade da peça, e isso vale ainda mais para itens essenciais do guarda-roupa como peças atemporais. Invista em tecidos duráveis e premium para criar peças que valem o investimento".
É previsto que até 2029 o mercado de revenda ultrapasse o fast fashion em vendas. E o e-commerce de luxo também apresenta alta com os leilões online, proporcionando uma alternativa para os clientes que não podem fazer compras nas lojas físicas.
O site de revenda de luxo The RealReal fez parceria com marcas como Gucci e Burberry. Desde que a pandemia do coronavírus se iniciou, a procura por marcas como Gucci, Louis Vuitton e Chanel no TheRealReal tem crescido regularmente.
A procura por produtos da Gucci aumentou em 19% no úlltimo semestre de 2020 quando comparado com o mesmo período no ano anterior.
"Veremos cada vez mais novos tipo de negócios: upcycling, slow fashion, locação e revenda. Essas estratégias também permitem aos varejistas ter uma nova fonte de receita e desenvolver uma relação de fidelidade com o público", conclui a expert.
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