"De férias" no Brasil, baleias-jubarte animam retomada do turismo no país
Elas são imensas, exibidas e acrobáticas. E podem até favorecer o turismo brasileiro. Comuns no Atlântico Sul, entre junho e novembro, as baleias-jubarte estão chegando mais cedo à costa brasileira e em uma área cada vez mais ampla.
Só nas últimas semanas, antes mesmo da abertura da temporada oficial de observação, essas gigantes de áreas antárticas já foram avistadas até em destinos paulistas como Peruíbe, Guarujá e Ilhabela.
Em entrevista exclusiva para Nossa, o biólogo Sérgio Cipolotti acredita que o fenômeno é um reflexo da recuperação populacional desses animais, causada pela proibição internacional da caça comercial de cetáceos, em 1986, e do trabalho de diversas instituições.
"Esse número vem crescendo 10% por ano, o que é muito bom para uma taxa ecológica", comemora Cipolotti, que também é coordenador operacional do Projeto Baleia Jubarte, com unidades em Vitória, no Espírito Santo, e em Caravelas e Praia do Forte, ambas na Bahia.
Quando o projeto começou os trabalhos no litoral baiano, em 1988, as baleias eram consideradas vulneráveis e sua população em águas brasileiras não passava de dois mil indivíduos. Atualmente, a estimativa é de 20 mil só no Brasil.
Ganham não só as baleias, mas também a indústria do turismo nacional, cuja observação do animal tem se expandido para destinos como Salvador, Morro de São Paulo, Itacaré, Porto Seguro e Cumuruxatiba, distrito de Prado, no litoral sul da Bahia.
Turismo de observação
Mais do que fomentar pesquisas e educação ambiental, projetos de preservação incentivam também o turismo de observação de baleias e agregam valor econômico, criando assim novos atrativos em locais que não costumavam receber esses animais.
Em pleno inverno brasileiro, são praticamente três meses de operação em um trecho litorâneo que não costuma ter tanto movimento turístico, sobretudo entre julho e outubro.
Estamos investindo no turismo regional, desde Ilhabela, em São Paulo, até a Praia do Forte, na Bahia. Esse ano, as operadoras devem ter oportunidade de trabalhar com turistas nacionais", avisa Sérgio Cipolotti.
Embora ainda não seja possível confirmar, a pandemia parece ter favorecido ainda mais a circulação de baleias por aqui.
"Certamente, a redução do número de embarcações de pesca e de turismo deve trazer benefícios e bem-estar aos animais, a médio e longo prazo. Mas de um ano para outro ainda não pudemos confirmar nenhuma mudança", analisa o biólogo.
Cipolotti acredita também que, nas próximas temporadas, a queda de barreiras criadas por redes de pesca deve evitar colisões, favorecendo assim a interação com os animais.
E quem já presenciou uma bióloga se emocionando ao ver uma baleia se erguer diante da proa de uma embarcação sabe que isso não é exagero.
É uma sensação indescritível pois aquele gigante tão pacífico nos mostra a nossa pequenez como seres humanos. Lágrimas de alegria são inevitáveis", descreve a Nossa a mestra em zoologia, Luciana Fuzetti.
As jubarte são conhecidas por serem animais dóceis, curiosos e com comportamento tanto de superfície quanto aéreo, incentivando a observação de saltos, batidas de cauda e demonstração de nadadeiras peitorais.
Mesmo com uma experiência de 15 anos como instrutora de mergulho no arquipélago de Abrolhos, Luciana acredita que cada encontro é único e segue se emocionando como se fosse a sua primeira vez naquele paraíso de baleias, no sul da Bahia.
E por que as baleias vêm para o Brasil?
As jubarte podem ser observadas em todos os oceanos do mundo, mas são populações diferentes. Enquanto as do Hemisfério Norte migram do Ártico, como as encontradas na Islândia, por exemplo, as daqui vêm da Antártica, onde se alimentam de krill (crustáceos semelhantes a pequenos camarões).
As jubarte que migram para cá estão em busca de águas rasas e seguras para reprodução, criação e amamentação de filhotes.
"Costumamos dizer que todas as baleias do Atlântico Sul são baianas e brasileiras", brinca Cipolotti. Com um ciclo reprodutivo de 11 meses, as jubarte se acasalam no Brasil e, na temporada seguinte, voltam para criação e amamentação dos filhotes.
Assim como explica o biólogo, as águas daqui garantem a proteção dos recém-nascidos, que ainda não contam com camada de gordura espessa e não ficam tão expostos como nas áreas mais profundas do oceano.
Com cerca de 15 metros de comprimento e até 40 toneladas de peso, as mães jubarte chegam a oferecer 100 litros de leite por dia, quantidade ideal para que os pequenos gigantes criem estrutura corpórea suficiente para a viagem de volta à Antártica, quatro meses depois das férias no Brasil.
Já no Continente Branco acontecem o desmame e as lições para que os filhotes aprendam a procurar o seu próprio alimento.
E, enquanto a pandemia não dá pistas de quando deve chegar ao fim, baleias e filhotes seguem passando férias em águas mornas do litoral brasileiro.
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