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Rio Araguaia, em Goiás, é cenário de expedição aventureira e isolada

Descida em botes é passeio que revela um lado diferente do Rio Araguaia, em Goiás - Júlio Vieira/ Divulgação
Descida em botes é passeio que revela um lado diferente do Rio Araguaia, em Goiás
Imagem: Júlio Vieira/ Divulgação

Eduardo Vessoni

Colaboração para Nossa

29/05/2021 04h00

Tudo começou pela curiosidade de conhecer um Araguaia diferente.

Há mais de 15 anos, Nélio Carrijo convidou um tio pescador para navegar por uma região do rio ainda pouco explorada. Sempre a lazer, as viagens sem compromisso foram chamando a atenção de amigos e, o que era apenas um passeio em família, se tornaria uma das experiências turísticas mais inusitadas do estado.

Desde 2016, expedições descem o rio em botes infláveis, acampando em praias isoladas que emergem na beira do rio, durante a temporada de vazão das águas do Araguaia.

Esse trecho do rio é impressionante e precisava ser visto por mais pessoas. Então comecei a tomar à frente de toda a logística, me profissionalizando e formatando um produto turístico", relembra Carrijo.

Descida em botes no Rio Araguaia - Eduardo Vessoni - Eduardo Vessoni
Descida em botes no Rio Araguaia
Imagem: Eduardo Vessoni

Com mais dois mil quilômetros de extensão até sua foz no Rio Tocantins, onde o Cerrado se encontra com a Amazônia, esse marzão de águas se estreita em corredores de rochas talhadas dos cânions do Araguaia que findam em praias de areia, onde são montados os acampamentos, ao final do dia e em diferentes pontos do rio.

É tudo tão inédito por ali que nem os próprios goianos de cidades ribeirinhas costumam conhecer essa versão do rio.

"Eu nem sabia que tinha cânions lá, nem que eram tão bonitos. Fiquei surpreso porque é diferente de todo o Araguaia que o povo só conhece por conta das praias [de rio]", conta o administrador de empresa, Alex Martins Cardoso, em entrevista para Nossa.

Turistas se surpreendem com as paisagens reveladas ao longo do trajeto pelo Rio Araguaia - Eduardo Vessoni - Eduardo Vessoni
Turistas se surpreendem com as paisagens reveladas ao longo do trajeto pelo Rio Araguaia
Imagem: Eduardo Vessoni

Cardoso mora em Mineiros, cidade que abriga a nascente do Rio Araguaia, que brota discreto em uma propriedade particular da zona rural desse município no extremo sudoeste de Goiás, no limite com o Mato Grosso e bem próximo do Parque Nacional das Emas.

Tem umas cachoeiras lindíssimas, formadas pelas águas dos afluentes do Araguaia. Eu não imaginava ver uma cachoeira caindo dentro de um rio", completa.

Rio abaixo

A partir da minúscula Baliza, município com pouco mais de 5 mil habitantes, a desconcertante muvuca do verão nas praias urbanas dá lugar a setores isolados do Araguaia, onde águas, naturalmente, mornas escorrem por paredões esculpidos, cachoeiras deságuam dentro do rio e trilhas seguem pelo interior daquela antiga zona garimpeira.

Cachoeira no Rio Araguaia - Júlio Vieira/ Divulgação - Júlio Vieira/ Divulgação
Cachoeira no Rio Araguaia
Imagem: Júlio Vieira/ Divulgação

A viagem começa na Barra do Rio do Peixe, em frente a Ribeirãozinho (MT), e segue 60 quilômetros rio abaixo, ao longo de três dias, em botes para até 5 pessoas, incluindo um monitor para quem não se sente seguro para encarar algumas das corredeiras de classe II (iniciante) que surgem ao longo da travessia.

"O próprio Araguaia já é um atrativo. Ele vai ganhando forma e volume para depois ir estreitando em canais que chegam a 4 metros [de uma margem à outra]", descreve Cardoso, que destaca a natureza preservada e isolada daquele trecho do rio.

Aventura pelo Rio Araguaia leva três dias - Eduardo Vessoni - Eduardo Vessoni
Aventura pelo Rio Araguaia leva três dias
Imagem: Eduardo Vessoni

Para o idealizador Nélio, a viagem é uma mistura equilibrada que vai da adrenalina nas corredeiras a passeios tranquilos em meio à natureza, "desconectado de tudo".

Por mais aventureira que possa soar, a experiência é procurada por casais e famílias com crianças a partir de sete anos, provenientes não só de Goiás, mas também do Mato Grosso, Brasília, São Paulo e Paraná.

Acampamento no Rio Araguaia  - Júlio Vieira/ Divulgação - Júlio Vieira/ Divulgação
Acampamento no Rio Araguaia
Imagem: Júlio Vieira/ Divulgação

Atualmente, a descida de rio costuma ser com grupo de até 30 passageiros, recepcionados por uma equipe formada por cerca de 15 pessoas, incluindo guias e pessoal de cozinha, abastecimento e até um responsável que cuida, exclusivamente, da manutenção dos banheiros químicos.

"É um desafio porque a gente tem que servir o melhor serviço possível, em locais que não têm água tratada, banheiros fixos, nem energia. Tudo precisa ser adaptado", explica Carrijo, que conta inclusive com uma equipe de terra que cuida da logística da expedição, enquanto os passageiros seguem pelo rio.

As expedições (@trilhasdocerradotur) acontecem entre julho e outubro, quando as águas do rio estão mais baixas e com boa visibilidade.

Viagem que transforma

Alex Martins Cardoso e a esposa em uma das corredeiras do Rio Araguaia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Alex Martins Cardoso e a esposa em uma das corredeiras do Rio Araguaia
Imagem: Arquivo Pessoal

Desacostumado a acordar cedo e há anos sem acampar, Alex confessa que, no primeiro dia de acampamento, sofreu um pouco com a estrutura mais rústica da experiência, mas foi se acostumando ao longo da travessia.

"A gente vai se sentindo em casa e acaba formando uma família durante a viagem. É aquela história de sair da zona de conforto, né?", analisa.

Cardoso lembra também que ficou reticente quando a esposa fez a proposta para participar, já que ele "não gostava de ir para o mato, montar barraca e tomar banho de rio". Mas acabou se convencendo e resolveu tentar.

Alex Martins Cardoso e a esposa em uma das cachoeiras do Araguaia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Alex Martins Cardoso e a esposa em uma das cachoeiras do Araguaia
Imagem: Arquivo Pessoal

Não só tentou como já encarou duas vezes a descida de rio em um bote inflável.

É até difícil imaginar isso, hoje em dia. Parece outro planeta, isolado do mundo e, ao mesmo tempo, tão perto", completa.

Para ele, porém, mais do que uma viagem inédita, foi algo transformador.

"A experiência foi minha porta de entrada para o mundo do meio ambiente, do ecoturismo e do esporte de aventura. Foi muito importante para mim", conclui Alex.