Quando o branco deixou de ser parte do luto e passou a vestir as noivas?
Enquanto muitos de nós vemos a cor preta como representação do luto, pelo menos no Ocidente, a história mostra que nem sempre foi assim — pelo menos, exclusivamente. O branco, antes de vestir as noivas, era considerado um dos tons para esse momento de perda e, depois de um acontecimento em especial, passou a ser o pilar para que (quase) todos os vestidos aderissem a essa uniformização.
Para a contextualização, é preciso voltar no tempo.
Na Era Vitoriana (1837-1901), a morte era interpretada de uma forma diferente. Na época, a cada 20 crianças, três morriam antes de completar seu primeiro ano — no século XIV, a expectativa de vida era de 30 anos. Logo, não era nada incomum que se passasse de um período de luto imediatamente a outro.
Esse momento era regrado por diversas etiquetas. No entanto, a mais valiosa delas estava relacionada ao vestuário.
Sua cor oficial era o preto, reconhecidamente a cor da ausência de luz e de vida. Porém, não era a única. O branco era utilizado em punhos e colarinhos, já que a roupa branca íntima sempre carregou consigo os significados da pureza da alma. Já os tecidos deveriam ser discretos como o algodão ou a lã, nunca brilhantes ou chamativos, caso do cetim, da seda e do veludo.
Para os cadáveres de mulheres e crianças, o mais indicado era o branco ou as cores suaves, angelicais e delicadas, como as utilizadas em vida. Por outro lado, os homens eram enterrados com roupas sociais e que utilizavam em festas.
O branco, por sua vez, também fazia parte dos vestes do chamado "meio-luto" — período de "tristeza profundo", flexível em sua duração, mas que normalmente durava até alguns meses após a morte do marido. Apesar disso, a exemplo da rainha inglesa Vitória, muitas viúvas adotavam o meio-luto pelo resto de suas vidas.
E foi justamente a rainha, que deu nome ao período em questão, quem transformou a cor, que fazia parte dos trajes do luto, para uma tendência nos casamentos até hoje.
Antes de Vitoria, os vestidos de noiva eram feitos nas cores da moda da época. Mas a rainha decidiu se vestir de branco quando se casou com o seu primo, o príncipe Albert de Saxe-Coburg, em 10 de fevereiro de 1840, com um vestido desenhado por ela mesma.
"Ao longo dos séculos, as noivas que se interessavam por moda costumavam se casar em cores diferentes", disse a pesquisadora Edwina Ehrman à BBC. "E elas iriam usá-los muitas vezes depois, alterando-os ao longo dos anos para se adequar à moda, ou para se adequar a uma figura em mudança".
O traje de Victoria era considerado muito restrito para os padrões reais: sem a coroa e mantos de veludo enfeitados com arminho. E como na época o branco era considerado uma das cores do luto, era visto como uma tonalidade "inadequada para o casamento".
Apesar de todos pesares, a rainha se casou como queria.
Usei um vestido de cetim branco, com babados profundos de renda Honiton, uma imitação de um design antigo. Minhas joias eram meu colar e brincos de diamantes turcos e o lindo broche de safira do querido Albert."
Relato da rainha Vitória em um dos 122 volumes do seu diário.
Menos de uma década depois da união, a Godey's Lady's Book, revista feminina norte-americana influente para a classe média-alta na época, decretou: "O costume decidiu, desde a mais tenra idade, que o branco é a tonalidade mais adequada [para o casamento], qualquer que seja o material. É um emblema da pureza e inocência da infância e do coração imaculado que ela agora entrega ao escolhido".
Com as mulheres americanas seguindo estilos definidos pela jovem rainha, o vestido de noiva branco se tornou uma questão de status, que sobrevive até hoje.
Por fim, vale lembrar que Vitória também escolheu branco para suas 12 damas de honra. Da mesma forma, mais recentemente, Pippa Middleton chamou a atenção da mídia ao usar um vestido branco como dama de honra no casamento entre a irmã, Kate Middleton, e príncipe William.
Fontes: "A dor manifesta: vestuário de luto no século XIX" (2009), Juliana Luiza de Melo Schmitt; "O Descer da Idade Média" (1924), Edward Arnold.
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