Estilo de vida nórdico na prática: casal finlandês defende casa com "alma"
O inverno no Norte do mundo é severo e a neve compõe o cenário da maioria das paisagens e reflete o pouco de luz nos dias escuros. É justamente neste período do ano que os nórdicos e escandinavos da Dinamarca, Suécia, Noruega, Islândia e Finlândia se entocam em suas casas e desfrutam pequenos prazeres do cotidiano.
Todos adotam esse estilo de vida, principalmente no inverno. Desde o ano passado, porém, durante períodos de confinamento na pandemia, apreciar momentos na própria casa fez parte da rotina em mais estações do ano. Adeptos deste estilo de vida, o casal de designers finlandeses Saana Sipilä e Olli Sallinen (34 e 37 anos, respectivamente) mostram a Nossa que a moda escandinava não faz sentido somente na decoração.
O refúgio que eles chamam de casa é uma centenária moradia em Turku, na cidade mais antiga da Finlândia. E é nela que um dos costumes locais mais característicos acontece: passar muito tempo em casa.
É raro as pessoas irem a restaurantes e encontrarem pessoas na rua", explica Saana.
Entre os bons hábitos que na pandemia eram somente comuns e depois se estabeleceram, em alguns momentos, como regra, estão a leitura, convivência à luz de velas e os longos banhos de banheira — uma opção para a dupla acostumada com as saunas, outra tradição de lá.
Conforto escandinavo
Pelo retrato desta rotina nos posts do Instagram, não é difícil se convencer de que Olli e Saana vivem mesmo na nação mais feliz do mundo - a Finlândia detém o título pelo quarto ano consecutivo, seguindo o Relatório Mundial da Felicidade, da Organização das Nações Unidas.
E eles estão cercados por vizinhos que também ocupam as primeiras posições no ranking — sendo a Noruega a última na lista entre as nações nórdicas, em oitavo lugar.
É claro que as condições sociais mais justas aliadas com um sistema de saúde e educação de qualidade para todos contribuem para as ótimas posições. Mas o estilo de vida e, por que não, o design e a arquitetura também explicam o motivo da felicidade.
De cinco anos para cá, o modo de viver escandinavo se tornou uma tendência no mundo, mas foi a Dinamarca que levou o crédito com o termo hygge (se pronuncia "hue-guê"). O conceito é de difícil tradução, mas a palavra pode ser descrita como uma sensação de aconchego e acolhimento.
Hygge já foi tema de livros e muito utilizado em propagandas de velas, meias e cobertores. O significado, porém, é mais simples do que se imagina. Significa apreciar atividades aconchegantes como tomar uma bebida quente, montar um quebra-cabeça ou até mesmo ler um livro enrolado no cobertor.
Embora cada país nórdico tenha as suas peculiaridades e nomeie o conceito de formas diferentes, todos compartilham dessa experiência e sentimento.
Donos de uma marca própria, Saana e Olli traduzem muito bem o conforto em coleções de almofadas, lençóis, pijamas e toalhas de mesa — peças acolhedoras e aconchegantes, bem no estilo escandinavo. Os designers criam estampas desenhadas à mão em tecidos sustentáveis feitos de cânhamo, a mesma fibra da maconha, cultivado na Finlândia.
Móveis vintage com histórias
Por morarem em uma casa de madeira construída há 105 anos, localizada no topo de um cemitério viking, eles nunca planejaram acomodar móveis novos ou fazer uma grande reforma.
Há quatro anos, trouxeram o que tinham e se adaptaram conforme a necessidade. Mas isso não significa que a casa seja improvisada.
O edifício com pé-direito alto repleto de plantas dá uma sensação de selva e combina muito bem as tábuas de madeira no piso antigo. Assim como os objetos da sua coleção, a casa da dupla é um tanto minimalista com cores terrosas.
Os designers seguiram a intuição para decorar e cada móvel foi estrategicamente pensado para um canto diferente.
Com exceção de uma lâmpada, todos os objetos foram comprados em feiras de móveis usados, doados por amigos e até mesmo encontrados no lixo.
Gostamos das coisas que têm história e que são feitas com bons materiais", conta Saana.
Minimalismo com estilo
Os escandinavos costumam fazer da sua casa um abrigo aconchegante para os dias frios com uma pitada de toque pessoal, explica a arquiteta norueguesa Hilde Nessa. É daí que vem o conhecido minimalismo escandinavo.
Tudo o que as pessoas têm dentro de casa representa quem elas são. Por isso não colocamos tantos objetos em casa", revela.
O design nórdico enfatiza linhas e formas simples inspiradas na natureza e no clima da região. Mas não é só sobre estética. Ambientes com poucos móveis e objetos permitem que a luz do sol ocupe mais espaço dentro das casas.
Segundo Hilde, o segredo para criar uma casa aconchegante depende de certos elementos e materiais como móveis de madeira, plantas e velas, explica Hilde.
Já os designers Olli e Saana prezam por objetos garimpados em antiquários. "Os nossos móveis são de segunda mão. Encontramos ao longo dos anos."
O minimalismo é interessante, mas é preciso cautela. "Valorizamos o espaço vazio na nossa casa, mas no geral achamos o minimalismo moderno um pouco sem alma", revela o casal. É por isso que a dupla se inspira no artesanato folclórico finlandês, tanto nos seus produtos quanto na sua casa.
"A arquitetura e o design dependem de fatores culturais e geográficos", explica Hilde. De nada adianta comprar muitas almofadas e velas em uma cidade quente, por exemplo. "O essencial é que a arquitetura e o estilo funcionem de acordo com a sua região", defende.
E, claro, tão importante quanto é incluir o seu toque pessoal. Poderia o borogodó brasileiro ser a próxima tendência de estilo de vida? A ver.
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